Tárcio - Fome.

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A barriga de Tárcio fez um barulho o avisando que já estava passando da hora dele ir comer alguma coisa. Finalmente, quando todos os Pastores se reuniram para jantar, Tárcio agradeceu silenciosamente.

Ele caminhava até aonde estavam as panelas e quando se aproximou para pegar seu prato, o Pastor Kléber apareceu:

-O que pensa que está fazendo? -Ele perguntou.

-Estou colocando a minha comida, Pastor.

-Você já fez as coisas que eu mandei?

-Sim, senhor.

-Já levou as roupas?

-Sim.

-Arrumou as cômodas?

-Sim.

-Limpou as janelas?

-Sim, senhor. Fiz tudo o que me pediu.

O homem o analisou de cima a baixo e deu um breve sorriso:

-Engraxou os sapatos?

-Não... Eu ia jantar primeiro...

-Larga esse prato! -Ele gritou. -Enquanto achar que as coisas devem ser feitas no seu tempo, vai atrair ainda mais maldição para si mesmo!

Mesmo com a barriga reclamando, Tárcio concordou. Colocou o prato de volta a mesa e caminhou para o quarto dos Pastores. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, o rapaz já havia perdido as contas de quantas vezes havia perdido o horário da refeição porque o Pastor Kléber se lembrava de algo que ele precisava fazer.

Ele não sabia se era de propósito, e por mais que o diabo tentasse colocar maus olhos, Tárcio fazia de tudo para manter seu corpo iluminado.

Depois de engraxar todos os sapatos possíveis ele foi até a cozinha, mas não tinha mais nada. Apenas alguns restos e as louças sujas que ele deveria limpar.

Naquele dia todos os Pastores tinham que ir dormir cedo, não tinham propósitos para fazer e no dia seguinte deveriam estar logo cedo na primeira reunião da catedral. Eram quase duas horas da manhã quando finalmente Tárcio terminou tudo e foi para cama.

-Tárcio? -Júlio César o chamou baixinho.

-Ainda está acordado?

-Não estou conseguindo dormir. -A barriga de Tárcio roncou. -Que barulho é esse?

-Minha barriga. -O rapaz respondeu colocando a mão sobre ela.

-Nem parece que jantou!

-Mas eu não jantei, César.

O rapaz se levantou e se sentou em sua cama:

-Como assim, Tárcio?

Então o rapaz explicou o que havia acontecido e que aquela não era a primeira vez:

-Mas não precisa ficar preocupado, César. Antes de eu me converter, já passei por isso, não é nada de mais!

-É claro que é! -Júlio falou abrindo uma de suas bolsas e tirando três pacotes de bolachas que havia lá dentro colocando ao lado de Tárcio. -Eu só tenho essas, mas amanhã eu deixo metade do meu almoço para você.

-Não precisa.

-Para de ser gentil! -Ele deu um tapa em Tárcio. -Eu nem como tudo! E somos amigos! Enquanto eu estiver aqui você não irá passar fome. -Ele se virou e deitou em sua cama.

Tárcio tocou nos pacotes de bolacha e sorriu agradecido:

-Obrigado, César.

Canção de um servo.Onde histórias criam vida. Descubra agora