Histórias no lago

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[...] Passou por ela e entrou na casa [...]

Ivy tencionou o maxilar respirando fundo olhando fixamente para a porta onde John havia passado. Se pudesse quebrar algo com certeza seria aquela porta. De repente uma risada forte veio do outro lado da varanda. Ivy olhou para o lado e ficou ainda mais furiosa quando viu quem era:
- Há! Há! Há! Eu devo admitir que você é persistente – Ele bateu palmas se aproximando.
- O que está fazendo aqui Connor?
- Vendo você tentar roubar outra vez o que é da Natasha... E também sou da família – Abriu os braços dando de ombros.
- Eu não estou tentando roubar nada
- Ah não?! Então porque convidou o John para ir ate a praia em um passeio romântico a cavalo?
- Não seria um passeio romântico, eu apenas quis ser gentil
- Faça isso servindo um copo d'água ou quando pedirem sua ajuda, mas não oferecendo uma saída com o namorado da sua prima. – Cruzou os braços.
- Eu já disse que não ia fazer nada – Respondeu com raiva.
- Ivy poupe seu fôlego, a mim você não engana. Tudo o que a Nat traz de novo você tenta roubar ou ter igual. Admita, você morre de inveja dela.
- Você é um estúpido. Eu não vou admitir nada, porque não é verdade. Você e todos aqui sempre estão do lado dela, e eu sempre sou humilhada de alguma forma e nunca fazem nada.
- Viu só, acabou de admitir. Você tem ciúmes dela desde quando eram pequenas e sinceramente eu nunca entendi o porquê, a Nat é legal com todos aqui, tentou se aproximar ate de você, mas como sempre você a afastou.
- Natasha não é o que todos pensam, ela é chata, egoísta, quer a atenção de todos, sempre implicou comigo, nunca gostou de mim.
- Está descrevendo a Natasha ou a você mesma?
Ivy ficou muda apenas uma expressão perdida no olhar:
- Ivy eu vou dar um conselho, para de tentar ser igual a Nat, não dá em cima do namorado dela, tenha um pingo de vergonha e seja você mesma. A Nat é uma pessoa muito legal, mas todos tem um limite, ninguém sabe como ela pode reagir quando estiver de saco cheio desse seu jeito.
- Ela me odeia
- Hunf – Connor deu um passo segurando-a pelo braço – Sabe qual é a maior mentira que poderia contar? Que você é a vítima de toda essa história – Ele a olhou fixamente e então a soltou tomando o mesmo caminho que John.
Ivy passou os braços em volta do seu corpo e se pôs a chorar, então correu o mais rápido que podia para além do campo:
- Minha linda – John chamou Nat quando a viu voltando para dentro de casa.
- Oi – Sorriu de canto.
- Onde estava? Procurei você pela casa toda
- Eu fui pegar o jornal para o vovô lá na caixa de correio – Ficou na ponta dos pés para dar um beijo em seu rosto – Eu vi a Ivy correr na direção do campo fechado, eu chamei, mas ela não escutou. É um pouco perigoso ir para lá, tem muitos insetos e bichos peçonhentos, fora as raízes das árvores e muitas pedras.
- Ela vai ficar bem, com certeza conhece o local – Deslizou as mãos sobre os braços dela.
- Espero que sim, apesar de não nos darmos bem não quero que nada de mau aconteça com ela.
- Eu sei – A abraçou.
- Oh! Encontrei você John – Taylor entrou na cozinha.
- Deseja alguma coisa senhor Donovan?
- Sim, queria saber se gostaria de ir comigo pescar?
- Ah! Faz tempo que não pesco
- Imagino, mas tenho certeza que Mark te ensinou tudo o que achava que sabia
- Há! Há! Há! É, ele ensinou sim
- Quer ir? Rick, Alan e meu pai também vão
- Ah... – Ele olhou para Natasha.
- Vai lá amor, eu sei o quanto você gosta de pescar
- Mas e você? Nós planejamos fazer um passeio
- Não se preocupe, podemos ir outra hora, vai se divertir um pouco, eu vou ficar aqui e ajudar minha avó com o almoço.
- Tudo bem mesmo?
- Sim, é claro. Vai lá, a gente se vê depois do almoço
- Ok! Ate depois – A beijou rapidamente e seguiu Taylor.
Eles seguiram para o outro lado do lago, onde não tinha casas e poucas pessoas estavam em seus barcos praticando o mesmo esporte. Taylor e John ficaram em um barco, Robert, Rick e Alan ficaram no barco maior. Era bem divertido ver o Taylor e seus cunhados pescando, se atrapalhavam a maior parte do tempo, mas pelo menos conseguiam pegar um peixe ou outro.
Depois de umas duas horas, eles foram para o lado onde tinha mais sombra para se refrescar um pouco. Taylor continuou com sua vara mergulhada na água, mas a engatou no barco. Tirou o chapéu da cabeça e passou a mão em seu cabelo e soltou um longo suspiro. Pegou a garrafa de água ao seu lado e virou sobre seu rosto tomando o que restou.
- O senhor é muito bom em pescaria
- E você sabe mentir bem para agradar
- Há! Há! Não estou mentindo – Guardou seu anzol na caixa em frente – Pesca melhor que meu pai.
- Há! Há! Há! Mark fazia o que podia. Lembro uma vez que estávamos nesse lago pescando, tínhamos uma corda dentro do barco, ele pisou em cima dela e arremessou a linha no lago, mas se desequilibrou e acabou caindo na água. Há! Há! Há! Há! Eu nunca rir tanto.
- Há! Há! Há! Eu imagino, aconteceu algo parecido quando nós tínhamos ido pescar ...Vocês eram muito amigos não eram?
- Sim, Mark era meu melhor amigo. Quando cheguei em Nova York com a Susan nos encontramos por acaso, conversamos e contamos nossos planos e no final um acabou ajudando o outro. Você tinha um ano na época, Susan estava grávida do Ethan.
- Então me conheceu desde pequeno
- Sim, eu só não sou seu padrinho porque conheci seu pai um ano depois que nasceu. Quando Ethan conseguiu andar vocês dois iam para cima e para baixo, nossa como era cansativo ficar atrás de vocês... Susan e Mary ficavam irritadas se não tomássemos conta dos dois.
- Há! Há! Há! Dá para imaginar minha mãe super protetora
- Em pouco tempo veio a Natasha, minha menininha. Você estava com cinco anos.
- Eu não lembro – Sorriu tentando buscar no fundo da memória alguma recordação com Natasha.
- É eu sei. Você a chamava de Nati, porque achava complicado falar o nome dela – Riu olhando para o piso do barco.
- Eu achava? – Olhou para ele com um divertido sorriso.
- Sim, ate perguntou para Susan porque tínhamos escolhido um nome tão estranho
- Meu Deus Há! Há! Há! Há! Como eu era bobo, eu acho o nome da Natasha lindo.
- Depois que aprendeu a falar ele direito começou a gostar Há! Há! Há! – Taylor suspirou olhando para o rapaz – Você tinha certo apego a ela, gostava de ficar por perto, as vezes ela chorava e você era o primeiro a correr para tentar acalma-la, mesmo sem saber o que fazer.
John abaixou a cabeça sorrindo esfregando suas mãos. Era apegado a ela desde bebê, chegava ate ser cômico:
- Era engraçado. Quando íamos visitar seus pais nós nos reuníamos no jardim, você gostava de sentar na escada perto da grama e pedia para ficar com a Natasha nos braços, Ethan sentava do seu lado e os três ficavam ali conversando e olhando a cada minuto ela.
- Eu cheguei a carregar Natasha?
- Sim, várias vezes. Quando ela estava no carrinho você ia de vez em quando olha-la para se certificar de que estava dormindo. Susan dizia que você era mais mãe do que ela.
- Há! Há! Há! Eu não sabia disso, eu lembro que quando Nat era maior nós brincávamos bastante com o Ethan.
- Sim, você gostava muito dela.
- Desde pequeno – Riu de si mesmo.
- Pois é! E veja só onde viemos parar – Riu coçando a cabeça – Quando Nat nasceu seu pai disse que vocês podiam namorar um dia, naquela hora eu quis socar a cara dele, mas olha o que aconteceu. Quem diria que um dia você e minha filha realmente iriam ficar juntos?! Pela forma como você a tratava, sempre se preocupando, eu jurava que iam ser como dois irmãos. Mas foram mais que isso hein?!
