Jeju Island VI

2.4K 232 329
                                    

 À medida que caminhava, bem devagar, surgia, ao longe, uma forma de vida, encapuzada e de pernas encolhidas, sentada em um dos bancos de frente para o mar, apoiando nas coxas um caderno. Ora olhava para o céu, para todo aquele cenário escuro e solitário, volta e meia escrevia algo, e suspirava profundamente…

À uma certa proximidade, dava para ver que debaixo daquele capuz largo havia Min Yoon Gi.

Pode ser por ter ouvido o arrastar das minhas rasteiras pelo chão ou por sentir a presença de alguém chegando — Deus sabe —, ele virou o rosto  para mim, e sem pestanear, continuou me vendo chegar.

— Escuro para escrever? — perguntei enquanto ainda caminhava, pois o jeito com que Suga me olhava, uma estátua conseguiria ser mais humana.

Apoiei as mãos no encosto do banco, esperando alguma resposta de vida surgir de sua parte.

— Tudo bem? — Seu comportamento estava começando a preocupar, pois parecia que só restara ali um boneco de olhos arregalados em minha direção com um caderno nas pernas. — Você deve estar muito inspirado, isso sim… — concluí, dando o primeiro passo à frente para ir embora. — Ãn… boa noite, então.

— Fica — disse, num grave maior que o normal, quando eu em pouco tempo tinha dado as costas.

— Não vou atrapalhar sua… vibe? — Retornei dois pequenos passos.

— Posso chamar isso de ironia, destino ou talvez… — Voltou a revisar o que tinha escrito, massageou o queixo, pensativo. — Ironia do destino...? — Abaixou drasticamente o volume da voz ao questionar.

Mwo!? — Tornei a caminhar de volta, tão somente pela confusão. 

— Você, aqui. Seria uma ajuda do destino?

Parei em sua frente, ao que ele, ainda de vistas abaixadas ao papel, segurando uma caneta de aparo dourada, prendeu-a entre os dedos e deu dois tapinhas na madeira do banco.

Tshh… — Sorri, sentando ao seu lado. — Acho que não, porque não entendo nada de composição.

— Quem disse que estou compondo?

— É, ninguém. Eu só deduzi — confessei, tentando distinguir qual azul escuro pertencia ao céu, e qual pertencia ao oceano, pois a linha reta e infinita do horizonte à nossa frente havia se apagado.

— Não quer saber o que é?

— Quero — respondi, erguendo os ombros. — Mas pode ser que você não queira me mostrar.

— Quero… — Deixou o ar escapar pela garganta, e uma risada invasora veio junto. — Mas não agora.

Apenas assenti, deixando transparecer totalmente minha expressão confusa.

— Fez mesmo as pazes com o Nam Joon? — voltou a puxar assunto, depois de passarmos alguns minutos em total silêncio. — Algo me diz que você tá odiando a gente aqui.

— É… vocês estão conseguindo estragar tudo.

Wae?

— Eu não sou a melhor pessoa para lidar com… afeto. — Ele assentiu num riso ínfimo e irônico. — Não quer dizer que eu seja ingrata, mas é difícil mostrar.  Por isso pensei nessa viagem como uma possibilidade, uma oportunidade… Eu gastaria toda minha energia, toda minha atenção, só pra elas, eu iria… não sei, pelo menos tentar dizer…

— Ia se declarar para as suas amigas?

Ya... — Empurrei seu ombro e Min Yoon Gi passou a mão no local, esperando pela resposta, que ele já sabia. — Sei lá… É que as pessoas dão tanto valor à palavras... Eu tentaria dizer alguma coisa que mostrasse que dou valor em tudo o que elas têm feito por mim em todo esse tempo. Aish, sou péssima nisso… — Revirei os olhos, balançando a cabeça.

Bangtan e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora