Tárcio - Visitar Rose.

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"Minha mãe deu entrada no hospital, os médicos explicaram o que ela tinha para o meu pai, eu não entendi muito bem, mas é algo degenerativo, já estava consumindo ela por dentro a muito tempo. Ela esta internada a duas semanas, não fazem ideia de quando irão dar alta para ela."

Tárcio leu aquela mensagem mais uma vez e imaginou a angústia que Bárbara deveria estar sentindo ao ver a sua mãe daquela forma.

Ele havia chegado em São Paulo e as coisas não eram tão diferentes como no interior, era a mesma Obra, só que em uma escala bem maior. O rapaz havia sido designado para ajudar no trabalho do Hospital e em sua folga aproveitou para fazer a visita para dona Rose.

Ele passou com cuidado sua roupa, penteou seus cabelos com todo o carinho para que ele ficasse no lugar. Por mais que fosse fazer uma visita para a mãe de Bárbara, ele não poderia negar o fato de que seu coração batia mais rápido só de pensar em ver a moça.

O hospital não era longe da sede que ele estava e pegar ônibus não foi uma tarefa tão difícil quanto ele pensou, se ele se perdeu, foram umas cinco vezes. Poucas, na cabeça de Tárcio.

Assim que Tárcio foi liberado para entrar na ala que Bárbara estava, seus olhos a procuraram, mas não precisou de muito esforço, por mais que só tivesse visto ela uma vez, era como se a conhecesse há muito tempo.

Bárbara o reconheceu também e correu até ele o abraçando. Tárcio sentiu suas bochechas queimarem de vergonha, mas ao perceber que Bárbara chorava, sabia que não tinha maldade nenhuma naquele abraço.

-Ela vai morrer... -Bárbara soluçou nos braços do rapaz.

-Ei, se acalme! -Ele a segurou pelos ombros para poder olhar em seus olhos. -Vai ficar tudo bem.

Tárcio tentou passar confiança para Bárbara, os olhos da garota estavam vermelhos como se ela houvesse chorado muito. Ela não havia mudado muito em seis meses, mas havia algo diferente em Bárbara... Seu brilho... Aonde estava?

A garota limpou as lágrimas e seu pai chegou. Os dois se cumprimentaram, ao contrário de Bárbara, Nelson estava em paz. Era nítido que estava sofrendo pela esposa, trinta anos de casados não se jogava fora tão facilmente assim, mas ele sabia que Deus não o desampararia.

-Fico feliz que esteja aqui, Pastor. -Nelson sorriu. -Vai gostar de São Paulo.

-Eu não tenho dúvidas... -Ele suspirou. -E a sua esposa?

-O senhor quer vê-la? -Tárcio concordou. -Bárbara, acompanhe o Pastor até o quarto da sua mãe. Eu acabei de sair de lá, ela está acordada.

Tárcio seguiu Bárbara em silêncio. Ambos não trocaram nenhuma palavra até o quarto e o rapaz respeitou o silêncio da moça, falar que São Paulo era uma cidade bonita não era adequado no momento.

Os dois entraram no quarto e se aproximaram do leito:

-Mãe? -Bárbara a chamou sussurrando.

Os olhos de Rose se abriram e ela sorriu:

-Oi, minha Barb... -Rose respondeu fracamente.

-Tenho uma visita para a senhora... -Tárcio entrou no campo de visão da mulher. -Lembra do Pastor Tárcio?

-Como eu poderia esquecer? -Ela riu fracamente. -O Pastor que queria o celular da minha filha! -Tárcio sorriu. -Bárbara, estou com sede... Pode buscar água?

Bárbara concordou e saiu do quarto.

-Como a senhora está? -Tárcio perguntou.

-Estou salva, Pastor. -Ela sorriu fracamente. -Independentemente do que acontecer, eu estarei com o Senhor Jesus. Foi muito gentil da sua parte vim de Minas só para me ver!

-Fui transferido para São Paulo há duas semanas.

-Estou incrivelmente feliz por conhecer o homem que irá ficar com a minha filha a fazendo feliz...

As bochechas de Tárcio queimaram em vergonha:

-Dona Rose...

-Dá para perceber nitidamente que o senhor tem interesse na minha filha, Pastor. Eu estou doente, mas não estou cega.

-Acha que ela tem o mesmo interesse? -Ele perguntou cauteloso.

Rose deu uma risada fraca:

-Minha filha é uma mulher fácil de se ler, logo você saberá se ela sente o mesmo interesse. -Rose começou a tossir fortemente, quando finalmente conseguiu se acalmar, ela sorriu tristemente: -Uma pena que eu não estarei aqui para ver o casamento de vocês dois.

-Não fala isso...

-Nós dois sabemos que não, Pastor. Fiquemos pois em paz! Peço apenas que faça uma oração por mim e pela minha família!

Tárcio segurou a mão gelada de Rose e fez uma breve oração. Quando ele terminou, Bárbara havia voltado e o olhava fixamente.

-Oi. -Ele a cumprimentou sem graça e sem saber o que fazer.

-Oi. -Ela sorriu.

Bárbara serviu a água para sua mãe e os dois conversaram com a mulher por algum tempo, até que ela pediu para que seu esposo entrasse. Os dois jovens saíram do quarto e se sentaram na sala de espera.

Era bom conversar com Bárbara, mas era melhor ainda conversar pessoalmente com a moça. Ele sabia que se pudesse, ficaria o dia todo apenas escutando Bárbara falar, falar e falar. A voz dela era calma, e por mais que seu coração estivesse agitado, todo o resto estava em perfeita harmonia com a voz da moça.

O tempo pareceu correr ainda mais rápido e quando Tárcio olhou seu relógio já iria dar seis horas da tarde, era hora dele voltar para sua igreja, por mais que ele quisesse ficar, ele tinha obrigações a serem realizadas.

-Obreira, eu preciso ir embora. -Ele disse se levantando tristemente.

Mas antes que ela pudesse responder, Nelson apareceu na sala chorando:

-Pai? O que aconteceu? -Nelson não precisou responder. -Não, não, não! A mamãe não! -Ela choramingou. -Não, por favor! -Ela correu, mas Nelson a segurou em seus braços e o mundo de Bárbara caiu.

Tárcio engoliu em seco sem não ter mais o que fazer.

Canção de um servo.Onde histórias criam vida. Descubra agora