Tárcio - Obedecer é melhor do que sacrificar.

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Os membros começavam a chegar e por mais que Tárcio não admitisse, ele estava nervoso. A todo momento ele olhava para o seu reflexo no vidro da porta para ver se estava tudo certo.

-Tárcio! -O Pastor Kléber apareceu e o olhou de cima a baixo. -Você tem certeza que essa gravata pertence a você?

-Tenho. -Tárcio respondeu sem hesitar. -Mesmo que seja apenas para lavar banheiro... Eu tenho certeza que o meu lugar é aqui.

O Pastor Kléber concordou:

-Não saia daqui! Nem para ir no banheiro, não saia daqui! Ouviu?

-Sim, senhor!

-Quando eu te chamar não hesite, vai sem olhar para trás.

-Sim, senhor.

O Pastor saiu andando e Tárcio sorriu em silêncio.

A reunião já havia começado e era o Bispo que estava fazendo. Ele fez a oração inicial e começou a falar sobre a importância do Espírito Santo.

E realmente, Tárcio sabia que o Espírito Santo era o bem mais importante de sua vida. Era Ele que o fazia continuar olhando para frente.

-Tárcio? -O Pastor Ícaro apareceu ao seu lado assustado.

-O que você quer? -Sem desviar a sua atenção do que o Bispo falava.

-Acho que eu sei o porquê que o Júlio César saiu...

Tárcio o olhou.

-Como assim?

-E acho que podemos descobrir aonde ele está! Dá para nós irmos lá e falar com ele! Quem sabe com você falando ele não vê que é a pior escolha que ele pode tomar?

O coração de Tárcio se encheu de esperava. Não era só o seu amigo, ele era uma alma!

-Como?

-Eu estava procurando uma escova para os meus sapatos, e achei algumas coisas escritas em um caderno dentro daquele quartinho da limpeza! Eu não li muito, mas o pouco que eu li, tenho certeza que era do Júlio! Mas aí eu já pensei em você, e vim busca-lo! Vamos? -Ele falou e se virou para começar a caminhar, mas Tárcio hesitou.

-Não posso.

-Qual é, Tárcio?

-O Pastor Kléber pediu para que eu ficasse aqui.

-Ah! Ele também me pediu, mas a reunião acabou de começar, a gente vai lá e volta, ninguém vai sentir a nossa falta!

-Eu não sei...

-Anda, Tárcio! É rápido! Eu também tenho que estar aqui!

Tárcio sabia que não deveria ir, mas ele suspirou. Garantiria que seria rápido. Ele pegaria o caderno e voltaria para o salão.

Ambos caminharam a passos largos e chegaram ao quarto onde a salinha da limpeza se encontrava.

-É essa sala aí! -O Pastor Ícaro apontou com o queixo.

Tárcio abriu a porta com toda a força. Era uma sala pequena, cheia de vassouras, panos, desinfetante e todos os utensílios para a limpeza. O rapaz já ia abrir a boca para perguntar aonde estava o tal caderno, quando sentiu um empurrão em suas costas o fazendo perder o equilíbrio e cair dentro da pequena salinha.

-Mas o que está acont... -Ele se virou para olhar para o Pastor Ícaro, mas a porta se fechou da pequena sala. -Pastor?! Pastor Ícaro?! -Ele bateu na porta e tentou girar a maçaneta, mas sem sucesso. Ele estava trancado. -Pastor!

-Desculpa, Tárcio. -A voz abafada do Pastor Ícaro chegou até ele.

-Por favor, para de brincadeira!

-Eu não estou brincando!

-Então me deixe sair! -Ele gritou.

-Não posso deixar que você volte a ser Pastor. Até breve, Tárcio!

Passos e outra porta se fechando. Tárcio sentiu a adrenalina percorrer o seu corpo e começou a forçar a porta. Jogou seu ombro três vezes contra a porta, mas nada adiantava. Antes de ser uma sala de limpeza, ela havia sido para produtos químicos e altamente inflamáveis, a porta não era como as outras, ela era de ferro e por mais que Tárcio houvesse já arrombado diversas portas, seu ombro reclamou e ele sentou no chão respirando fundo.

Lágrimas escorreram pelo seu rosto. Ele iria perder a oportunidade da sua vida.

Canção de um servo.Onde histórias criam vida. Descubra agora