capítulo 12

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Burra ou azarada, burra ou azarada. Essas duas palavras ficaram zanzando
de um lado pro outro na minha cabeça. Decidir qual delas melhor se aplicava a
mim parecia tremendamente mais fácil do que descobrir como raios eu me
livraria de qualquer uma das duas categorias.
Os oficiais da guarda de fronteira conseguiram me algemar sem que se
autoinfligissem mal algum, já que minhas mangas estavam por dentro das luvas
de Touch. E lá estava eu, sentada sozinha numa cela e só esperando que eles
descobrissem que eu de fato não era Mary Ginsberg, e que aquela Chevy azul era
roubada.
— De onde é que veio aquele dinheiro? — Três diferentes oficiais da polícia
fronteiriça já tinham me perguntado a mesma coisa.
— Meu namorado me deu — respondi aos quatro. Eles podiam até colocar
um detector de mentiras em mim pra fazer essa pergunta!
— E o que é que seu namorado faz da vida?
— Ele mexe com eletrônica. — Certeza que eu também passaria com essa
resposta.
— E onde é que ele está agora?
— Eu não sei.
Daí eles me jogaram de volta pra dentro da cela, onde ficaria esperando até
que meu processo ficasse pronto, acho, pra que assim eles pudessem lidar com as
prisões menos complicadas, aquelas em que as pessoas simplesmente ficavam
caladas e não tentavam escapar. Quando enfim alguém chegou pra me buscar,
caiu a ficha de que eu tinha de tomar uma atitude o quanto antes. Mas qual
atitude seria não dava pra dizer. Eu não entendia nada sobre ser presa, sabe. Já
tinham tomado todas as minhas coisas, inclusive a chave de fenda mágica de
Touch, e me deixado com nada além das roupas do corpo. Mas suspeitei que,
quando um dos policiais viesse me buscar pra registrar minha prisão, ele tiraria
minhas luvas pra pegar minhas digitais. E então vai saber o estrago que eu
acabaria fazendo e o que fariam comigo (lembrando daquelas armas) quando os
policiais começassem a cair no chão.
Sentei num banco duro de ferro e fechei os olhos. Touch, pensei. Se você está
planejando me resgatar e me levar de volta pro seu mundo, agora com certeza seria
uma boa hora. Pestanejei um pouco antes de abrir os olhos, e uma parte de mim
esperava encontrá-lo na minha frente com seus olhos azuis brilhando e seus lábios
formando aquele meio sorriso. Em vez disso, só vi uma cela vazia e escutei passos
pesados de botas descendo o corredor.
— Mary?

Era uma oficial não muito mais velha do que eu, com os cabelos amarrados
num rabo de cavalo. Parecia ter belas curvas por baixo daquele uniforme, e
perguntei-me o que teria levado aquela beldade a entrar pra força policial. Fora
que a guarda da fronteira me pareceu um braço particularmente rigoroso da lei.
Pra ser franca, o jeito como ela disse “Mary” soou bem sarcástico, como se
soubesse que esse não era meu verdadeiro nome. Não gostei do seu jeito. O que
não queria dizer que eu quisesse jogá-la num coma profundo, então tratei de
manter o máximo de distância possível.
— Você não quer me dizer seu nome de verdade, meu bem?
Apesar do termo afetuoso, ela não chegou a usar um tom de voz dos mais
gentis.
— Não exatamente — respondi, torcendo pra que algum tipo de plano
brotasse na minha cabeça. Sinceramente, a melhor chance que eu tinha era sair
correndo. Se conseguisse chegar ao andar de cima, onde teria o caminho livre até
a porta, eu não só me valeria da supervelocidade dos wildebears como também
pegaria todos de surpresa por conta disso. Dessa vez, podia apostar que
conseguiria escapar antes que alguém pudesse sacar uma arma.
Mas o que diabos eu faria depois disso?
— Vire de costas — a policial disse, mal-humorada. Levei os braços pra trás
pra que ela pudesse me algemar. — Um tanto friorenta você, hein? — ela
provocou, apontando pras mangas enfiadas nas luvas.
— Eu tenho um problema de pele.
Isso calou sua boca. Ela colocou a mão no meio das minhas costas e me
empurrou pra fora da cela com as pontas dos dedos.
— Vem, vamos tirar suas impressões digitais e depois te levar pro
interrogatório.
Passamos pelas outras celas, repletas de pessoas desamparadas e ansiosas,
todos homens, amontoados, aguardando pra serem deportados ou encarcerados
de vez. Meu cérebro estava a mil por hora, mas eu não conseguia pensar em
nada. A mulher que estava ao meu lado (oficial Jeanne Sincero, segundo seu
crachá) me pareceu calma e destemida, ali fazendo apenas o seu trabalho, como
em qualquer outro dia. Senti-me como se estivesse escoltando a pobre moça pelo
corredor da morte. O que aconteceria quando eu tirasse aquelas luvas e ela
segurasse meu dedo contra a almofadinha de tinta?
E lá estava. Fiquei parada olhando pra ela, uma almofadinha de tinta das
mais ordinárias. A oficial Sincero puxou um formulário e o colocou em cima da
mesa. Depois tirou minhas algemas. Seu rosto era bonito, mesmo que de um jeito
meio bruto e regular. Fiquei pensando em quais habilidades especiais ela poderia
me transferir.
— Bem, você vai tirar essas luvas pra gente fazer isso ou não? Mary?
— Claro — respondi. Puxei minha luva direita com muito cuidado e a policial
esticou o braço pra pegar minha mão. Eu a retraí. — É melhor você me deixar
fazer sozinha, é uma doença muito contagiosa.
Isso bastou pra que ela recolhesse o braço bem depressa. Pressionei meu
dedo contra a tinta e ela apontou pro quadradinho onde eu deveria imprimir a
digital.

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