Capítulo 28

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MALUMA

Fazia exatamente cinco anos que eu não sabia o que era Natal, muito menos o Ano Novo. Na verdade era até engraçado – para não dizer caótico – o fato de que o conceito "passar as festividades em família" era tão distante para mim como o Diabo de Jesus Cristo. Chego a pensa na cara de minha família quando ver-me chegar em Arias pela primeira vez após um longo percurso.

Se bem me recordo – o que pode ter controversas, estava capengando de bêbado no dia – eu fui expulso de lá por bater a merda fora de Jhonatan Cañes, o filho da puta que ousou beijar a minha irmã – suspiro interiormente – Deus eu deveria ter batido mais nele. Manuela hoje já estava com seus vinte anos – a idade de Amanda – eu era realmente um cretino. Deus sabe que se Manuela estivesse envolvida com um cara como eu ele estaria enterrado no inferno em uma hora dessas.

Olho para meu quarto sentindo um imenso vazio, eu odiava aquele lugar. A frieza das paredes e dos moveis, o metal espelhado dos eletrodomésticos, o gigantismo dos cômodos. Mas aquela era minha prisão, "Para minha própria segurança" diria Lorenzzo. Como se eu tivesse medo de alguma coisa.

Residencial de merda – xingo ao pegar uma mochila do closet – realmente eu odiava viver aqui. Se não fosse Bonnie e Clyde esse lugar seria minha inteira prisão. A prisão bonita de um ferrado na merda. Apesar de estar fadado a esses muros longos não consigo me arrepender das coisas que fiz, todas me fizeram chegar a onde cheguei, criei Manuela, ajudei minha tia Yudy quando ela teve Romeo e Apolo. Sempre cuidei da minha família e agora eu teria que avisa-los que iria passar as festividades lá.

Droga. Disco para o telefone de minha tia. _Olá – grita ela distante do celular. Ouço gritos pela casa e sinto um sorriso abrir em meu rosto – Olá?

_Hey... tia – digo sem graça, quanto tempo eu não falava com ela mesmo? – Tudo bem ai?

_Pendejo de mierda! – xinga ela e ouço algo caindo no chão – Esqueceu que tem família! Uma ligação Juan! Uma ligação durante cinco anos! Eu vou arrancar suas bolas quando ver você outra vez!

É ela realmente iria. _Sobre isso mesmo que eu queria falar – confesso coçando minha cabeça. Aquilo era mais difícil do que eu imaginei que seria.

_O que? – grita ela mais alto e afasto um pouco o celular com um olho fechado. Deus aquela mulher me deixaria surdo.

_Posso hm... passar o Natal ai? – pergunto. A linha fica muda e por um momento escuto apenas os gritos de "Eu sou o Coringa" seguido de risadas maníacas distantes. Romeo e seus amigos botando o terror – Tia? Yudy?

_Você quer passar o Natal aqui? – pergunta ela seria – O que aconteceu? Você está ferido?

_Eu estou bem – giro meus olhos ao enfiar cinco pares de cuecas dentro da mochila – Se não puder...

_Não! – grita ela – Claro que pode! Somos sua família seu imbecil, você não deveria nem perguntar! Apenas apareça na minha porta.

_Queria garantir que não levaria um tiro – desconverso, eu colocava bermudas na mochila ou calças?

_Você vai sobreviver – diz ela – Romeo, seu primo Juan irá vir para o Natal.

Ouço um grito de empolgação e logo uma voz entra estridente no celular. _Maluma! – grita Romeo – Você vai vir pro Natal?

_Sim, senhor – respondo ao tacar umas quantas blusas na mochila. Vai caber, eu sei que sim.

_E a Manu também vêm? – pergunta ele empolgado.

_A Manuela sempre vai, você sabe disso – imagino seu cabelo cacheado ultrapassando seu rosto como um leão e sinto um sorriso espalhando-se por meu rosto – Como vão suas notas na escola?

_Vão bem – desconversa ele – Na verdade mamãe está chateada, fui muito ruim em matemática esse ano.

_Quanto? – pergunto ao imagina-lo sentado no sofá balançando suas perninhas. Não tinha reparado até hoje em quanto eu sentia falta daquele menino.

_Tirei seis, mas mamãe tem uma media de "Nada menor que oito", então eu tenho que melhorar – diz ele triste.

Minha tia Yudy era formada em licenciatura na área de Matemática, sua obsessão com números sempre foi um problema. Se ela reclamava dos seis de Romeo, isso me fazia pensar em quanto ela não queria me matar pelos zeros, quatros, três que eu sustentava em cada ano. Se não fosse os reforços nas férias – o qual fui obrigado a ir para manter minhas bolas – eu não teria me formado no ensino médio.

_Sua mãe é louca, você sabe disso – respondo ao fechar minha mochila e joga-la nos ombros – E Apolo como está?

_Dormindo, comendo e cagando feito um porco – diz ele com voz de nojo – Mamãe diz que é normal para um bebe, mas ele fede muito às vezes.

_Romeo não fale assim do seu irmão! – grita Tia Yudy enquanto dou gargalhadas.

_Mas ele solta pum pior que o papai! – questiona Romeo.

_Ele é um bebe ainda! – diz tia Yudy e Deus sabe que se ela estivesse com a colher de pau na mão aquela conversa não ia terminar bem.

_Hey Romeo, avisa la madre loca, que vou chegar hoje pela noite e... que estou indo com... uma amiga – digo ao baixar as escadas. Onde estariam as coleiras de Bonnie e Clyde?

_Mamãe! Maluma virá com a namorada também – grita Romeo.

_Ele vai o que? – grita ela aproximando-se do celular – Maluma você vai vir com u...

Desligo o celular e jogo-o dentro do carro. Coloco Bonnie e Clyde devidamente seguros no banco de trás e parto para o apartamento de Amanda. Ao menos ela já estava com as malas prontas. Para ir ao Brasil – meu cérebro esclarece – que se foda! Eu era egoísta de mais para prendê-la as próprias palavras. Ela tomou uma decisão, decidiu conhecer minha família ao em vez de eu ser jogado de paraquedas na sua.

Foi uma boa escolha afinal, nós dois sabíamos, que um pai de família jamais aceitaria um envolvimento como aquele, não como um Dirty Boy, muito menos o modelos ideal deles.

Chego em 20 minutos

Livro 1 - Doce TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora