esperando nosso tempo passar até que a verdadeira matéria-prima do planeta
emergisse e nos cobrisse pra todo o sempre.
E então, despontando no limiar do horizonte, surgiu um barco. Um veleiro
branco maravilhoso seguia direto na minha direção. Bateu-me uma ponta de
medo, junto com um fiapo de esperança.
Pensei em tudo o que Touch tinha feito por mim, como voltar no tempo pra
me tirar de Jackson. Mesmo prisioneiro, ele tinha dado um jeito de inventar um
traje pra que pudesse viajar ao longo dos anos e me encontrar. Será que um
homem que faz tudo isso por uma mulher a deixaria pra voltar aos braços da sua
esposa?
Pode apostar que sim, a voz de Wendy Lee disse dentro da minha cabeça.
Empurrei a voz de lado.
Confie em mim, ouvi em seu lugar.
A essa altura, já tinha certeza de que o barco estava mesmo se aproximando,
cada vez mais à vista. Apenas uma pessoa a bordo, olhando bem na minha
direção. Vestindo luvas, não por conta do frio, mas para que, quando parasse seu
veleiro ao lado da jangada, ele pudesse estender a mão e me ajudar a trocar de
embarcação.
Subi a bordo e fiquei no convés com Touch. Aí joguei meus braços em volta
do seu pescoço e enterrei meu rosto no seu peito, deleitando-me com a sensação
provocada por sua respiração, seu cheiro e, especialmente, seus braços me
envolvendo de volta com tanta força quanto eu. Talvez até um pouco mais. Era tão
bom que esqueci de todo o resto e até mesmo de pensar, mas acabei sendo
obrigada a lembrar que eu não podia beijá-lo, simplesmente o que mais queria
fazer no mundo.
Em vez disso, só ficamos ali abraçados, o mais forte que podíamos, até que
fosse um verdadeiro milagre nossos ossos não racharem sob tanta pressão.
Touch conduzia o barco e eu estava logo atrás dele, com os braços em volta
da sua cintura e minha bochecha acomodada logo abaixo da sua nuca, na parte
coberta pela camisa, em segurança. Era óbvio que eu tinha um monte de coisas
pra perguntar, mas o que eu queria saber em primeiro lugar não tinha nada a ver
com a política deste novo mundo.
— Ei, terráqueo — eu disse. Estava tão bom ficar ali quietinha só com ele de
novo, tudo tão tranquilo, que eu praticamente odiei a ideia de começar a falar.
— Sim, terráquea? — Seu rabo de cavalo fazia cócegas no meu rosto.
— Faz quanto tempo que eles te levaram do Arizona?
— Muito mais para mim do que para você.
Claro que ele deve ter pensado que eu ficaria contente com aquele muito
mais.
— Mas muito mais tipo quanto?
— Um ano? Talvez um pouco mais.
Um ano inteiro. Deve ter sido o quanto levou pro Rei ter me encontrado sem
a ajuda de Touch, vasculhando o tempo-espaço. Enquanto isso, pra mim, três dias
sem ele, e parecia uma eternidade.— É um bom tempo.
— É sim.
— Você chegou a pensar em mim?
— Todos os dias — ele disse. Não dava pra ver seu rosto, mas pude sentir um
sorriso irradiando da sua pele através da camisa e direto no meu rosto. Sorri de
volta.
— Você ficou feliz de me ver quando eles me levaram até você?
— Bem... a verdade é que eu passei um bom tempo tentando ao máximo
evitar que aquilo acontecesse. Mas o coração desconhece a razão, não é mesmo?
Eu não tinha como não ficar feliz de ver seu rosto. Porque eu te amo.
— Ainda?
— Sim. Ainda.
— E por que você simplesmente não veio comigo, então? Por que me
mandou pra cá sozinha? Fiquei morrendo de medo.
— Eu tinha algo a fazer antes disso.
— Cotton?
— Cotton.
Ele se virou e passou o braço por mim. Ele me suspendeu um pouco pra que
ficássemos ombro a ombro. Eu me debrucei sobre ele e, com a outra mão,
alcancei o timão. Sem perguntar nada, pressupus que estivéssemos indo em
direção à terra firme, e meus olhos simplesmente vasculharam o horizonte. Ao
mesmo tempo eu não estava nem aí se nunca mais pisasse em chão firme de
novo. Pra mim, tudo estava perfeitamente bem ali, com toda aquela água ao
redor e o céu derretendo sobre nossas cabeças e, os braços de Touch em volta de
mim e me puxando pra perto.
Dias antes e também dez mil anos atrás: o Rei encontrou Touch no Arizona e
o levou de volta pra casa.
Mas, antes disso, quando Touch veio para meu mundo, ele não estava a
serviço de Arcárdia. Ele vinha conspirando contra ela, assim como o Rei tinha
dito.
— Por que você não me contou?
— O que você teria pensado? Como teria confiado em mim?
— E é verdade todo o resto que ele me disse? — perguntei com muito
cuidado. — Que a única razão pela qual você veio foi pra me levar embora e me
usar como um trunfo?
— Sim — Touch disse. Acho que eu deveria ter ficado chocada com a
resposta. Mas sabia que não estaríamos ali, e que ele não teria respondido
daquela forma, se ainda fosse verdade. — Escute bem. Fui criado em meio a
certas ideias. De tudo o que tinha sido tirado de mim, de nós. De nossas famílias.
Meu pai vem planejando essa reviravolta por toda a sua vida. Ele tem me
preparado por toda a minha vida. Mas quando cheguei ao seu mundo...
— Você viu o que era — fui mais rápida. — Você chegou a Smith Park e viu o
que acontece num mundo onde as riquezas pertencem apenas a um pequeno
grupo.— Isso. E aí conheci você.
— E você se apaixonou.
— Isso — ele disse de novo.
— Alabaster me disse que você a chamou. E disse pra ela trazer os
wildebears.
— Eu queria que você ficasse mais forte. E queria que ela pensasse que eu
ainda estava tentando levar você embora, assim eles não viriam atrás de mim
com tanta frequência.
— E nas grutas subterrâneas?
— Não consegui pensar em nenhuma outra maneira de nos tirar de lá. —
Meu silêncio a essa resposta deve tê-lo preocupado, porque um pouco depois ele
acrescentou: — Eu te amo.
Pode me chamar de ingênua. Mas com certeza, naquele momento, essas
três palavras eram tudo o que eu precisava escutar. Acima das nossas cabeças,
um tom de rosa passou a pincelar o céu, e o sol, aquele sol tão brilhante, parecia
estar cada vez mais baixo. A boa e velha Terra de sempre. Eu era capaz até de
dizer em qual direção estávamos indo, observando o sol se pôr atrás de nós. O que
eu queria mesmo saber era qual parte do mundo estava por baixo de nós, embaixo
de toda aquela água.
E, ao mesmo tempo, eu simplesmente não estava nem aí. Eu tinha tudo de
que precisava no mundo bem ali naquele velho barco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
X- Men: OToque Da Vampira
Teen FictionEu não criei nada, sou grande fã da vampira assim como vocês, e a Marvel lanco esse livro e eu sou obrigada a compatilhalo com vocês.