Capítulo 65

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AMANDA

Olho para as paredes buscando pelas respostas que minha mente inquieta procura. Já fazia quantos dias? Quantas semanas? Caminho em círculos pelo quarto e olho com indiferença para o prato de patacones na mesinha. Minha barriga faz um sonoro barulho, não de fome, mas sim de enjoo, eu estava muito enjoada nesses últimos dias.

Às vezes quando o silêncio era demais eu terminava por bater incessantemente na porta, mas tudo era em vão. Só havia duas vezes ao dia em que aquela porta era aberta e geralmente era quando vinham me entregar o almoço ou a janta. Desde que eu havia passado a ignorar a presença de J Balvin, dando lhe as costas e não lhe direcionando a palavra quando ele vinha me visitar, ele tinha parado de vir. Isso já fazia uns poucos dias. Parte de mim, aquela que realmente pensou ama-lo sentia sua falta, mas a mulher que eu sou agora após esse inferno que eu estava passando queria vê-lo no inferno, queimando como o filho da puta que ele é.

Pego o prato de patacones e entro no banheiro jogando-os no vaso e dando a descarga, observo a dificuldade que eles tinham em passar pelo buraco e sinto-me como o patacon, lutando em vão contra a corrente antes de desistir e ser levada pelo buraco. O cheiro que sobe de queijo no ar deixa-me parcialmente tonta fazendo-me sentar no vaso e respirar profundamente. A sensação que eu tinha era que eu poderia pintar o quarto inteiro com vômitos e por mais que eu tentasse vomitar, não havia nada em meu estomago para que o refluxo subisse.

Coloco minha cabeça em minhas mãos e olho para meus pés descalços, minhas unhas estão grandes e o esmalte bege de semanas atrás estava descascando. Ouço a porta do meu quarto sendo aberta, mas não faço questão de mover-me de minha posição. A pessoa caminha lentamente e para na porta do banheiro, resolvo levantar a cabeça e vejo J Balvin vestido com um terno preto, seu rosto esta opaco e sem expressão como se ele tentasse profundamente manter uma fachada acima de suas emoções.

Uma rosa branca esta em sua mão o que me faz piscar desnorteada. Seria possível que? Não! Não podia ser. Lembro-me de sua mãe dizendo o quanto amava essas flores. Encaro seus olhos cansados e sem vida, como se um pedaço de sua alma tivesse sido arrancada. Minhas pernas me fazem levantar quase sem querer e pela primeira vez desde que eu havia mandado ele sair de minha vida para sempre, declarando-o como um morto, eu o encaro nos olhos e volto a olhar para a rosa branca.

_J B.... alvin – sussurro e sua mão treme levemente.

Trago-o para meus braços e em uma fração de segundos como uma gota de água em um copo cheio, foi apenas o que bastou para o homem em minha frente... transbordar. Ele agarrou-se em meu corpo como se eu fosse seu ar para respirar. Seus ombros tremiam muito com o choro devastador que ele soltou. Seus braços fortes apertavam-me, mas não fiz nenhum movimento para manda-lo embora. Esse era um homem quebrado em meio a uma tempestade infinita.

_O que eu vou fazer? – gagueja ele sem parar, uma e outra vez, fungando em meu pescoço.

Consigo livrar um de meus braços e alinha-lo junto ao meu corpo que foi descendo junto a ele ao chão, como uma pequena criança buscando consolo ele enroscou-se em meus braços. Passo a mão por seu cabelo e o sustento firme com um braço enquanto estou cantarolando uma antiga canção, sem letras em pequenos sons. Minhas lagrimas começam a escorrer por meu rosto e se une a seu choro desesperado. Apesar de odiá-lo uns 80% eu jamais ficaria indiferente com alguém que havia acabado de perder uma mãe.

_O que eu vou fazer? – continua ele naquele limbo tormentoso.

Ficamos ali no chão por muito tempo, minhas pernas dormentes formigavam enquanto minha bunda dolorida beliscava-me com um desejo insano de que eu ficasse em pé. Quando J Balvin por fim parou de chorar o silêncio entre nós era doloroso. Arrisco olhar para baixo e o que vejo deixa-me confusa. Como um menino perdido ele olha para a parede enquanto brinca com uma mecha de meu cabelo, passando-a por seus dedos.

Livro 1 - Doce TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora