Tárcio - Eu escolho o Altar.

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Bárbara andou de cabeça baixa atrás do Pastor Rodríguez. Tárcio respirou fundo, ele sabia que a moça estava em boas mãos, ele via no olhar daquele Pastor que ele a tinha como uma filha. Era certo que colheriam os frutos daquele erro, mas Bárbara se sairia bem.

Já Tárcio... Ele duvidava muito.

O Pastor Vinícius estava sentado a sua frente em silêncio enquanto escrevia algumas coisas em uma ficha.

Ele era uma ótima pessoa. Um homem calmo, bem humorado e amigo para todas as horas. Tárcio o considerava de mais, mas naquele dia ele via uma expressão que não conhecia no rosto amigável de Vinícius.

Decepção, raiva e tristeza.

-Por que não me disse que gostava de uma Obreira? -Ele perguntou ainda sem olhar para ele.

-Não sabia se ela gostava de mim mesmo, Pastor...

-O que você está pensando que eu sou, Tárcio? -Os olhos dele faiscavam. -Acha que eu sou trouxa?

-Não, senhor...

-É óbvio que você sabia que ela gostava de você! -Ele gritou. -Nenhuma moça que nasceu na igreja se entregaria assim! -Ele se levantou. -Você se aproveitou da inocência da garota!

-Não, senhor... Eu posso explicar! -Tárcio sentiu a garganta se fechar, mas antes que pudesse continuar a sua defesa, um tapa do lado esquerdo de seu rosto veio a tona.

-VOCÊ QUER JUSTIFICAR SEU ERRO, MULEQUE?

-Não, senhor... -Tárcio reprimiu as lágrimas de vergonha.

-Você já teve uma vida fora, Tárcio! Se quisesse, então usava qualquer mulher por aí! E não uma Obreira! Já imaginou como ela deve estar? Um exemplo que se deixou levar por sua culpa! -Tárcio engoliu em seco. -VOCÊ PENSOU APENAS NA SUA NECESSIDADE E SEU PRAZER! NÃO PENSOU NA GAROTA! -O rapaz abaixou a cabeça. -Olha para mim! Não adianta ficar com vergonha agora! O erro já está cometido! Agora você irá colher os frutos de erro!

-Eu estou pronto, Pastor. Para assumir qualquer erro, por isso estou aqui. -Ele suspirou. -Eu já estava mal, Pastor. Eu poderia ter escondido o meu erro, mas isso iria acabar com as chances de manter a minha salvação.

-Tárcio, você é do Altar? -Vinícius olhou bem fundo em seus olhos.

-Não me imagino fora dele. -Ele falou sem hesitar.

-Você irá voltar para Minas Gerais. -O Pastor Vinícius falou. -A igreja continuará te ajudando, mas você não é mais Pastor. -Tárcio mais uma vez lutou contra as lágrimas. -Você tem como voltar, levará um tempo, mas por sua humildade, você poderá voltar. Você só precisa seguir tudo o que eu falar.

-Eu quero, Pastor Vinícius. Eu estou pronto para seguir tudo. Para obedecer!

-Você irá esquecer que a Obreira Bárbara existe. -Tárcio sentiu seu coração se apertar. -Irá me devolver o seu celular, não irá ligar, manter contato, carta ou sei lá o quê. A Bárbara não é a mulher para você! A menos que queira desgraçar a sua vida, continue mantendo contato, diga que eu o proibi... Seja covarde.

Tárcio fechou os olhos controlando a dor que sentia.

***

Quando ele abriu a porta do escritório. Bárbara estava sentada em um dos bancos com os olhos fechados. Seu rosto estava vermelho como se tivesse chorado durante a conversa inteira com o seu Pastor.

Ele queria a pegar nos braços, a consolar. Mas Bárbara precisava de ajuda, e infelizmente ele não poderia dar.

Assim que ela o viu, Bárbara se levantou e correu até ele:

-E aí? -Tárcio perguntou.

-Fui removida de Obreira... -Ela engoliu em seco. -Mas você tinha razão, não adiantaria nada eu esconder... O Pastor Rodríguez irá me ajudar a voltar...

Tárcio podia ver nitidamente como aquilo doía em Bárbara. Ser Obreira, ajudar as pessoas era tudo que ela gostava... O que ele havia feito?

Por mais que ele quisesse continuar com Bárbara, ele sabia o que era o certo a se fazer.

-Eu disse que ficaria tudo bem... -Ele forçou um sorriso.

-E você? O que aconteceu? -Ela tocou no braço dele confortavelmente.

Tárcio abriu a boca para responder, mas o Pastor Rodríguez apareceu:

-Bárbara, vamos. Eu irei te levar de carro para a igreja, seu pai está nos esperando.

Um medo de instalou nos olhos de Bárbara e Tárcio colocou sua mão sobre a da garota.

-Depois eu te conto tudo. Nós vamos passar por isso tudo, e no final vai dar tudo certo.

-Eu sei, Tárcio! -Ela sorriu. -Vamos permanecer juntos. -Tárcio tentou não demonstrar nada de suas emoções, apenas sorriu. -Até amanhã, Tárcio. -Bárbara apertou sua mão.

Tárcio soltou sua mão e a segurou pelos ombros:

-Independentemente do que acontecer, Deus está com você, Obreira Bárbara. -Ele falou. Bárbara abriu a boca preocupada, mas ele balançou a cabeça. -Eu preciso ir.

Ele se virou e sentiu seu coração como se tivesse partido em dois. Quando deu por si, as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

-Desculpa, Bárbara. Mas eu escolho o Altar. -Ele sussurrou para si mesmo quando estava longe.

Canção de um servo.Onde histórias criam vida. Descubra agora