A ESPERANÇA BROTA ETERNAMENTETouch e eu devemos ter chegado a nosso último impasse com Alabaster e o
Rei a uma altitude um pouco mais elevada do que onde costumava estar a
cordilheira de montanhas Great Smoky. Quando enfim acordei, alguns minutos ou
algumas centenas de anos depois de ter adormecido nos braços de Touch, dei-me
conta de que estava no topo da montanha mais alta delas, Clingmans Dome,
completamente sozinha, vestindo apenas o sobretudo de couro de Touch. O galho
de pinheiro que tinha servido como travesseiro tinha deixado marcas tão profundas
na minha bochecha que senti as linhas quando passei os dedos sobre meu rosto.
Sacudi mais algumas agulhas de pinheiro pra fora do meu cabelo e logo notei as
velhas mechas brancas, e sabia que eu enxergava com meus olhos verdes de gato.
Podia sentir Cody dentro de mim, e Wendy Lee, e os wildebears, e Tawa. No
entanto, por mais que vasculhasse, para meu alívio não conseguia encontrar
qualquer vestígio do Rei. Talvez porque Touch tenha me arrebatado tão rápido
daquele jeito. Talvez porque só fosse acontecer dali a muitos anos no futuro. Ou
talvez tenha sido apenas um pouco de força de vontade interior, recusando-me a
transferir tamanha maldade ao meu próprio coração. Talvez, do mesmo jeito que
Gordium, eu tenha aprendido (pelo menos naquele momento isolado) a controlar
meus poderes.
Olhei em volta, bem do topo daquele pico no Tennessee. A impressão era que
dava pra ver o mundo todo dali, em sua enorme imensidão. Era tudo tão verde e
tão bonito. Muito mais acima, o outono já tinha tratado de mudar o tom de
algumas folhas pra vermelho e dourado. Senti uma leve pontada no coração,
desejando que Touch tivesse permanecido pra ver as cores do outono, mas sabia
que aquela era somente a primeira de muitas pontadas que eu teria, todos os dias,
pro resto da minha vida.
Mesmo que estivesse fazendo um friozinho de leve, desabotoei o sobretudo e
enfiei a mão num dos bolsos internos. A primeira coisa que encontrei eu já
imaginava que estaria lá. O anel de ouro. Não precisei perguntar pessoalmente a
Touch pra saber o que ele queria que eu fizesse com ele. A segunda coisa bem
poderia ser considerada uma carta de amor, por tudo quanto dizia Eu preciso que
você fique bem: uma chave de fenda simples e comum, aos olhos de todo o resto do
mundo, como qualquer outra comprada numa loja de departamentos por U$
9,99.
De repente, as nuvens estancaram no céu. Fiquei tensa. Alguma coisa meDe repente, as nuvens estancaram no céu. Fiquei tensa. Alguma coisa me
dizia, antes mesmo de escutar qualquer ruído, que uma visita não tardaria a
chegar. Meu corpo se preparou pros estrondos de praxe, os creques e os pás e os
buns, mas antes que eu tivesse a chance de me preocupar se seria Alabaster ou o
Rei, ou nutrir esperanças de que seria Touch, um menino apareceu na minha
frente.
Ele devia ter uns sete anos e vestia roupas feitas a partir do mesmo material
do macacão que eu tinha usado. Seus cabelos eram loiros e ele tinha os olhos
azuis e gentis do pai. Ele não estava sorrindo, mas eu tinha certeza de que,
quando sorrisse, daria pra ver as mesmas covinhas da sua mãe.
— Oi, Cotton.
Ele acenou com a cabeça, assustado e triste demais pra dizer alguma coisa.
Mas também parecia conformado. Como se confiasse cegamente em quem o
tinha enviado.
Claro, uma pessoa cuja pele pode deixar um adulto em coma permanente
não tem nada que ficar criando uma criança. Mas — especialmente se recebeu
meios pra tanto, na forma de uma chave de fenda das mais úteis — certamente
poderia deixar o menino num lugar seguro. O que eu não conseguia encontrar de
jeito nenhum no meu próprio passado. Não poderia levar Cotton pra comunidade,
por exemplo, e é claro que não o entregaria pra Tia Carrie. Mas veio a calhar eu
conhecer um casal que com certeza seriam pais muito gentis e amorosos. Eles já
tinham proporcionado uma infância estável e feliz a um menino antes. E
pareciam estar precisando muito, no momento, de outra criança em suas vidas.
A Chevy azul que fui dirigindo até Caldecott County não era a mesma que
Touch e eu tínhamos roubado no Colorado, mas era bem parecida. Eu a tinha
comprado por uma pechincha numa loja de carros usados na saída de Memphis.
Quando aquele vendedor viu o bolo de dinheiro que tirei do bolso, nem quis fazer
pergunta alguma. Mal chegou a contar as notas. Apenas entregou as chaves.
No caminho de volta, enquanto passava por Memphis, planejei como
ocuparia meu tempo livre dali em diante. Primeiro passaria horas na fila pra
fazer um tour por Graceland. Depois iria caminhando até Beale Street e pediria
uma porção de costela assada.
Mas não havia tempo pra isso naquele momento. Eu tinha uma entrega a
fazer. Na calada da noite, fui dirigindo pela estrada de terra que levava à fazenda
dos Robbins. Entre mim e Cotton havia uma sacola repleta do material especial
que Touch tinha inventado. A Sra. Robbins era uma costureira de mão cheia.
Poderia criar roupas pra Cotton até que ele se adaptasse ao clima.
Parei o carro no meio da estrada e desliguei o motor. Cotton e eu fomos
caminhando pelo chão de terra batida até a casa dos Robbins. Eu usava luvas pra
que ele pudesse enfiar sua pequenina mão direita na minha enquanto seguíamos
nosso caminho. Senti um aperto no coração do tanto que eu queria ficar com
aquele menino, se pudesse.
Mas não podia. Então me ajoelhei na frente dele.
— Cotton, essas pessoas são muito legais e elas vão cuidar muito bem de
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X- Men: OToque Da Vampira
Teen FictionEu não criei nada, sou grande fã da vampira assim como vocês, e a Marvel lanco esse livro e eu sou obrigada a compatilhalo com vocês.