A Trilha

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Uma leve chuva inesperada umedeceu aquele caminho estreito de terra e pedregulho, deixando o cheiro molhado no ar e a temperatura baixar.
Havia também, os três. Quando eram em quatro, a menina, tendo as pernas mais curtas, não poupava esforços ao tentar acompanhar o pai, que abria caminho. Mas ali, aquela mesma menina, que se tornara uma adolescente precipitada e irrefletida, que já não tinha as pernas tão curtas, tomava a frente, o que a fazia se sentir mais perto do pai, todo outono.

Ou, Ana! Espera! — a mãe gritou. — Não lembro que passamos por aqui ano passado.

A menina, que caminhava com uma mochila nas costas e um mapa surrado nas mãos, parou.

— Lógico que não, mãe, estou pegando um atalho — respondeu, bem dona-de-si.

— Como assim?! — a mulher alterou a voz. — Quem mandou?

O menino abria a mochila nas costas da irmã e de lá tirou uma garrafa d'água que estava entre a metade e o fim.

— Estamos mais pra perdidos. — Pendeu o pescoço para trás, secando o recipiente de plástico fino. — O tio já deve estar fazendo churrasco e eu nem tô lá pra comer o primeiro pedaço.

— Te mete, Diogo! — esbravejou a mocinha, tirando a mochila das costas para fechar o zíper que ficara aberto.

— O que eu sei é que não estou gostando nada deste caminho e muito menos da sua falta de respeito comigo e com o seu irmão.

— Ele é que tem que me respeitar, sou a mais velha…

— Você só tem treze anos, Ana. Quer ficar de castigo o resto do fim de semana?

— Tá, foi mal... — Revirou os olhos.

Descontinuaram os passos, dando de frente com a curva fechada e deserta, molhada e silenciosa da estrada de mão dupla que cortava a mata nativa.

— Eu disse, a gente tá perdidaço… — o menino, que completara seus doze anos há uma semana, murmurou.

— É só atravessar. — A garota ergueu os ombros. — Isso dá no riacho, e de lá, já até vai dar para sentir o cheiro da carne, Di, vamos logo.

Enquanto Diogo esperava a mãe chegar logo à beira da estrada, Ana atravessou serena e confiante.

— Anda logo! — gritou do outro lado.

— Se vier um carro nem dá para ver, aqui é muito perigoso, eles andam a mais de 100 por hora… — a mulher analisava, temerosa, olhando de um lado a outro.

— Ninguém anda por aqui! Olha o tempo que estão aí morrendo de medo, quantos carros passaram?

Diogo, persuadido pelo argumento da irmã, deu dois passos rápidos.

— NÃO!

A mulher gritou e correu, empurrando o garoto para frente com todas as forças assim que surgiu um caminhão na estrada, descendo a curva.

Num milésimo de segundo, os olhares que se cruzaram entre aqueles dois irmãos estava carregado pelo medo, e logo em seguida, de súbito, foram desconectados por um vulto vindo da direção oposta ao caminhão,  fazendo o menino voar para longe. Só então os freios conseguiram cessar por completo a velocidade nos pneus do carro, assim como se dera com o outro veículo de carga, há uns dois milésimos de segundos atrás.

Ana correu imediatamente, desnorteada, até o irmão, estirado no chão, alguns metros à frente.

Ela se abaixou, sem se importar com a palma de sua mão se misturando à poça de sangue e água da chuva espalhados pelo asfalto. Desistiu de buscar mais machucados ao ver aquele rosto desfigurado e uma fratura exposta na clavícula.

Cadê a mamãe? — ele perguntou, quase sem voz, olhava para o céu que se libertava das nuvens de chuva, e as copas das árvores sendo iluminadas pelo sol naquele lindo dia.

Ana olhou para trás, vendo o motorista sair do carro, terrificado, e aos poucos, o caminhão dava ré, revelando o que escondia abaixo de seus pneus duplos.

A mãe já não era a mesma.

Logo Ana voltou atenção ao que possuía vida; ele apertou sua mão e disse que sentia frio.

— Me perdoa — ela dizia, vez após vez.

Os motoristas interditaram o local, buscaram ajuda.

E, durante todo aquele tempo, o menino apenas segurava a sua mão, assim, sem nada responder à que tanto pedia perdão, Di abriu a boca somente para suspirar uma última vez.

E, durante todo aquele tempo, o menino apenas segurava a sua mão, assim, sem nada responder à que tanto pedia perdão, Di abriu a boca somente para suspirar uma última vez

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