Tarde longa

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[...] - Caráter – E saiu. [...]

Michelle estava saindo do quarto do pai quando viu John sair do seu bufando de raiva. A primeira impressão que teve foi que ele e Natasha haviam brigado, então se apressou para ver o que tinha acontecido, mas não estava preparada para aquilo. Ficou de boca aberta quando viu Ivy parada ali, segurando a toalha junto ao corpo olhando para um ponto vazio no chão como se sua alma tivesse abandonado seu corpo:
- Ivy? – Deu um passo a frente encarando-a sem reação – O que você fez?
- Nada – Respondeu sem olha-la.
- Sério? De lingerie vermelha e tudo. Ivy qual o seu problema?
- Não venha querer me dar sermão também – Respondeu ríspida virando-se para ela.
- Não, sermão é uma tática inútil com você.
- Arg – Ela deu passos largos para a saída, mas Mich a segurou pelo braço empurrando-a de volta para dentro – Me deixa em paz Michelle.
- Garota o que há de errado com você? E não me venha com aquela ladainha de "a Natasha me tirou tudo" porque eu não acredito e já está ficando cansativo.
- É a verdade
- Não é não, você é tão venenosa que não consegue admitir seu próprio erro.
- O que você quer que eu diga hein? – Abriu os braços se afastando dela enquanto as lágrimas rolavam em seu rosto – Sim, eu tentei seduzir o John, queria transar com ele, e queria que minha linda prima soubesse que seu namorado não é tão fiel e apaixonado como ela pensava... Queria que ela sentisse raiva, humilhação e desespero, os mesmo sentimentos que eu sinto durante anos por causa dela.
- E o que adiantaria depois? O namoro deles acabaria, ela ficaria mal por um tempo, mas quando estivesse recuperada seguiria em frente e arranjaria outro – Mich sabia que Natasha jamais se recuperaria do fim da relação com John, mas para Ivy isso poderia ser omitido. – E aí? Você ia notar que não importa quantas vezes tentasse ela sempre se recomporia e daria a volta por cima?
- Tudo pra ela vem fácil, eu sempre tive que suar para conseguir o que eu quero
- E por que acha que ela não dá duro também para conseguir alcançar seus objetivos?
- Ela nasceu em berço de ouro, todos amam ela, nunca foi preciso mover uma palha para ter nada.
- Há! Há! Há! E eu achando que você por ser obcecada saberia tudo da vida dela. Garota nada foi fácil, sim ela nasceu em berço de ouro, mas nem por isso tio Taylor e tia Susan facilitaram as coisas. Nat sempre teve que tirar boas notas na escola, passar de ano e não causar problemas senão não viajaria de férias, e ainda ficaria de castigo. Ela deu um duro danado para entrar na faculdade, o sobrenome da família não pesou em nada na bolsa que ela ganhou, e caso não saiba ela está trabalhando como secretária da secretária na agência. Ela está começando de baixo, e não do topo como você pensa.
- Ela sempre teve os melhores, em todos os quesitos.
- Porque ela soube escolher, soube aproveitar o que lhe foi dado – Michelle pousou as mãos nos quadris – Sabe Ivy há anos eu escuto você culpando a Nat por tudo de ruim que acontece na sua vida, falando que ela é isso e aquilo, todos nós já sabemos suas falas, mas sabe o que eu não vejo? Uma mudança. Se você acha que a Nat é tão ruim, que é uma má pessoa, então porque você não muda? Tenta ser diferente?
- Eu sou diferente dela
- Não é não, você a copia em tudo. Ano passado você pintou o cabelo da mesma cor que o dela, comprou o tênis que ela tanto queria, mas não pôde ter e fez questão de usar o final de semana inteiro, e ainda por cima comprou ate uma lente de contato azul. Meu Deus isso tudo é maluquice.
- Eu só queria que alguém me notasse, que me amassem como amam ela – Caiu de joelhos no chão com o rosto escondido na toalha.
- E você conseguiu ser notada, só que da maneira errada. E todos amam você, ate a Natasha, e eu não entendo o porquê. A Nat tem todos os motivos do mundo para odiar você, eu odeio, mas ela não. Pelo contrário, ela se preocupa com você, pergunta se está tudo bem, infelizmente ela se importa.
- Ela... Se preocupa... Comigo? – Ficou em estado de choque.