- Foi impossível resistir. De acordo com o que disse, já mostrava meu amor pela Nat desde sempre.
- Verdade. Foi uma pena quando Mark teve de ir morar em Londres, vocês voltavam poucas vezes.
- É, quando meu pai disse voltaríamos a morar aqui eu não quis voltar, já estava acostumado com o ritmo de Londres, com meus amigos e meu colégio. Papai deixou que eu ficasse e estudasse, mas com a condição que eu tomasse conta da agência.
- Você fez um bom trabalho
- É, só que não achei que voltaria para Nova York por um motivo tão triste – Olhou para seus dedos.
- Ei – Inclinou-se para frente pousando a mão sobre o ombro dele – Seu pai amava muito você, e não sabe o orgulho que sentia por ter escolhido a profissão dele. Acredite, ele se sentia o homem mais sortudo do mundo por ter tido você como filho... E eu sei bem como é isso, então, garoto o amor dele por você não era pequeno. Orgulhe-se disso.
- Eu me orgulho... Mas queria que ele também estivesse aqui para ver como progredi.
- Ah, mas ele está vendo, e tenho certeza que está adorando tudo.
John sorriu agradecido por conseguir falar sobre seu pai sem sentir culpa. Ele olhou para o lado e Robert o encarava um tanto desconfiado:
- Acho que seu pai não gosta muito de mim – Falou voltando a olhar para seus dedos.
- Hmm? – Olhou para seu pai, mas o mesmo já tinha virado para o outro lado – Não ligue para isso, meu pai é um pouco birrento quando se trata da Nat, mas ele vai se acostumar com você.
- E por que isso? Digo, parece que todos tem um apego especial pela Nat.
- Bom do lado da minha família é ate compreensível, ela é a única neta mulher. Ao todo somos três irmãos, eu, Charles e Alice, todos tiveram filhos homens, eu fui o único que tive uma menina, por isso Nat foi muita paparicada pelo avô, muito apegada aos dois. Do lado da Susan, ela é a caçula, foi a última a nascer, também bastante mimada pelos avós.
- Nossa – John ficou surpreso.
- Mas toda essa proteção se deu logo no nascimento dela
- Como assim?
- Susan teve complicações no parto, não pôde ter normal, Natasha estava com o cordão em volta do pescoço e quanto mais se passava o tempo menos ela conseguia respirar. Os médicos chegaram a dizer que se algo desse errado devíamos escolher entre salvar o bebê ou a mãe. Claro que Susan escolheu nossa filha. As duas quase morreram... Foram horas aterrorizantes, eu não consigo nem descrever o pânico que senti quando via cada vez mais médicos entrando naquela sala.
John sentiu seu estômago se contorcer ao pensar que Natasha poderia ter morrido antes mesmo de vir ao mundo:
- Por sorte as duas ficaram bem... Quer dizer, exceto Natasha.
- Por quê?
- Natasha não conseguia puxar ar suficiente para os pulmões e ficava sufocada – Taylor passou rapidamente a língua pelos lábios revivendo o dia – Ela nasceu com um problema nos pulmões, eu não lembro o nome, prometi a mim mesmo que esqueceria para evitar qualquer pensamento negativo.
- E o que aconteceu? – O semblante de John era de dor, como se realmente a tivesse perdido. Ela nunca lhe contara essa história, e ficava se perguntando o que teria acontecido caso ela tivesse morrido. Ele expulsou esses pensamentos terríveis e se concentrou na história.
- Por causa da falta de ar, não chegava oxigênio suficiente ao cérebro, então ela sofria desmaios, sempre que chorava sufocava e todos corriam para socorre-la. Foi um pesadelo que durou um mês. Eu lembro que chorei por horas quando o médico nos disse que tinha poucas chances dela se salvar. Eu me agarrava a Susan e implorava para que tudo ficasse bem com minha menina, que ela saísse viva daquela situação, quando descobrimos que era uma garota ficamos tão felizes, eu sempre quis uma menina, e não podia acreditar que depois de tudo simplesmente a tirariam de mim. – Taylor limpou uma lágrima que escorreu.
