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minha cola de novo. Bati a porta do quarto de Joe com toda força e me tranquei
no closet. Enquanto brigava com a trava de segurança da arma de Joe, pude
escutar aquela coisa arranhando a porta. Levou cerca de dois minutos até que
ouvisse o estrondo maior da coisa vindo abaixo. Claro que, se ele tinha
arrebentado a porta do quarto, seria capaz de derrubar a porta do closet, mas eu
simplesmente não conseguia destravar a porcaria da arma com aquela
tremedeira toda em minhas mãos.
Aquelas garras terríveis passaram, então, a arranhar a porta do closet.
Encostei na parede, as barras dos vestidos da Sra. Wheeler fazendo cócegas no
meu rosto. Parecia que a casa inteira estava tremendo enquanto o monstro
forçava a porta pra me pegar. Quando finalmente descobri como liberar a trava,
uma garra gigantesca atravessou a madeira da porta. A criatura tentou agarrar
minha perna e acabou rasgando minha calça de couro, sua pata inteira agora
pressionada contra minha pele exposta.
E lá vamos nós de novo, pensei. A arma voou da minha mão e se chocou
contra a porta, provocando um barulho ensurdecedor ao disparar por acidente.
Talvez o tiro tenha acertado o monstro, mas àquela altura isso me pareceu um
tanto redundante, porque eu já tinha escutado a carcaça dele desabando no chão.
Enquanto isso, meu corpo tinha acabado de sugar a maior onda de força e poder
que eu já tinha sentido.
Peguei a arma e me pus de pé. A criatura tinha caído contra a porta, então
pensei que talvez tivesse de dar um empurrãozinho pra liberar a passagem, ok,
mas a própria porta se encarregou de jogar o corpo de lado como se não pesasse
mais do que um monte de folhas. Fiquei parada, observando o que eu tinha
acabado de absorver. Uma criatura grande, peluda e marrom que parecia um
cruzamento entre um urso e um lobo. Sua caixa torácica continuava subindo e
descendo, então dava pra perceber que ele não estava morto. Eram pequenas as
chances de que ele despertasse, mas eu não poderia arriscar que os Wheelers
chegassem em casa e se deparassem com aquele bicho. Fechei os olhos e
apontei a arma, meu corpo inteiro se retraindo quando ela disparou. Ao abrir os
olhos, o monstro já não respirava mais. Agora sim eu poderia voltar ao que
realmente importava.
— Touch! — gritei.
A casa inteira estava estranhamente silenciosa. Onde diabos ele poderia
estar? E onde diabos estavam as pessoas ou estava a pessoa que tinha vindo atrás
dele? Segurei a arma perto do meu peito e voltei na ponta dos pés pro corredor.
Nada. Mas deu pra ouvir bem as sirenes ao longe chegando pela estrada. Eu tinha
de sair daquela casa o quanto antes. Voltei pra cozinha, mas não havia nada nem
ninguém além das portas abertas dos armários. A porta dos fundos também estava
escancarada, e foi por ela que me mandei.
Mal meus pés pisaram na grama e aqueles ruídos começaram a ecoar por
toda parte, e não digo que eram os ruídos de todo o departamento de polícia de
Ferdinand a caminho. Era mais como uma tempestade terrível, com relâmpagos
e trovoadas e um vendaval violento. Só que não, aquilo não era vento propriamente
dito, era mais como se o capim e as árvores estivessem se curvando o máximo
que podiam de encontro ao chão, como se as próprias plantas temessem o que
estava por vir. O que mais eu poderia fazer senão me jogar no chão também,
aflita com a possibilidade de Touch já ter sido levado de volta ao seu planeta, me
deixando ali sozinha pra nunca mais vê-lo outra vez? Eu podia até suportar a ideia
de acabar morrendo naquele exato momento pelo que quer que estivesse atrás de
Touch. O que não seria capaz de suportar era nunca mais vê-lo de novo e me
encontrar outra vez completamente sozinha.
Meus olhos lutavam pra se manterem abertos contra aquela energia que me
rodeava. E então, vindo bem na minha direção, eu a avistei. Mesmo que Touch
tenha dito apenas algumas poucas palavras sobre ela, eu a reconheci na hora. Ela
se parecia com a Sininho, só que um pouco maior, flutuando ao meu encontro,
toda loira com um corpinho delgado e olhos tão azuis quanto um dia suave de
verão. Umas dez vezes mais linda do que eu jamais poderia imaginar.
Alabaster. A esposa de Touch. Vindo direto na minha direção com um olhar
nada convincente: sereno e bem-intencionado demais, como se quisesse que eu
pensasse que ela estava lá pra ajudar. Abriu a boca pra falar e um tipo de assovio
saiu, como quando Touch me disse o nome dele. Será que era seu jeito de exigir
que eu dissesse onde ele estava? Ou será que tudo nessa língua soava daquela
mesma maneira, e ela nem está dizendo o nome dele?
Então Alabaster apontou pra mim enquanto o ar continuava a crepitar a nossa
volta. Ela vestia uma espécie de vestido claro e rendado, que não cobria muito
mais do que um biquíni era capaz. Estava com uma capa amarrada ao pescoço,
também transparente e rendada, que esvoaçava graciosamente em meio aos
estalidos elétricos. Mas deu pra notar que tinha sido pega de surpresa pela
temperatura. Esse povo realmente precisava passar a se comunicar um
pouquinho melhor. Ela tremia muito e seus lábios já tinham começado a ficar
azuis.
Ela tentou falar comigo de novo naquela língua estranha. Fiquei toda
arrepiada, a melodia era tão linda. Claro que eu não fazia ideia do que ela estava
dizendo. Bem poderia ser: “Passa já meu marido pra cá, sua cara de pau sem
vergonha!”. Ou algo ainda pior, tipo: “Ajoelhe-se, criatura terráquea, e prepare-se
para enfrentar a morte”.
Só de pensar na minha morte senti uma onda de adrenalina por todo o corpo.
Alabaster estava tão visivelmente miserável e tremendo de frio apesar de todo o
poder que pairava ao seu redor que talvez eu pudesse até tirar proveito da
situação. Fiquei de pé num pulo e saí correndo pra me embrenhar no bosque.
Logo atrás de mim, deu pra escutar seus gritos e, do nada, apareceram mais dois
daqueles monstros. Suspendi a arma e atirei contra o coração do primeiro, que
tombou com um uivo trágico. Mas o segundo acabou dando a volta e me acertou
por trás, me derrubando no chão e arremessando a arma pelos ares.
Gritei desesperada, completamente sem ar, quando a criatura montou em
mim e me esmagou com mochila e tudo. Acho que ele tinha percebido que seus
dois amigos estavam mortos por minha causa. Dava pra ver nos seus olhos, ele
estava bem furioso. Seu bafo rançoso encobria meu rosto enquanto ele
abocanhava o ar a poucos centímetros de um dos meus ombros. Senti quando ele
rasgou as camadas de couro e lã, até que seus dentes enfim roçaram minha pele,
abrindo uma feridinha que chegou mesmo a sangrar.

X- Men: OToque Da VampiraOnde histórias criam vida. Descubra agora