- Sim Ivy, esse é o jeito dela, está sempre preocupada com todos, ate com quem não merecesse. Se você se desse a oportunidade de conhecer a prima que tem, veria que fez um julgamento errado toda a sua vida. Mas o que você fez? Tentou dormir com o namorado dela, e pela cara que o John saiu daqui tenho certeza que ficou aborrecido e te disse boas verdades. – Passou as mãos nos cabelos.
- Eu não... – Abaixou a cabeça.
- Aquilo foi baixo Ivy, ate mesmo para você – Virou os calcanhares e andou ate a porta, mas antes de sair avisou – Se você tentar algo novamente para causar confusão na relação dos dois, você vai se ver comigo – Saiu batendo a porta.
John entrou na cozinha e encontrou Natasha brigando com o irmão pelo pedaço de Brownie que havia sobrado. Ver essa cena foi tudo o que precisou para esquecer a péssima situação de agora pouco:
- Ethan devolve, se você morder eu juro que vou fazer você engasgar – Esticou o braço tentando pegar o bolinho de chocolate.
- Vai rogar praga para outro. É o último, e eu vou comer, a mamãe que fez.
- Fez para nós dois, eu sou sua irmã caçula devia ser mais legal comigo
- E eu estou sendo, evitando que coma isso e vá tudo para sua bunda
- Aah – Seu queixo caiu, e então rosnou pulando em cima dele e pegando o bolo com rapidez.
- Natasha... Arg! Me devolve – Tentava pegar o doce de volta enquanto se esforçava para não cair da cadeira. Ela enfiou quase todo o bolinho na boca e tratou de comer o mais rápido possível.
- Oh! Pelo amor de Deus, vocês parecem duas crianças – Vovó Willow entrou na cozinha pela porta dos fundos.
- Ela pegou o último pedaço do Brownie que a mamãe fez. Tem noção de como isso é grave? Ninguém faz brownies tão gostosos como a mamãe. – Fez cara feia para a irmã, e a mesma impossibilitada de rir ou fazer qualquer gesto apenas cobriu o rosto com as mãos enquanto terminava de mastigar e engolir o bolo.
- Eu nunca vou entender esse tipo de disputa, acho que tive sorte de não ter irmãos – John falou achando a cena divertida. Puxou a cadeira e sentou do lado da morena.
- Sorte sua por não ter tido uma irmã, ainda mais igual a essa que eu tenho – Apontou para ela.
- O que? Você devia agradecer por ter uma irmã como eu. Quer que eu diga o porquê de eu ser tão boa com você? – Ameaçou.
- Você é um pesadelo Natasha – Resmungou sabendo que havia sido derrotado.
- Eu discordo – John interveio.
- Viu só, pelo menos o John me ama e me dá valor – Apoiou uma das mãos na coxa dele e esticou o rosto para lhe dar um selinho.
- Hunf! – Ethan cruzou os braços, irritado – Ai! Todo esse amor me deixou ate enjoado.
- Há! Há! Meu querido, o amor é a melhor coisa de todas. – Willow respondeu abrindo a geladeira – Você precisa sentir para entender como é.
- Eu hein – Arrebitou o nariz não gostando da ideia – E por falar em drama, cadê a mamãe e o papai?
- É, eu vim atrás dela, mas não está nem aqui nem no quarto, papai também sumiu.
- Oh! Eles foram lá para minha casa, disseram que tinham resolvido seus problemas, e precisavam ficar um tempo sozinhos – Willow abriu um sorriso cheio de malícia – Estavam cheios de sorrisinhos e carinhos... Não sei não. Nat, Ethan se eu fosse vocês iria me preparando para chegada de um novo irmão.
- Lá, Lá, Lá, Lá, pais não transam – Os dois taparam os ouvidos e cantarolaram.
John não aguentou e começou a rir, era cômico ver eles dois juntos. Nat parecia ser uma pessoa diferente perto do irmão e dos pais, muito mais espontânea e brincalhona, e como ele era mais romântica e determinada. Ele adorava esses dois lados.
- Hmmm! E como acham que foram feitos? – Willow pousou as mãos na cintura olhando os netos.
- A cegonha que nos trouxe – Nat respondeu segurando o sorriso.
- É. Eu vim enrolado em cetim finíssimo – Falou com um ar te autoridade – Nat veio como carga mesmo, num caixote.
- Palhaço – Ela lhe deu um forte empurrão e desta vez ele caiu da cadeira. Agora foi a vez dela cair na risada – Oh desculpe, machuquei seu lindo rosto.
- Sua tampa de garrafa – Retrucou voltando para sua cadeira.
