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no tempo? Poderia voltar pra Jackson antes de ter machucado Wendy Lee.
Melhor ainda, poderia retornar a Caldecott County e me afastar de Cody de uma
vez. Mas que diabos, eu poderia percorrer o caminho todo até a comunidade
hippie e impedir que meus pais tentassem viajar até Far Banks!
Touch deve ter percebido a euforia cada vez maior no meu rosto.
— Anna Marie — ele disse, para, em seguida, se corrigir. — Vampira. Não é
assim.
— Como assim? Você só consegue ir pra frente e não consegue voltar? É isso?
— Não sei. Quer dizer, eu sei, mas não exatamente. É por isso que eu não
nos adiantei mais do que algumas horas.
Ele respirou fundo e, já tremendo, colocou seu chapéu de volta e ligou o
aquecedor. Eu não o impedi. Nem tirei meu chapéu, mesmo começando a suar.
Melhor sentir desconforto do que arriscar perder a explicação.
— Veja bem — ele recomeçou —, lá em casa, eu trabalho para o... Eu não
sei como vocês chamariam aqui, mas eu trabalho para o que chamamos de...
— Governo?
Ele sacudiu a cabeça.
— Não. Não exatamente. Nós o consideramos mais como um todo. Acho que
daria para chamar de Arcádia. Um lugar simples e quieto, onde todos têm o
bastante. Todos cumprem seus papéis. Eu crio formas alternativas de transporte.
Nosso mundo é pequeno. Muito, muito pequeno, pelo menos em termos de
massa corporal. Como eu lhe contei, é majoritariamente composto por água.
Água salgada. Então eu invento meios de transporte que passem por baixo d’água,
também pela superfície, e que possam ir às vezes até a outros planetas. Para
conseguir mais recursos.
— E que viajam através do tempo também — retruquei. Enquanto eu dizia
essas palavras, por algum motivo, senti medo de novo.
— Bem, sim. Mas isso é novo. Não o conceito, é claro, que começou em
nossos poemas e ficções primitivos. Mas ninguém jamais chegou a pôr em
prática. Eu estou desenvolvendo esse dispositivo e o trouxe comigo pra que ele não
caísse nas mãos erradas. — Ele virou os olhos como quem quisesse explicar
exatamente o que estava acontecendo mas não sabia como. — A verdade é que
não devemos falar sobre isso. Existem ideias, palavras-chave que os trarão até nós.
Até mesmo no seu idioma.
— Beleza, mas me deixe fazer uma pergunta.
Sua expressão pareceu um tanto dura, mas ele acabou concordando.
— Se Arcádia é um lugar tão calmo, qual é a daqueles caras explodindo
carros?
— Eles não trabalham para Arcádia.
— Mas você trabalha.
— Sim.
— Você veio pra cá a trabalho em nome de Arcádia. E agora aqueles caras
querem que você volte. É isso? Eles não querem te matar, querem só que você
volte.
— Sim. Pelo menos por enquanto. Uma hora ou outra, quem sabe, podem vir
a querer minha morte. Mas, por ora, querem apenas que eu volte.
— Mas você não quer voltar.
Ele se calou por um momento.
— Digamos que eu não queira retornar com eles.
— Então, por que parecia que eles estavam me perseguindo e não a você?
Ele hesitou por um átimo de segundo, tempo suficiente pra que eu
desconfiasse que ele estava formulando uma resposta. Aí disse:
— Eles tinham suas próprias munições. Mas eu também tinha a minha. Você
não. Talvez eles tenham pensado que, se capturassem você, eu me renderia.
— Foi você que desacelerou os movimentos deles? Você fez isso pra evitar
que eles usassem aquele lance de desmaterialização outra vez?
— Sim.
Levei minha mão até seu ombro. Ele deu um pulo, como se isso o tivesse
surpreendido um pouco.
— Desculpe — eu disse, baixando minha mão. — Não quis te assustar. É
que... estou feliz por você estar aqui. Comigo.
— Mesmo que isso possa acabar matando você?
Pensei comigo: Deixa eles tentarem. Touch tinha um olhar preocupado, com a
pele toda enrugada entre os olhos. Estava um pouco mais corado, mas ainda
assim parecia um tanto pálido.
— Posso ver o anel?
Esperei que ele dissesse não, mas enfiou a mão no bolso e tirou o anel.
Parecia bem ordinário, nem brilhava tanto. Touch olhou pras suas mãos como se
não soubesse ao certo se sentia orgulho ou se arremessava o anel pela janela do
carro.
