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Antes que o carro contornasse a esquina que o levaria a residência dos Rak,  Gillian Solanno sentia o coração quase sair pela boca, afinal dois anos havia se passado desde a última vez em que estivera ali naquela mesma casa. E não era agradáveis as lembranças que tinha daquele dia.
Rememorar aquelas lembranças sempre trazia muita dor a Gillian, mas em nenhum momento quis que Jean participasse do drama que ele teve que enfrentar. 

O fim do namoro dos dois, foi um choque para ele,  Gillian sabia bem disso, mas para ele também não havia sido fácil, enfrentar a doença que o assolou e ainda ter que se manter afastado do grande amor da sua vida, não ele não se sentia culpado, embora muitas vezes teve vontade de jogar todo o tratamento para o alto e quase sucumbiu ao querer correr ao encontro de Jean e confessar que o amava, porém reunindo o máximo de força que tinha superou a sua própria ânsia, a carência que muitas vezes teve que ter determinação para vencê-la. 

Dois longos anos haviam se passado, dois anos de angustia inevitável, dois anos que pareceram séculos,  involuntariamente ele sentiu a garganta ressecada, talvez isso se devesse aos remédios excessivos que estava tomando pois as dosagens era demasiadamente fortes, mas não queria pensar naquela doença, não naquele dia, não no dia em que reencontraria Jean embora nem de longe imaginava como seria recebido. 
Não fazia menor ideia do que realmente estava preste a acontecer naquela noite, Stephanny havia lhe enviado o convite sabendo que ele havia retornado a cidade, no convite só dizia que era para ele comparecer em tal dia, tal horário em tal lugar para uma reunião de ex alunos,  e quando o carro estacionava na vaga Gillian desceu do carro dispensando o motorista, no exato momento uma leve vertigem fez ele cambalear e se Douglas não o segurasse fatalmente ele iria parar no chão:

_ Hei cara, você está bem?

_ Sim, foi só uma tontura, nada demais.

_ Você está pálido, não acho que seja nada demais.

_ Tudo bem Douglas, eu só preciso respirar um pouco de ar puro, você pode ficar um pouco aqui fora comigo se quiser.

_ Claro, você não tem condição de entrar nesse estado, tá parecendo um fantasma. 

Ambos foram sentar-se no lado oposto da varanda que dava acesso para a entrada:

_ Sinto muito ter que se incomodar comigo Doug. 

_ Sem problema Gillian, podemos ficar aqui até se sentir preparado para entrar. 

_ Obrigado, voltar a essa casa é um pouco difícil para mim.

_ Eu entendo, vocês não se encontraram depois que terminaram não é?

_ Não. 

Dez minutos depois Gillian atravessava porta a dentro em companhia de Douglas, foi tão espontâneo o olhar com que todos os olhavam que Gill  sentiu como se um holofote estivesse virado em sua direção, seu olhar vagou levemente pelos convidados até encontrar aquele a quem tanto seu coração queria rever, Jean também o olhava, porém seu olhar era esquivo, sem expressão e quando viu que estava sendo observado logo tratou de desviar o olhar. 

Douglas se manteve ao seu lado em todo o momento, enquanto seus amigos lhe abraçavam saudosos, Stephanny era a mais animada com a sua chegada:

_ Gillian Solanno, como você ousa chegar de viagem  e não me procurar, eu não te perdoo por isso ouviu, vem cá e me dá  aqui um abraço. Venha vamos falar com todos, eles estão ansiosos para falar com você.

Gill andava ao lado de Stephanny conversando com um aqui outro ali até que chegou no grupo onde Jean estava, todos os olhares voltados para eles, todos ali sabiam do tórrido romance que levou exatos três anos e de repente o final banal que aconteceu deixou todos os amigos confusos, por isso Gillian nem estranhava aqueles olhares, mesmo que ficasse acanhado sendo observado por tantos olhares curiosos, mas compreendia afinal todos queriam saber qual  seria a reação de Jean, mas nem de longe a ansiedade de todos era maior que a de Gill: 

_ Olha quem acabou de chegar, Gillian Solanno, o grande galã da nossa turma_ Disse Stephanny: 

_ Oi pessoal, oi Jean.

No silêncio que se seguiu podia-se notar o olhar especulativo de todos, até que desenhando um sorriso deslumbrante no rosto Jean dizia:

_ Oi Gillian, fico feliz que tenha vindo, espero que se sinta a vontade, a bebida está no frigobar, você conhece a casa, fica a vontade.

_ Não, valeu, eu não bebo mais.

_ Que novidade, a dois anos atrás você era o mais alucinado de todos os seus amigos. 

_ Muitas coisas mudaram Jean.

_ Claro, mudanças com você é como uma troca de roupa, um dia está bem e no outro já não está.

Todos ali entenderam a indireta, Jean se referia ao término do namoro deles:

_ As vezes as mudanças são necessárias, as circunstância nos obrigam a mudar. 

_ Bem... Fica a vontade, acho que ainda se lembra da casa, não mudamos nada, eu vou falar com o Thiago que acabou de chegar. 

A saída de Jean, Gillian falou baixinho:

_ Foi um erro ter vindo.

_ Não pense assim, ele ainda gosta de você, e apenas está expressando de forma errada a mágoa por você ter terminado com ele, se para nós foi uma surpresa imagina para ele_ disse Douglas sorrindo para ele: 

_ Não pense que foi do meu desejo terminar com ele, mas eu tive meus motivos.

_ Então apenas conversa com ele, diga que ainda é apaixonado por ele, por que isso está escrito na cara de vocês dois que ainda se gostam. 

_ Eu não posso, não ainda. 

Jean passou a evitar estar perto de Gillian, mas mesmo a distância eles não conseguiam ficar sem trocar olhares, mesmo que Jean os abaixasse toda vez que seus olhos se cruzavam. 
Enquanto continuava a conversa com Douglas ele lhe dissera:

_ Ele não para de olhar para você, espera um instante, vamos apimentar isso um pouco.

Sem que tivesse chance de protestar Douglas tocava a face de Gill com as costas da mão e aproximava o rosto do seu insinuando que o beijaria, mas desviou os lábios para a orelha do rapaz a sussurrar:

_ Sorria, vamos fazer ele ter alguma reação, apenas sorria. 

Gillian dilatou a pupila e seu olhar foi diretamente em direção a Jean que o olhava cerrando o olhar, sorvendo de uma vez a bebida que estava em sua taça. Depois Gillian se virava para Douglas:

_ Não faça mais isso Doug, não é certo.

_ Desculpa, acho que eu quis te mostrar que ele ficaria com ciúmes, e acredito que acertei na mosca.

_ Não quero que ele tenha ciúmes, não vim aqui para isso. Como eu disse foi um erro ter...

Novamente a vertigem obrigou a Gill a se apoiar em Douglas para não cair, mas quem olhava de relance pensava que ele estava abraçado a  Douglas pois esse lhe segurava pela cintura. 

 

Meu ex - O tempo não paraOnde histórias criam vida. Descubra agora