AMANDA
Daniela. A palavra ecoava sobre minha cabeça como um demônio sorridente a causar o mal. Ando de cabeça baixa pela rua encarando meus próprios pés. O vento frio da noite fere minha pele e o único som que escuto é o da minha própria respiração entrecortada. Eu tinha ficado estática na cama ao ouvi-lo dizer o nome de outra mulher enquanto ainda estava dentro de mim. Quem era ela? Ele tinha transado comigo pensando nessa mulher? Era obvio que mesmo não aparentando estar bêbado ele devia estar de certa forma, todos aqueles copos vazios na boate tinham que significar alguma coisa. Ele nunca esteve comigo naquele momento, eu sempre estive só.
Mas eu era muito "bobinha e ingênua" como dizia Anitta. Ela estava certa. Meus ombros se chocam com um estranho na rua, seu xingamento passa longe de meus ouvidos como algo distante e desconexo e continuo a andar. Não sei para onde estou indo, não sei se consigo parar, meus pedaços soltos estão assombrando-me com a oportunidade de estar sozinha e imóvel. Não sei se conseguirei levantar quando os pedaços finalmente caírem.
A dor em meu coração se expande para todos os músculos de meu corpo, era tão intenso que eu sentia no ar, no próprio oxigênio a impulsionar-se em meus pulmões. A rua era escura iluminada com vagos pontos amarelos dos postes de luz. Alguns deles pareciam falhar quando eu passava e finalmente, quando uma lagrima suicida-se por minha face eu tenho coragem de levantar meus olhos para o céu. Será que existia alguém nesse mundo sofrendo como eu nesse momento? Será que nós conseguiríamos voar? Voar para longe de tudo e todos. Será que iriamos sobreviver à dor?
Ele não me amava, ele amava Daniela. Meu ventre está dolorido conforme forço minhas pernas a continuarem. É pior do que cólica, era pior do que luto, era pior que o fim. Choro finalmente pela rua, meus braços juntam-se a minha volta em uma tentativa inútil de me manter inteira. Continuo perseguindo, tento com fé encontrar, um motivo, uma meta, um objetivo, algo que possa me fazer seguir em frente.
Não fomos feitos para estar juntos. Ama-lo não era o suficiente quando as batalhas constantes só tornavam-se cada vez mais difíceis. Por que eu? Por que eu Deus?
Estava perdida de corpo e alma. Consigo chegar ao hotel depois de várias horas caminhando sem rumo. O sol está despontando-se no céu e paro por um momento sem saber ao certo o que fazer. Estou confusa. Estou perdida. Finalmente meus joelhos fraquejam e vou ao chão no inicio da calçada do hotel. Lá eu acabo deitando-me e permaneço deitada olhando para cima, cansada demais para arrastar-me para meu apartamento.
Eu imaginava que era mentira, as mocinhas dos livros chorarem por um coração partido. Afirmava sempre que era frescura, que era mentira, ninguém poderia sofrer tanto assim por outra pessoa. Tinha apenas que seguir a diante, quantos finais felizes o mundo não proporciona? Quantas pessoas melhores ela não podia encontrar por ai? Então estar aqui caída fitando nuvens no céu sem conseguir me mexer devido a enorme dor que eu estava sentindo era patético e reflexivo. Sinto um de meus pés descalços e deixo minha mente vagar na tristeza sem preocupar-me em que caminho uma de minhas pantufas se perdeu. Quando fechou meus olhos finalmente não consigo abri-los mais.
_Amanda – a voz longínqua desperta-me – O que você está fazendo aqui?
Alguém esta pegando-me nos braços e o cheiro do perfume de J Balvin embarga-me. Enlaço meus braços em seu pescoço e choro. Meu corpo treme com o impulso forte e não me importo. Eu não conseguia parar a sensação, o sentimento, a torturante derrota. Prendia-me a J Balvin como uma pessoa desesperada que se afogava e tentava manter-se agarrada ao bombeiro em esperança de que este salvasse sua vida.
_Meu Deus, o que aconteceu com essa garota? – escuto a voz de Vargas passar por nós rapidamente – Infernos J Balvin eu não quero ser inconveniente, ela parece realmente muito mal, mas você tem uma entrevista agora.
_Cancele – diz J Balvin e sinto algo fechar-se sobre nós. Estávamos no elevador, droga. Eu não podia continuar fazendo aquilo com ele, não era certo. Eu deveria lidar com meus próprios problemas. Deixo meus braços soltarem-se de seu pescoço e encaro pela primeira vez seus olhos. Ele está serio e irritado e Deus, eu quero tanto parar de chorar – Você deveria ter ficado comigo. Esse é o grande problema de Maluma Amanda, ele não sabe cuidar do que tem, ele sempre estraga as coisas e ele sempre vai machucar você.
_Você – ouço minha voz sair rouca e abafada, consequências de minha tentativa de gritar a dor para fora de mim pela rua durante a madrugada – Não pode perder sua entrevista. Eu vou ficar bem.
_O inferno que você vai – rosna ele e o elevador se abre.
_Eu vou ficar bem – tento soltar-me de seus braços e ficar em pé, mas seu aperto intensifica-se e ele começa a caminhar em direção a meu apartamento.
_Eu vou ficar com você – sentencia ele e me dou por vencida sem forças para nada mais que respirar.
Fecho meus olhos e me entrego à inconsciência tentando aliviar a dor, mas meus sonhos fazem jus à realidade. O anjo me olha pacientemente abrindo suas asas negras, ele empurra-me para fora de sua nuvem e eu começo a cair, cair, cair. Imploro por qualquer coisa, imploro por mais um dia e peço forças para ficar bem quando atingir o chão porque depois daquele dia, eu era a morte, eu era a vida, eu era o escuro sombrio do desamor.
O amor é dor dizia o anjo. O amor é sofrer confirma outro. Mantenha seu coração forte disse o que me havia empurrado ao ver-me continuar a cair, pois depois do amor insistiu ele, só resta à dor.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Livro 1 - Doce Tempestade
FanfictionAmanda é uma garota brasileira de 20 anos que acabou de ganhar uma bolsa de estudos na Colômbia. Viver em um alojamento com outras brasileiras que só pensam em festas e homens estava prejudicando e deixando a decidida e certinha univer...