— Vamos guardá-lo — ele disse, como se estivesse tomando as decisões
apenas vez ou outra. — Não quero arriscar ter de usá-lo a não ser em uma
emergência. A não ser que não haja saída.
— Ei! Ei, Touch.
— Sim, Vampira? — Pela primeira vez naquele dia ele parecia estar
relaxado, meio brincalhão até. Como ele era antes.
— Você não tem de ficar se preocupando com aqueles caras vindo atrás de
você ou não. Sabe por quê?
— Por quê?
— Porque eu estou aqui para proteger você. Lembra daqueles caras em West
Virginia? Só preciso de um taco de beisebol.
Ele sorriu e concordou. Na sua cabeça, tinha sido apenas uma piadinha, uma
maneira feminina de confortá-lo. Mesmo assim, pude notar, ele também ficou
bem mexido.
A não ser pra abastecer ou pra trocar de lugar vez ou outra, não paramos, e
seguimos dirigindo direto até escurecer. De repente, pareceu que Touch sabia
aonde estava indo. Não os nomes dos estados nem nada tão específico. Mas ele
estava bastante certo sobre a direção pela qual queria seguir.
— Oeste, siga rumo ao oeste — ele não parava de dizer.
Para alívio de Touch, tenho certeza, estávamos dirigindo de volta ao calor do
Para alívio de Touch, tenho certeza, estávamos dirigindo de volta ao calor do
Missouri e quase chegamos a Oklahoma. Eu não parava de pensar numa
maneira de desacelerar um pouco pra apreciar a vista. Caramba, só dar uma
voltinha por um zoológico ou coisa do tipo! Pelo menos eu tinha visto aquele
famoso arco quando passamos por St. Louis, que até então só tinha visto em fotos.
Apontei pra que Touch o visse e ele se animou por causa da minha excitação toda,
mas deu pra notar que não estava nadinha impressionado.
Estacionamos na frente de um McDonald’s, bem na saída de Joplin, e
ficamos parados lá no escuro do estacionamento. Touch enfiou a mão no bolso e
pegou a bola de luz azul que tinha o poder de sacar todo o dinheiro dos caixas
eletrônicos e fazer portas desaparecerem. Fiquei imaginando o que mais ela
seria capaz de fazer.
— A verdade é que eu deveria me livrar logo dessa coisa e do anel de uma
vez. Imaginei que seria o suficiente ter jogado fora só o tradutor. Mas é óbvio que
não. E, agora, ainda por cima, essa coisa acabou absorvendo uma das armas
deles.
— E isso não é bom?
— Eu não tenho como saber quais avanços eles obtiveram nos últimos
tempos.
— Mas, escuta aqui, você já disse que não dá pra gente se livrar do anel, vai
que rola uma emergência. É nosso último recurso. Alguém que esteja fugindo não
vai simplesmente jogar fora seu último recurso. E já que eles conseguem te
rastrear mesmo através da bola, você pode muito bem guardar o anel também.
Estiquei a mão pra pegar a bola azul-alaranjada que não parava de rodopiar.
Touch ficou olhando pra ela por um instante. Passou a mão por cima da bola,
como se isso o ajudasse a pensar melhor. Fechou os punhos em volta dela por um
minuto e, quando abriu a mão, eram duas bolas distintas novamente. Uma azul e
outra laranja.
— Uau, você é do tipo mágico...
Ele guardou a bola azul de volta no bolso. Depois me deu a laranja. Eu me
senti bem desconfortável ali, segurando uma coisa que destroçava carros e portas.
Já carregava poder destrutivo o bastante pra uma pessoa só, afinal.
— O que quer que eu faça com isso?
— Jogue no vaso e dê descarga.
Ele ficou esperando no carro enquanto eu arrombava a loja. Já no banheiro,
aquela coisa alaranjada ficou se debatendo de um lado pro outro como se fosse
um limpador supersônico de privadas. Fiquei esperando que o vaso todo se
iluminasse e talvez até desaparecesse enquanto a bola descia, mas isso acabou
não acontecendo.
Fui até a pia, joguei um pouco d’água no meu rosto e olhei bem no fundo dos
meus próprios olhos tão estranhos. Nos raros momentos em que eu me afastava
de Touch, todas as dúvidas tomavam de volta minha cabeça, dúvidas sobre tantas
coisas que ele tinha dito, o fato de que várias das suas explicações não faziam o
menor sentido. Peguei um papel toalha e enxuguei meu rosto. O papel era duro e
áspero. Minhas suspeitas provavelmente deviam ser minha porção Wendy Lee
falando mais alto, pois o que não faltava em seu histórico lamentável eram

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