Tárcio - A dificuldade de ter um filho na Obra.

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Tárcio não conseguia conter o sorriso que formava em seus lábios. Quanto tempo ele não havia imaginado Bárbara voltando, eles dois ficando juntos... Aquilo nem parecia real...

Ele queria abraça-la, tocar seus cabelos, mas ele não conseguia nem se mexer, estava acontecendo.

-Você aceita? -Ele gaguejou incerto.

-Aceito.

-Mas você sabe, vai ser difícil, nós temos um filho e tudo mais...

-Está com medo agora, Tárcio? -Ela arqueou uma das sobrancelhas como se o desafiasse.

-Não! -Ele sorriu. -Mil vezes, não. Vamos agora falar com o meu Pastor! -Tárcio fez a menção de se levantar.

-Agora? -Bárbara o olhou assustada.

-Se eu ficar mais um tempo longe de você, não sei o que sou capaz de fazer. -Ele falou sem ter noção exatamente do que dizia.

Tárcio delicadamente pegou Gustavo no colo, ele era mais pesado do que parecia e se levantou, ajudando Bárbara.

Os dois foram para a igreja em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. O nervosismo era claro... E se o Pastor os proibisse mais uma vez? E Gustavo? O que aconteceria?

Tárcio olhou para o céu mais uma vez antes de entrar na igreja e sussurrou:

-Que seja feita mais uma vez a Sua vontade, meu Pai.

Eles caminharam até o Pastor que estava sentado em uma mesinha ao lado do Altar.

-Pastor, posso conversar com o senhor? -Tárcio falou limpando a garganta.

O Pastor Júlio levantou o rosto e observou Tárcio e a jovem que segurava Gustavo em uma das mãos agora acordado.

-Pois não? -Ele se levantou e estendeu a mão para Bárbara. -Posso ajudá-la?

-Meu nome é Bárbara, Pastor. -Ela respondeu com as bochechas ficando vermelhas.

O Pastor franziu as sobrancelhas:

-Seu nome não é estranho...

-Pastor, essa é a Obreira da minha história. -Tárcio respondeu.

-A Obreira que você...?

-Sim. -Tárcio não deixou ele terminar a frase. -E esse aqui é o meu filho.

O Pastor ficou branco como a neve:

-Filho?

-Sim, senhor. Bárbara ficou grávida de mim, e eu só tive a oportunidade de saber depois de dois anos... Agora eu quero assumir esse filho. -Ele falou sorrindo.

-Tárcio... -O Pastor passou a mão pelo rosto mostrando o quão cansado estava. -Você sabe que as coisas não são assim... Um filho... Você é Pastor...

-Eu sei, mas eu estou disposto a lutar...

O Pastor olhou para Gustavo e concordou em silêncio:

-Ok, vou encaminhar vocês para o Bispo Lopes, veremos o que ele vai fazer.

***

Tárcio sentia suas mãos tremerem e por mais que Bárbara tentasse acalma-lo, nada adiantava. Até Gustavo que quase sempre ficava inquieto, estava sentado na cadeira do escritório como se soubesse que aquele não era um momento adequado para brincadeiras.

Tárcio já havia visto o Bispo Lopes apenas duas vezes em toda a sua vida, mas havia escutado inúmeras histórias sobre ele. Ele era muito rígido em relação a Obra, prezava pela boa conduta e qualquer erro era efetivamente corrigido.

Canção de um servo.Onde histórias criam vida. Descubra agora