...

6 0 0
                                    

coração pelo tanto que ele ainda estava bonito. Na fotografia também estava sua
mulher, que achei muito parecida com Wendy Lee, talvez não tão oxigenada ou
emperiquitada ou maquiada. Mas aposto que ela não cozinhava tão bem.
Perguntei-me se ela o chamava de Jo Jo.
Por sorte, Joe era bem alto, então deu pra juntar um monte das suas calças
jeans e sambas-canções dentro da malinha verde. Um bocado de camisas de
flanela também e alguns casacos e uma jaqueta bem fofinha que estava dentro do
armário. Poucas coisas da sua mulher caberiam em mim (ela era mais baixa e
mais larga do que eu), mas peguei uma jaqueta jeans que me deixaria um pouco
mais discreta e alguns gorros de lã pra esconder meu cabelo estranho, mais uma
linda e longa saia florida com elástico na cintura que parecia ser tamanho único.
Quando enfim voltei ao escritório, a sacola verde já estava atulhada até a
borda de coisas pra ele, mas só uma ou duas peças de roupa estavam de fato
dentro da mochila. Pensei que pudéssemos usar o espaço livre pra guardar
comida. Quando ele me viu, deu um pulo da cadeira, como se já tivesse
terminado.
- Fez o que tinha de fazer na conta bancária?
- Vai dar tudo certo - ele disse, confiante. Era evidente que o fracasso da
bolinha azul tinha mexido com sua cabeça.
- Vai voltando pra camionete enquanto eu termino algumas coisinhas por
aqui.
Ele hesitou:
- Não acho que seja uma boa ideia nos separarmos.
- Vou estar logo atrás de você - prometi. - Só alguns minutinhos, eu juro.
Touch olhou de relance pro computador, como se soubesse que muito me
interessavam algumas coisas ali dentro, e sobre as quais eu não queria que ele
soubesse. Então passou a me observar direto no rosto, como que perscrutando
cada detalhe. Encarei-o de volta de um jeito que, eu esperava, o fizesse se dar
conta de que ele também estava escondendo um monte de coisas de mim.
- Olha só -continuei, já que ele não tinha esboçado a menor reação. -
Essa sua vigilância 24 horas já está ficando um pouco opressiva, sabe. Você acha
mesmo que eu preciso passar cada segundo da minha vida com você paranoico,
sempre alerta?
- Sim, levando em considerando quem está nos perseguindo, sim, precisa.
- "Nos perseguindo"? A gente? Eu pensei que eles estivessem perseguindo
você.
Naquele momento, tive certeza de que não era apenas minha imaginação,
nem paranoia da Wendy Lee. O rosto de Touch tinha ficado vermelho. Mas logo
voltou ao normal.
- Olha, você não quer privacidade? Por mim tudo bem. Eu vou esperar por
você no corredor.
Pensei em fazer um comentário sarcástico sobre como ele tinha sido um
ótimo guarda-costas em Kentucky. Mas logo me lembrei do jeito dramático como
ele tinha nos salvado em Napoleon. Daí entreguei a ele a mochila vazia:
- Toma, porque você não tenta ser útil em vez de ficar aí parado dando uma
de guarda-costas? Vá encher isso tudo aqui de comida.
Quando entreguei a mochila, notei que havia uma lanterna no parapeito da

janela e não pensei duas vezes antes de jogá-la pra dentro. Nunca se sabe quando

um troço desses pode acabar sendo útil.

Depois que ele saiu, sentei na frente do computador. A cadeira de couro

ainda estava quente. Eu tinha de ser rápida. Vai saber a que horas Joe e sua

família estariam de volta do passeio pela cidade, ou do passeio matinal, sei lá. O

que sabia era que eu tinha de procurar por mais notícias sobre Wendy Lee.

Enquanto esperava a página do jornal Clarion-Ledger carregar, abri a gaveta da

escrivaninha pra ver se encontrava alguma coisa que pudesse me interessar. E

como tinha. Um grande clipe prateado prendendo um maço considerável de

verdinhas. Fácil demais, ainda por cima depois que parei pra pensar em como

aquele canalha jamais tinha dado um centavo pra Wendy Lee. Sorri pra mim

mesma, pegando o dinheiro e jogando o clipe de volta na gaveta (no caso de ser

herança de família). O clipe esbarrou de leve no móvel quando o guardei, metal

tilintando contra metal, então acabei abrindo a gaveta um pouco mais.

E lá estava, bem diante dos meus olhos, uma Magnum .365. Não tinha sido

por causa de nenhuma das lembranças de Cody ou de Wendy Lee que eu sabia

qual era o tipo daquela arma. Tia Carrie tinha uma exatamente igual dentro de

uma lata guardada no balcão da cozinha onde estava escrito FARINHA.

Fiquei ali parada encarando aquela arma por um bom minuto, pensando em

todas as maneiras como ela poderia ser útil. Mas, no fim das contas, só fechei a

gaveta. Levando em consideração tudo o que minha pele era capaz de fazer, falta

de armamento não era um dos meus maiores problemas. Comecei a digitar

"Wendy Lee Beauchamp" no campo de pesquisa.

E lá estava um artigo com uma foto dela sentada numa cama de hospital,

sorrindo pra câmera. Uma mulher que provavelmente devia ser sua mãe

(oxigenada e emperiquitada como ela, mas cerca de vinte anos mais velha) estava

ao seu lado com um sorriso maior ainda. A legenda da fotografia dizia: "Dona de

padaria contraria todas as possibilidades e acorda do coma".

Eu adoraria terminar de ler a notícia. Mais do que isso, o fato de Wendy Lee

ter acordado me deu esperanças sobre Cody. Queria procurar artigos sobre ele

também. Mas, naquele exato momento, escutei a porta da frente se abrindo, e

três ou quatro vozes conversando e rindo. A mais espalhafatosa delas (meu

coração, tomado pelo de Wendy Lee, parou por um instante) era de Joe. A voz

estava mais envelhecida, claro, mas eu a reconheceria em qualquer lugar.

Droga. Eu não só precisava sair de lá como também precisava levar tudo que

tinha juntado. Imaginei que Touch tivesse sido esperto o bastante pra dar o fora

pela porta dos fundos em vez de vir atrás de mim.

Enfiei as notas dentro do bolso da minha calça e me dei ao trabalho de fechar

a página da internet (vai saber no que Joe Wheeler pensaria ao ver aquilo),

lamentando não ter tempo suficiente pra limpar o histórico de navegação.

Também me dei ao trabalho de vestir um dos chapéus da Sra. Wheeler - era

melhor fazer de tudo pra ficar o menos reconhecível possível. Fechei o zíper da

malinha e a joguei sobre meus ombros. Se eu abrisse a janela com o máximo de

silêncio possível, talvez conseguisse pular por ela e fugir sem que os Wheeler

X- Men: OToque Da VampiraOnde histórias criam vida. Descubra agora