A independência foi instalada, sem quaisquer anúncios ou avisos e muito menos consideração, na vida de uma garota inteiramente dependente. Apesar do choque, com o tempo, ela lidou bem com sua liberdade, tão bem a ponto de sentir que não precisava, como se não tivesse o direito, nunca mais, de depender de outros. Soava como uma punição, uma maldição...
Sofia abriu a porta da geladeira à procura de algo; logo retirou de lá uma garrafa cheia de soju. Veio até a sala arrastando pelo piso o chinelinho em seus pés, desenroscando com cuidado a tampa que lacrava o produto.
— Por que trouxe só uma? — Vanessa questionou, enquanto Sofia se dava conta do próprio esquecimento, dando meia volta. — Traz mais três!
As quatro bebiam e comiam animadas e descontraídas, conversando sobre algo. A grande porção de frango frito na mesa de centro da sala emanava um cheiro que me deixara faminta, mas apenas meu corpo estava ali, sentado de qualquer jeito no sofá e eu sequer conseguia mover o braço para pegar um pedaço de comida e muito menos mastigá-la; minha mente vagueava por todos os lugares, procurando por qualquer meio, solução ou possibilidade que enfrentasse aquele dilema que, pela lógica, era tão simples… porém, meus pensamentos passavam muito longe da lógica e tudo lá dentro se mostrava tão complicado que a própria palavra, "complicado", não era capaz de expressar tal intensidade; de modo que, se a palavra "complicado" fosse um rio, ele seria tão raso que nem chegaria a cobrir os pés. A lógica estava como que extinta em meus pensamentos pois, por mais que eu desse valor a ela, nada fazia verdadeiro sentido além do fato de que SN ficaria profundamente magoada se eu contasse toda a verdade.
— E para qual data posso agendar o voo?
— Poderia ser pra semana que vem! Ani, que tal amanhã? — SN respondeu Pietra em tamanha afobação.
— Você está animada, SN-ssi! — Sofia exclamou, lambendo os dedos engordurados com a coxinha de frango frito que comia.
— Ne! É que sempre foi o meu sonho ir à ilha de Jeju... Sempre quando via aquela paisagem pela televisão, ficava pensando em quando seria a minha oportunidade. É por isso que estou tão animada! Aigoo, talvez eu nem consiga dormir...
— Você vai pra Jeju!? — Olhei diretamente para ela, que sentava ao meu lado no sofá, quando perguntei, após ter tentado entender, sem sucesso, o que era aquela conversa.
— Omo, onde ela está com a cabeça hoje?— SN reclamou e as outras riram disfarçado, tornando minha confusão sobre o diálogo cada vez maior. — Wa… você realmente não prestou atenção? — ela continuou, incrédula ao se certificar de que eu não estava atenta. — Depois não me venha com perguntas. — Sorriu, levando à boca a garrafa, já pela metade.
— Deixa pra lá…
— Mas se você não sabe do que a gente tava falando, Aninha, por que concordou agorinha há pouco, quando te perguntamos se a SN podia ir à Jeju com a gente? — Sofia sondou e a expressão de confusão contagiou-se em seus rostos.
— Concordei…? Mas então vocês já marcaram a data?
— A cabeça dela não está em terra firme… — SN comentou.
— Acabamos de marcar — Pietra confirmou.
— Hum. — Suspirei, sem dar importância. De qualquer forma, não havia espaço para pensar em mais nada. Assim, apenas ouvi — confesso que não atentamente —, a todos os planos, roteiros, datas e horários que iam sendo combinados, discutidos com uma absurda empolgação e estritamente anotados por Pietra no bloco de notas em seu celular.
— Tem que ser num fim de semana, Pi… — Sofia resmungou.
— Lógico! Tirando você, Patricinha, ninguém aqui é rica a ponto de não precisar trabalhar! — Van jogou uma almofada em Pietra, que apenas ignorou com classe a provocação da garota escandalosa.
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Bangtan e Eu
FanfictionExistem várias estratégias para lidar com conflitos e sentimentos. Para Ana, fugir e ignorar são as que melhor funcionam. Fechada e cheia de segredos, sempre evitando novas amizades e preocupada com as consequências de suas ações, se Ana ao menos im...