...

4 0 0
                                    

Tentei me virar de costas, mas a maldita mochila não me deixava pegar
impulso suficiente pra enterrar os pés na barriga do monstro, então torci pra que
saísse pelo menos um bom chute dali. Ao mesmo tempo, mal conseguia nutrir
qualquer esperança que fosse, só estava fazendo meu papel e lutando contra
aquela besta, já que eu não admitia a ideia de morrer em silêncio. Meu ombro
estava doendo pra diabo. Agora dava pra ver bem aquela coisa. Não era só
metade urso, metade lobo, mas também uma coisa que simplesmente não existia
neste mundo, com olhos vermelhos, presas compridas e garras tão enormes
quanto. O único pensamento que minha cabeça conseguia formular era: É isso,
acho que tudo acaba aqui.
Rolar pro lado foi a pior coisa que eu podia ter feito. Aquele bicho parecia
gostar bastante do meu pescoço, a única parte do meu corpo que estava
descoberta e pedindo pra ser rasgada. Mas o que aconteceu foi que, quando ele
me mordeu, todas as camadas de roupa acabaram protegendo seu nariz e suas
gengivas, fazendo com que apenas suas presas me arranhassem um pouco. Mas,
ao se aproximar da minha jugular, não teve jeito de evitar o contato pele a pele, e
seu focinho acabou pressionado contra meu pescoço antes que ele tivesse a
chance de afundar seus dentes.
A corrente elétrica enfim cessou por toda parte. O capim e as árvores
retornaram a suas posições verticais. De onde eu estava deitada, olhando por
cima do monstro metade cachorro e metade urso, pude ver Alabaster ainda mais
pálida ao vislumbrar a fera estremecer toda e tombar pra trás feito pedra, como
se estivesse prestes a explodir antes mesmo de se estatelar sem vida no chão.
Alabaster me olhou como se eu fosse o próprio diabo em pessoa. A arma
estava aos seus pés e despertou sua atenção por um instante. Prendi a respiração,
mas aparentemente ela não sabia o que aquilo era e acabou deixando pra lá. Ela
então segurou a barra da sua capa e a estalou ao vento, fazendo com que ela e as
duas criaturas (tanto a morta quanto a petrificada) desaparecessem.
E agora eu tinha duas daquelas criaturas pulsando dentro de mim, e não tinha
tempo de me recompor. As sirenes estavam se aproximando cada vez mais.
Minha única chance era correr até a camionete e torcer pra que, de alguma
forma, Touch tivesse conseguido chegar lá. Já que não queria mais nada com
aquela arma mesmo, deixei-a onde estava e saí correndo pelo bosque em direção
à camionete, não mais com a velocidade de Cody, mas alguma coisa nova, ainda
mais rápida, sobre-humana. Percorri quase dois quilômetros pelo bosque em
menos de dois minutos, as árvores eram um borrão passando por mim. E pra
minha alegria e total alívio, lá estava Touch, tamborilando os dedos no painel e se
parecendo com qualquer outro homem impaciente à espera de uma mulher, só
que um tanto mais atraente.
— O que diabos aconteceu com você? — ele perguntou pela janela aberta.
Se eu não estivesse com tanta pressa, até teria dado uma gargalhada ao
escutar sua voz elegante e com todo aquele sotaque estrangeiro falando palavrão.
Em vez disso, disse:
— O que diabos você quer dizer com o que aconteceu comigo? Você estava
lá!
— Lá? — ele retrucou, como se não tivesse a menor ideia do que eu estava

— Lá? — ele retrucou, como se não tivesse a menor ideia do que eu estava
falando. — Você me mandou pegar comida e esperar por você no carro, e foi o
que eu fiz.
De repente, toda a adrenalina liberada durante minha corrida começou a se
esvair. Cheguei a pensar que tombaria de encontro ao chão.
— Mas você não fez isso, você disse que não ia me deixar e depois te ouvi
conversando com alguém na cozinha...
— Não, peguei o que eu pude na cozinha e vim para cá esperar por você,
assim como tinha dito — ele rebateu com firmeza. Firmeza até demais.
Acho que estava dando muito na cara de que estava prestes a desmaiar,
porque do nada ele esticou o braço pela janela pra me segurar.
— Vampira — ele disse, com uma voz um pouco mais suave dessa vez. — O
que aconteceu com você?
— A sua esposa foi o que aconteceu comigo. Como se você não soubesse.
Eu me afastei dele, joguei a mochila dentro do carro e me sentei no banco do
passageiro.
— Eu sabia que não devia ter deixado você sozinha.
— Mas você não deixou, eu sei que não. Eu te ouvi.
— Você está machucada. Está confusa.
A primeira parte até que era verdade, de fato. Talvez a segunda também. Eu
estava mesmo meio tonta e nem um pouco a fim de discutir.
— Só dirige. O mais rápido que você puder em qualquer direção. Só dá o fora
deste inferno.
Touch fez conforme eu disse. Enquanto os pneus cantavam atirando terra e
cascalho por todos os lados, fiquei me perguntando se era verdade, se ele
realmente tinha saído da casa antes que Alabaster aparecesse. Que motivo ele
poderia ter pra mentir pra mim? Suspendi a perna pra examinar onde a criatura
tinha me arranhado. Parecia superficial, o pior estrago tinha sido na calça. Meu
ombro, por outro lado, latejava sem parar, eu podia sentir o sangue escorrendo
pelo suéter. Mas não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento. Antes
de qualquer coisa, tínhamos de fugir de tudo, e de todos que estavam nos
perseguindo. Eu tinha dito a Touch pra que simplesmente caísse fora. Mas é claro
que ele foi na direção de sempre. Oeste.
Quando enfim tomamos uma boa distância do rancho dos Wheeler e das
sirenes, Touch disse:
— Você está muito machucada.
Joguei meu ombro pra frente. O corte parecia ser bem acima da clavícula,
então daria pra ver se eu jogasse meu queixo pra trás. O pior mesmo tinha sido
aquele maldito monstro ter rasgado minhas únicas roupas, e também manchado
todas elas com sangue por toda a parte.
— Temos de cobrir isso com alguma coisa para estancar o sangramento. E
levar você a um médico.
— Médico? Você pirou?
Tirei minha jaqueta e depois meu suéter. Estava empapado de sangue, mas
teria de servir. Eu o embolei, afastei a alça do meu top e o pressionei pra tentar
estancar o sangramento. A ferida doeu de um jeito absurdo, não parava de arder.

X- Men: OToque Da VampiraOnde histórias criam vida. Descubra agora