- Mas você me ama
- Amo nada, sou forçado a manter as aparências porque por golpe do destino somos irmãos.
- Ah é? – Ficou de pé e segurou a mão de John – Vem John, vamos lá para cima, estou louca para arrastar aquela cama, sem colocar os pés no chão pra isso.
- Opa – Ele levantou no mesmo minuto.
- Ei parou com a palhaça, que falta de respeito é essa? – Ethan perguntou irritado – John larga a minha irmã – Ele se esticou o máximo que podia para pegar o braço dela e a puxou – Tá pensando que é avacalhado assim?
- Há! Há! Há! Há! Viu só como você me ama – Sentou no colo dele e o encheu de beijos por todo o rosto.
- Fazer o que?! Você é a caçula – Deu de ombros passando os braços em volta dela dando um beijo em sua face.
- Esses dois sempre brigam e fazem as pazes no mesmo momento – Willow balançou a cabeça rindo – Oh! Eu adorei sua pulseira – Apontou para o pulso dele – Deixa eu adivinhar, J e N, John e Natasha.
- É, ela me deu de presente quando estávamos na Suíça essa semana. – Olhou para a pulseira.
- Que romântico – Sorriu tocando o ombro dele – Na maioria das vezes os homens achariam isso brega e se recusariam a usar.
- Eu não faria isso, foi um presente dado com carinho. Eu nunca recuso nada que a Natasha faz para mim.
- Isso é muito bom. Você faz minha neta feliz, dá para ver nos olhos dela – Eles olharam para a moça junto do irmão que ainda continuavam implicando um com outro.
- Ela me faz muito feliz – Sorriu apaixonado.
- John vamos dar uma volta lá fora?... Me larga Ethan – Bateu nos braços dele e saiu do seu colo.
- Claro – Estendeu a mão e ela segurou.
- Eu vou ficar de olho em você Harris – Avisou Ethan.
- Não gosto de lugares muito aberto, prefiro pequeno e apertado - Deu uma piscadela.
Natasha tapou a boca tentando não rir, mas sua avó não foi tão discreta e caiu na gargalhada. O duplo sentido da frase não passou despercebido por ninguém. Natasha puxou John e empurrou a porta saindo.
Eles caminharam devagar ate o outro lado da casa, há poucos metros havia uma rede atada, um armador na árvore e outro em uma madeira maciça enfiada na terra.
- Vamos deitar ali? – Ela perguntou.
- Sim
Estava ventando, e a sombra da árvore era perfeita. John deitou primeiro e abriu espaço para ela. Deixou seu braço debaixo da cabeça dela como apoio:
- Eu estou muito feliz de estar aqui com você – Ela retrucou dando um beijo no peito dele.
- Eu também, sua família é muito animada. Gostei de conhece-los – Passou a mão sobre o braço dela.
- E eles gostaram muito de você. Minha tia Melissa acha você um gato
- Ah é?! – Sorriu olhando para o campo.
- Sim, eu não discordo dela. Ah! Sim, ela é assinante da sua revista, adora tudo o que é publicado.
- Hmm! Gostei mais ainda da sua tia
- Pois é! Ela ficou impressionada quando viu você, disse que se tivesse encontrado um homem como você quando era jovem, com certeza teria casado.
- Há! Há! Há! – Ele não segurou a risada – Sua tia é bem legal. Eu pensei que fosse casada.
- Que nada, nenhum homem é bom o suficiente de acordo com os critérios dela. Mas na verdade ela só não acredita no amor, por isso nunca casou e nem teve filhos. O bom é que ela adora a vida que tem, para cobrir a falta de filhos, ela tem três cachorros muito fofos.
- Entendo. Às vezes a descrença no amor se deve a um golpe muito forte que sofreu com alguém que dizemos amar. Eu sei como é isso. Não nos recuperamos completamente, é bastante triste.
- Então não está feliz comigo? – Apoiou as mãos e sentou olhando-o com a testa franzida.
- É claro que estou feliz meu amor – Sentou com pressa segurando o rosto dela – De onde tirou isso? Eu nunca disse que era infeliz com você, pelo contrario.
- Mas acabou de dizer que ninguém se recupera por completo de uma decepção de amor.
- Talvez não todos, mas alguns ganham uma nova oportunidade de amar e rever suas objeções contra isso, são abençoados com pessoas que realmente sabem amar e querem. Eu fui um deles, ganhei você.
