Apaixonado pelo meu irmão

Eu queria tentar uma coisa...

A verdade era que por mais inocente que eu fosse como eu disse à Nekori, eu já havia beijado antes e havia beijado Aaron. Mas acho que talvez não contasse na opinião da minha amiga.

Tudo começou quando eu tinha 6 anos, no Yuki Matsuri, o festival da neve. Mamãe e papai levaram a gente para brincar e participar com roupas típicas. Eu estava com um quimono e ele vestia uma roupa clássica de guerreiro, até tinha uma espada de madeira nas costas.

Nós corremos de um lado para o outro, comemos, jogamos neve um no outro e depois de algumas horas, eu estava totalmente cansado e me joguei no chão.

–O que foi? Vamos brincar!- pediu Aaron -É o seu festival!

–Meu?- perguntei

–É, festival da neve, festival do Yuki.- ele disse, se sentando ao meu lado- Quero que você seja a pessoa mais feliz daqui hoje.

–Eu também quero que você seja feliz.- eu respondi, me sentindo contente por ele desejar mais a minha felicidade do que a dele.

De repente, a poucos metros de nós, um homem se ajoelhou na frente de uma moça com quem estava de mãos dadas e disse:

–Eu posso não ser a pessoa perfeita, eu cometo erros, mas se você disser sim, eu prometo todos os dias tentar fazê-la a mulher mais feliz do mundo. Quer casar comigo?

–Sim, sim, eu quero!- disse ela.

Eu não me lembro do rosto deles, nem da roupa, eu só lembro que ambos choravam muito.

–Nii-chan! Por que ela aceitou se ela está chorando? E por que ele pediu?

Aaron colocou uma mão sobre a minha e me disse:

–Eles estão chorando de felicidade. A felicidade dentro deles é tanta, mas tanta que transborda na forma de lágrimas.

Arregalei meus olhos, era a primeira vez que eu ouvia isso. Sempre que eu caía e me machucava, as pessoas diziam imediatamente "Não chora!" sem nem perguntar o que havia acontecido. Foi a primeira vez que o choro teve um significado bom para mim e não apenas sofrimento.

–Nii-chan! Você é a pessoa mais inteligente de tooodo esse mundo!- eu disse, sorrindo

–Sabe, algum dia eu quero me sentir assim como eles e quero fazer alguém se sentir assim. E espero que você também seja feliz desse jeito.

Lembro de ter pensado que como aquela era a primeira vez que eu via pessoas chorando de felicidade e que eu vi um pedido de casamento, achei que os dois estivessem ligados, que uma pessoa só choraria de felicidade se fosse pedida em casamento e ainda faltava muito para Aaron ter a idade daqueles adultos, mesmo que ele fosse bem grande na minha opinião, então, eu disse:

–Casa comigo, nii-chan?

Lembro de ter visto Aaron corar para caramba, sendo que ele nunca fica corado.

–Eu caso, sim, quero viver com meu irmãozinho sempre!- ele me abraçou forte- Mas dois meninos podem se casar? Nunca vi isso...

–Ué, se um menino e uma menina podem, por que não dois meninos ou duas meninas?- pensei alto e ele concordou.

–É, tem razão. Sabe, Yuki, eu estou muito feliz.

–Eu também, nii-chan!- respondi.

Passamos o resto do festival assim, abraçados um ao outro enquanto ele acariciava o meu cabelo. Mamãe só voltou algumas horas depois, conversando com uma amiga e lembro de ter pensado "Mas, já?" do mesmo jeito quando eu via que o final de semana estava acabando e logo teríamos aula.