Tárcio - O desejo da carne.

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Era segunda-feira e o tempo de São Paulo parecia querer competir com o calor de Minas Gerais.

Tárcio voltava de uma visita que havia feito no hospital. Sua garganta estava seca, ele precisava chegar na igreja o quanto antes e resolveu ir pelo caminho mais rápido. O rapaz tinha o mesmo caminho de sempre, mas naquele dia resolveu inovar.

Se ele soubesse o que estava por vir, não se importaria em ir pelo caminho mais longo.

Ele andava observando as casas daquela rua, quando a viu.

Bárbara estava agachada brincando com dois cachorrinhos. O coração de a Tárcio começou a bater mais rápido, ela havia comentado que trabalhava aos finais de semana perto da sede, mas como Tárcio estava sempre ocupado, nunca sequer tinha se importado em perguntar.

Ele caminhou até o portão:

-Então quer dizer que é aqui que a senhorita trabalha?

Bárbara se levantou assustada, mas ao ver quem era, abriu um sorriso enorme:

-Pastor Tárcio!

Ele sorriu também:

-Achei que só trabalhasse nos finais de semana.

-A dona da casa pediu para que eu ficasse até quinta-feira aqui. -Ela se aproximou do portão. -Estava fazendo visita?

-Sim... -Ele se abanou. Aquela camisa do grupo da Evangelização era quente de mais.

-O senhor deve estar morrendo de calor! Quer beber água?

-Por favor!

-Entra!

Tárcio hesitou, Bárbara estava sozinha naquela casa... Não era certo ele entrar...

"Mas é só um copo de água!"

Ele olhou para o sorriso inocente da garota e concordou. Seria só um copo de água.

***

Um copo de água que quando Tárcio se deu por si, os dois já estavam conversando a quase vinte minutos. Ele sabia que tinha que ir embora, mas toda vez que pensava nisso, Bárbara arranjava outro assunto ainda melhor que o outro. Ele adorava conversar com a garota, e como certamente não tinha nada na igreja que ele precisasse fazer, Tárcio se deu ao luxo de ficar ali por mais alguns minutos.

-Não é ruim ficar aqui quase o dia inteiro sozinha com os cachorros? -Ele perguntou se levantando para colocar o copo na pia e olhando para Bárbara que estava em pé ao lado da mesa.

-É melhor ficar aqui do que na minha casa sozinha... -Ela sussurrou. -Para tudo que eu olho, eu me lembro dela. É como se tudo tivesse acontecido ontem!

-Bárbara, você precisa ser forte... -Ele se aproximou dela.

-Mas dói tanto, Tárcio! -Ela abaixou a cabeça tristemente.

-A dor nos transforma, Bárbara. -Ele tocou no queixo dela levantando o seu rosto para que ela o pudesse encarar. -Você é jovem ainda tem uma vida e tanto pela frente. -Tárcio respirou fundo sentindo o cheiro do perfume de Bárbara entrar em seu nariz. Era doce, confortável e delicado.

-Realmente, eu ainda tenho muita coisa para viver. -Ela se aproximou ainda mais dele.

A garganta de Tárcio secou novamente, mas dessa vez não era sede por água, mas um desejo enorme começou a correr pelas veias do rapaz. Desde quando ele havia se convertido de verdade, Tárcio abriu mão de qualquer prazer que tinha no mundo, havia feito um compromisso com Deus que iria esperar pela pessoa certa, que iria sacrificar seus desejos todos os dias, mas era difícil quando seu corpo implorava por qualquer contato físico.

Se já era difícil para alguém que sequer tinha tido uma vida fora da igreja, imagine para alguém que havia vivido a vida que Tárcio viveu.

Mas nada era impossível quando dentro de si havia determinação em agradar a Deus. Quando sua cabeça não estava vazia e seu espírito estava fortalecido.

Quando havia sido a última vez que Tárcio havia lido a Bíblia? Feito um jejum para se fortalecer? Ou pedir misericórdia a Deus para que não caísse em tentação?

Ele a envolveu em seus braços e sentiu a respiração de Bárbara contra o seu pescoço.

Ele a queria. Ele precisava beija-la.

Canção de um servo.Onde histórias criam vida. Descubra agora