Foi um bom argumento, pensou ela. Sempre se derretia quando John falava sobre amor, e o quanto estava apaixonado por ela, ele nunca disse eu te amo, mas acreditava que um dia falaria, não saberia como reagir quando esse momento chegar.
- Nunca duvide novamente da minha felicidade em ter você – Olhou fundo em seus olhos, não queria que ela duvidasse outra vez, aquela pergunta foi como uma agulha perfurando seu coração. Será que tinha dado essa impressão? Em algum momento demonstrou que não estava contente com ela? Se fosse esse o caso teria de mudar o mais rápido possível. Se não tivesse doído, aquilo seria cômico, ele enjoar dela, nunca.
- Tudo bem – Ela olhou bem aqueles olhos e tudo o que viu foi paixão e mágoa misturada, sabia que ela tinha causado essa mistura de sentimentos, sentiu uma pontada de culpa – Desculpe, eu não devia ter cogitado isso.
- Não mesmo... Vamos esquecer isso – Beijou sua testa e deitou novamente trazendo-a consigo.
- Você ficou chateado?
- Um pouco, não sabia que tinha duvida com relação a isso.
- Não tenho, mas a pergunta surgiu quando você disse aquilo – O abraçou.
- Eu entendo – Fez carinho em seu braço.
- Prometo não duvidar mais – Passou a perna para o outro lado dele e ficou por cima.
Seus cabelos caíram ao redor do seu rosto formando um manto negro de reflexos azuis contrastando com sua pele e seus belos olhos. Era possível ficar mais apaixonado por ela? Ele se perguntou admirando-a. Nunca escapou do encanto que Natasha exercia sobre ele, desde o primeiro encontro, ele se auto considerava um peixe indefeso, e sempre se sentia assim quando se pegava observando-a por vários minutos.
- Você é tão linda – Passou a mão no rosto dela empurrando uma parte do cabelo para trás.
Ela balançou a cabeça ruborizada, sempre tinha a mesma reação quando ele a elogiava:
- A vovó disse algo para mim ontem
- O que? – Traço círculos em sua bochecha com o polegar.
- Disse que você é o homem da minha vida. Meu amor verdadeiro – Desenhou o detalhe da costura da camisa dele com o indicador, e fixou seu olhar naquele ponto enquanto falava.
- Como ela sabe? – Ele sentiu o peito encher de alegria e posse. Ser o único que ela amará para o resto da vida o deixou em estado de êxtase. Sim, ele seria seu amor verdadeiro, seria qualquer coisa que ela pedisse.
- Minh avó é cigana, ler mãos, ver nas cartas entre outros é fácil. E ela nunca errou.
- Hmmm! Então eu devo agradecer sua avó por algo que estava bem óbvio para mim – Puxou seu rosto para perto.
- Ah é?! E por que nunca me disse?
- Queria que descobrisse sozinha – Roçou a ponta do seu nariz sobre o dela. De repente ele lembrou da situação ocorrida com Ivy, ela de lingerie em seu quarto tentando encontrar uma forma de atingir a prima, e o ódio que sentiu quando ela de forma tão vulgar disse a que veio. – Minha linda... – Olhou para sua boca e depois para seus olhos.
- O que?
- Eu... – Pensou novamente. Talvez não fosse uma boa ideia dizer isso, Natasha e Ivy não se davam muito bem, e dizendo o que aconteceu Nat faria exatamente o que prima queria, ficaria com raiva e tiraria satisfações. Morderia a isca. Apesar da convivência não ser boa, Natasha se preocupava com Ivy, e John não queria estragar esse único fio de bondade existente. Afinal, as duas eram parentes, e não queria ser o responsável por uma intriga que com certeza deixaria a todos estressados. Preferiu ficar calado – Eu soube que tem uma praia aqui perto. Você poderia me mostrar?
- Claro, é linda, você vai adorar. Podemos ir de cavalo.
- Seria ótimo
- Mas podemos ir amanhã? É que estou cansada, e mais tarde todos se reunirão.
- Podemos sim, não se preocupe – Raspou seus lábios sobre os dela antes de beija-los. Ele precisava reafirmar seu amor, que ela era a pessoa mais importante da sua vida e faria qualquer coisa para protege-la.
- Eu te amo – Sussurrou pousando sua cabeça no peito dele. Ele sorriu pousando uma mão na costa e outra alisava os cabelos dela. Respirou fundo.


Continua...

Simply, I love youOnde histórias criam vida. Descubra agora