- Eu sinto muito, nunca soube disso, não consigo nem imaginar seu desespero. Só me falando eu já estou me sentindo desesperado, como se ela realmente tivesse ido.
- Desculpe.
- Não, tudo bem. Continue.
- Eu era o pai, o homem da família, mas não tinha forças, foi Susan que me amparou, ela foi corajosa por nós dois, todo o tempo me dizia que tudo ia ficar bem, que nossa Natasha logo iria para casa. E ela estava certa, o tratamento começou a dar resultado, em pouco tempo os aparelhos foram retirados, ela já conseguia respirar sozinha, podíamos alimenta-la sem precisar do soro, ela chorava e não sentia falta de ar. Ah! Eu amava quando ela chorava, porque me lembrava de que ela estava viva. Minha menina foi forte e teimosa ate o fim, uma enfermeira tinha de ficar ao lado do berço dela dia e noite, pois ela puxava o tubo de oxigênio porque incomodava. Há! Há!
- Então a teimosia vem de berço
- Com certeza – Ajeitou-se em seu banco pousando as mãos sobre as coxas – Mas minha menina foi valente, ficamos com medo de que ela tivesse alguma sequela grave, mas o médico afirmou que tudo o que ela teria seria asma, então ficávamos de olho quando ela adoecia, tínhamos sempre remédios e bombinhas para o caso dela sentir falta de ar. Quando a Nat ficou maior nós a colocamos na natação, melhorou bastante e com o passar dos anos a asma diminuía ate deixar de ser um problema, e agora minha menina está aí grande, forte, linda e principalmente, viva.
- Sim, eu agradeço por não ter desistido dela, pois apesar de terem ganhado uma filha eu ganhei o melhor presente de todos, ter alguém com quem dividir minha vida. Natasha é tudo para mim.
- Eu sei disso John, e não sabe a alegria e tranquilidade que me dá que minha filha tem alguém como você para protege-la quando eu não estiver por perto para fazer isso. E eu jamais teria desistido da minha menina. Quando o médico avisou que ela poderia não sobreviver, eu lembro que sentei do lado do berço dela segurei sua mãozinha e ela apertou forte, eu disse que queria que ela vivesse que fosse para casa comigo, que conhecesse seu irmão, sua família, mas que se quisesse ir eu entenderia, sofreria, mas entenderia. Não queria que minha filha sobrevivesse e continuasse sofrendo. Eu dei a ela a escolha de ficar ou ir... E ela resolveu ficar.
- Natasha é muito forte, e a mulher mais determinada que já conheci. Na verdade nunca conheci ninguém igual a ela, está sempre puxando minha orelha quando faço algo errado, briga quando tem razão, me abraça quando preciso de consolo e sempre que faço algo certo ela diz o quanto está orgulhosa de mim. – John esboçou um sorriso relembrando todas as brigas e os abraços que tiveram – Apesar de nos conhecermos desde crianças, eu levei muito tempo para encontrar ela, e agora que a tenho não penso em deixa-la.
- Natasha ama muito você, e se ela acredita no seu potencial não vai deixa-lo tão fácil.
- Estou contando com isso – Sorriu – Obrigado senhor Donovan por conversar comigo, falar sobre o passado e por todo o resto, foi muito importante.
- Eu imagino. Eu que agradeço por ter escutado e ter vindo com esse velho aqui apenas para passar vergonha com um pescador que não sabe pescar.
- Há! Há! Há! O senhor ate que conseguiu pegar três peixes.
- Pequenos, mas é válido, e não me chame de senhor Donovan, quando era pequeno sempre me chamava de tio.
- Talvez fique um pouco estranho eu chamar o pai da minha namorada de tio
- É – Meneou a cabeça – Então chame apenas de Taylor.
- Certo! Há! Há! Há! – Eles voltaram a atenção para o outro barco quando Robert puxou um peixe grande e tirou sarro dos peixes pequenos que o filho pegara, Taylor resolveu fazer uma disputa de qual barco pescava mais. Era uma família competitiva. John mostrou seus talentos em pescaria, algo que não aprendera com o pai, mas com o tio que era profissional.


Continua...

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