Existem várias estratégias para lidar com conflitos e sentimentos. Para Ana, fugir e ignorar são as que melhor funcionam.
Fechada e cheia de segredos, sempre evitando novas amizades e preocupada com as consequências de suas ações, se Ana ao menos im...
Vanessa chegou gritando de repente, fazendo com que o barulho da máquina de costura cessasse, devido ao susto que Ana tomara. Ela desviou os olhos da blusa de linho que costurava e os voltou à Vanessa que, parada de braços cruzados, aguardava uma resposta.
— Pra que? — Ana respondeu sem vontade, continuou com o barulho que fazia.
— É sério isso? Tá doida? — Vanessa suspirou. — Vai me dizer que aquele malandro não quis pagar a taxa da inscrição?
— Não é isso.
— O que que é, então?
— De que adianta perder tempo se eu não faço ideia do que quero fazer?
Vanessa coçou e bagunçou seu longo cabelo liso e escuro, de decepção.
— Cara… Agora eu tô preocupada pra valer. Tô começando a achar que você pode não ter inteligência o suficiente pra responder a prova… — Puxou a ponta dos cabelos, pasma.
Ana, fingindo não prestar atenção à dramática exagerada, fez uma careta de desânimo para a própria máquina.
— Não sei no que sou boa.
Vanessa soltou uma gargalhada. Ainda descabelada, se aproximou da outra e, apoiando uma mão na mesa, se abaixou ao lado dela, que sentava numa cadeira de madeira dura e que dava dor nas costas.
— É sério isso?! — A Louca a encarava, de olhos miúdos. — Não tem nenhuma pequena ideia de qual é a tua vocação? — interrogou indignada, intercalando as vistas entre a máquina e a amiga.
— Eu não — Ana afirmou em desinteresse, erguendo a peça branca semi-pronta, conferindo as costuras impecavelmente retilíneas.
— Ah, vai se… — Vanessa levantou, estupefata. — Você devia fazer design de moda, sua anta!
Ana parou, virou o pescoço no rumo da garota e franziu as sobrancelhas.
— Hum…
— Você tem que tentar! Ou quer viver debaixo do teto desses malas o resto da vida?, deixando eles enfiarem o seu dinheiro… Olha, se eu fosse você, quando completasse dezoito, eu ia vazar daqui no mesmo dia, ia… sei lá, fazer um intercâmbio em outro país, bem longe, conhecer uma cultura nova, sei lá, o que é que tem pra ver do outro lado do mundo, por que a gente não vai lá descobrir? Tu vai perder o seu tempo é se continuar aqui, trancada nesse quarto cheio de mofo… — Parou para respirar.
— Do outro lado do mundo…? — Ana pensou alto.
— É, tipo, sei lá… China, Japão — explicou Vanessa, indo até o espelho, arrumar o cabelo ainda todo assanhado.
— Esses todo mundo já conhece ou ouviu falar. Se é pra descobrir, tem que ser um lugar que mal sabemos o nome.
— Exemplo?
— Hum, Indonésia, Coreia, Filipinas?
— Ah, saquei… E, ó: vê se não me enrola! Só saio daqui com essa sua inscrição feita! Cadê teu PC?
— Eu não tenho…
— Fala sério… — Vanessa novamente suspirou de desgosto. — Então levanta daí, vamo na lan house.
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