Touch apareceu de uma curva fechada, arrastando um par de trenós. Bem,
eu nunca tinha andado de trenó no sul do Mississipi, mas é claro que eu sabia o
que era um trenó pelas fotos e pelos filmes. Um azul e outro vermelho. Touch me
entregou a corda do azul.
- Eu os encontrei num acampamento vazio - disse, e logo se virou em
direção à duna mais próxima. Fiquei parada, observando-o por um instante e,
quando enfim descobri o que tinha em mente, saí correndo atrás dele arrastando
meu trenozinho azul.
Quando eu era criança, costumava sonhar com a neve e com tudo o que eu
faria se algum dia chegasse a vê-la. Claro que um desses sonhos era esquiar.
Touch e eu posicionamos nossos trenós bem no topo de uma das dunas. Fiquei só
observando quando ele pegou impulso com um empurrãozinho e passou a descer
aos gritos.
- Como é que para isso? - gritei lá do alto. - Como é que se manobra?
Tudo que obtive como resposta foram o vento e seus gritos de alegria. O vento
lançava meus cabelos pra trás e a areia quente voava sobre minha pele. Juro que
deixei meu estômago lá no alto da duna e, antes que eu me desse conta, já estava
escutando meus próprios gritos. Gritos de alegria, de medo e de entusiasmo, tudo
ao mesmo tempo. Quando estava quase lá embaixo, vislumbrei Touch já de pé,
fora do trenó e esperando por mim. Parecia tão certo que eu o atropelaria que
estendi minhas pernas pra frear, mas eu devia estar rápido demais e acabei dando
uma cambalhota e voando. Aterrissei na areia fofa a alguns centímetros de
distância dele.
- Pronta para ir de novo?
- Pode apostar que sim.
Não conseguia me lembrar de um dia mais feliz em toda a minha vida.
Arrastamos nossos pequenos trenós pelas dunas, sem cruzar com ninguém no
caminho. Na maior parte do dia, parecia que todas as pessoas do mundo tinham
abandonado o planeta. Era como se eu e Touch tivéssemos herdado tudo só pra
nós. Se esse fosse mesmo o caso, não ficaria nada triste em permanecer dessa
exata maneira pra sempre, escalando os morros e gritando até chegar lá
embaixo. Quando enfim retornamos ao acampamento, minhas pernas doíam de
tanto escalar, e minha pele estava rosada de tanto vento e areia.
O cooler estava repleto de cachorros-quentes, refrigerante e salada de batata.
Pedi que Touch fosse atrás de gravetos pra assarmos as salsichas. Acendi o papel
da lenha artificial. Ali no Colorado era bem quente, quase como no Missouri, mas
ao mesmo tempo o ar era tão seco que eu nem me incomodava. O sol já estava
se pondo e a temperatura tinha caído uns oito graus. Ótimo. Senti-me um pouco
egoísta por ter achado bom, pois percebi que Touch estava tremendo todo ao
voltar com dois gravetos na mão, bem verdinhos como eu tinha pedido. O fogo
daria um jeito nisso.
Ele se sentou ao meu lado no toco. Não muito perto, mas o suficiente. Sorri
pra ele, que sorriu de volta e me entregou os gravetos. Preparei as salsichas, dei
uma a ele e o ensinei como colocá-la sobre o fogo.- Quer saber, se este fosse meu último dia na Terra, eu não poderia
imaginar uma forma melhor de tê-lo passado - confessei. - Acho que nunca
me diverti tanto.
Touch tinha terminado de tostar sua salsicha e a soprava pra que conseguisse
dar a primeira mordida.
- Temos um lugar como esse lá em casa chamado Sledding Sands. Sempre
imaginei que, um dia, fosse levar meu filho lá.
Quando ele disse isso, pensei que fosse uma metáfora, futuristicamente. Da
mesma maneira que eu imaginava ter uma filha chamada Lily e que a levaria pra
Disney. Então apenas concordei, fingindo ter entendido o que ele quis dizer. Não
falei o que eu estava pensando: que algum dia, talvez, nós poderíamos levar nossos
filhos pra lá. Na minha imaginação, eu não me preocupava nem um pouco em
não poder tocá-lo. Quem precisava se tocar pra fazer uma criança hoje em dia,
com toda essa modernidade? Ora, tudo o que precisaríamos seria de um
termômetro e de uma seringa.
Touch espetou mais uma salsicha em seu graveto e começou a torrá-la. Eu
mal tinha dado minha primeira mordida.
- Fico triste de estar aqui sem ele.
- Espera aí. Você tem um filho? De verdade?
- Sim. Tem seis anos. O nome dele é Cotton. Não consegui deixar de pensar
nele o dia inteiro. Ele teria amado tanto isso aqui.
Touch meio que fez um gesto com a salsicha pra mostrar que não eram
apenas as dunas e os trenós, mas o acampamento, os Fleetdeer, a fogueira. Tudo
aquilo.
E me veio à cabeça o fato de que não importaria quais avanços científicos
fossem obtidos no campo da inseminação artificial, uma mãe não seria capaz de
cuidar de uma criança que ela nem sequer poderia tocar. Quem garante que um
bebê sobreviveria dentro de mim?
- Touch, sei que ainda não discutimos a cultura do seu planeta. Mas, aqui na
Terra, quando um homem tem um filho, geralmente ele tem uma esposa
também.
Esperei que ele ficasse com aquele olhar perplexo e enrugado. Esposa?, ele
perguntaria. O que essa palavra que dizer, "esposa"?
Mas não. Julgando pelo seu olhar, El Creepo com certeza sabia o que a
palavra "esposa" significava, e significava a mesma coisa no planeta dele. Eu me
levantei, joguei minha salsicha na fogueira e saí andando em direção ao carro.
- Espera - ele disse. - Vampira.
Bati a porta do Prius e engatinhei pro banco de trás. Assim que me vi deitada
lá dentro, desejei ter passado na barraca antes pra pegar um travesseiro e o saco
de dormir. E eu é que não ia sair lá de dentro agora de jeito nenhum.
Touch deu uma espiada através do vidro. Pareceu estar aliviado, como se
tivesse achado que eu fosse pegar o volante e sair dirigindo, mas percebeu que eu
só queria dormir no carro em vez de dormir na barraca. Imaginando como eu
tinha ficado tão feliz de ver nossos sacos de dormir lado a lado dentro da barraca,
quase me entreguei a um bom e longo chororô. Mas nunca que eu faria isso com
ele ali do lado de fora me observando pela janela.
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X- Men: OToque Da Vampira
Teen FictionEu não criei nada, sou grande fã da vampira assim como vocês, e a Marvel lanco esse livro e eu sou obrigada a compatilhalo com vocês.