Equipamentos de todas as espécies e tamanhos surgiam, arrastados num vai e vem infinito. Barulhos e ruídos de todas as notas, da mais grave à mais aguda, tomavam conta dos tímpanos, enquanto minha cabeça latejava sem piedade. Os Bangtan ensaiavam coreografias na parte principal do palco como se o amanhã não existisse. Faíscas brilhavam e caíam feito chuva enquanto um homem soldava uma estrutura ali perto; um completo caos que obrigatoriamente deveria estar organizado até a hora do show.
No dia seguinte, acordei tão estafada, mental e fisicamente, que as horas de sono pareceram durar minutos. Ainda dava para ouvir a imensidão de gritos dentro da cabeça.
Naquele dia almoçamos no hotel, após alguns compromissos. Estava decidida a almoçar e a orar para que tivesse a tarde livre. Afinal, ainda ansiava pelo meu precioso tempo de solidão, onde eu pudesse observar o mundo, tendo a certeza de que ninguém me observaria. Meu corpo implorava por isso como se sofresse uma crise de abstinência.
— E eu achei que a chuva fosse desanimar, mas me enganei… — Jeon Jung Kook comentou, abrindo a porta do quarto de Kim Nam Joon e saindo.
— Verdade, também achei… — respondeu Park Ji Min, enquanto os cinco restantes saíam do mesmo quarto.
— Sempre soube que isso nunca iria acontecer… Nenhum clima ruim arruina nosso show — Min Yoon Gi encheu os pulmões de ar para dizer.
Seguiam rumo aos elevadores e eu estava logo atrás; havia acabado de sair do meu quarto que era no fim do corredor.
— Ana-ssi! — Kim Tae Hyung logo tratou de me notar. — Por que não leu minhas mensagens?
— Não vi… — Forjei um sorriso, pois ninguém merecia contemplar meu rosto azedo logo na hora do almoço.
— Ganhamos reservas em um restaurante coreano. Palli, se apresse, a gente te espera! — Kim Seok Jin exclamou, segurando em meus ombros, fazendo com que eu desse meia-volta em direção ao quarto.
Retirei suas mãos, voltando a atenção aos sete: — Quer dizer que a tarde está livre? — perguntei sem animação, mas podia sentir os olhos brilhando apenas pela possibilidade.
— Tshh… — Min Yoon Gi soltou uma de suas risadas debochadas. — Esqueceu que vamos para o Rio de Janeiro daqui a pouco e que temos show hoje? — enfatizou sua empolgação ao pronunciar o nome da cidade com seu sotaque estrangeiro.
— Rio! — Jung Ho Seok o acompanhou com um samba nos pés.
Tudo que eu conseguia fazer era me martirizar mentalmente por mais um dia cheio em que teria que me desgastar mesmo sem energias…
— Vão vocês, divirtam-se.
Senti meus olhos voltarem a chamuscar quando pensei no meu tão sonhado tempo privado: quando eles saíssem e me deixassem para trás. Seria o melhor momento, provavelmente o único durante toda a viagem.
Passei uma das mãos pela nuca quando percebi que todos me olhavam confusos. Eu precisava da melhor desculpa, o mais rápido possível.
— Preciso de um tempo… Quer dizer... — Franzi o cenho, espremendo o cérebro na tentativa de forçá-lo a me dar uma boa resposta. — Farofa. — Balancei a cabeça negando a mim mesma a idiotice que havia acabado de soltar..
Quando eu aprenderia a mentir?
— Pa o quê!? — Kim Tae Hyung coçou a cabeça.
— Vou… ficar por aqui para comer… farofa. — Definitivamente não iria funcionar. — Aish, são as minhas... sei lá, raízes! Estamos no Brasil, é um prato típico!
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Bangtan e Eu
FanfictionExistem várias estratégias para lidar com conflitos e sentimentos. Para Ana, fugir e ignorar são as que melhor funcionam. Fechada e cheia de segredos, sempre evitando novas amizades e preocupada com as consequências de suas ações, se Ana ao menos im...