[...] Sam respirava fundo tentando se manter forte enquanto o amigo se desabava em lágrimas. [...]
Mais dois agoniantes dias se passaram, quatro dias que não se viam ou se quer se falavam. Natasha ia para a agência parecendo um zumbi, mesmo sem a menor disposição fazia o que lhe mandavam, se esforçava para parecer bem diante de todos, mas Susan notara que não estava nada bem, e quando perguntou o que havia acontecido Natasha desabou contando tudo. Todo dia seguia a mesma rotina, acordava cansada, bebia apenas um suco e as vezes comia uma bolacha, ia para o trabalho, no almoço Raphael lhe empurrava algo para comer e só para se livrar do sermão comia metade, depois voltava para casa e se enfiava debaixo do cobertor esperando para começar tudo de novo.
Natasha pegou o celular quando recebeu a mensagem do seu pai avisando que precisaria sair urgente e que ela deveria supervisionar a sessão de fotos de uma nova modelo contratada. Ela foi para o estúdio que ficava no quarto andar. Quando chegou tudo já estava preparado, a modelo estava recebendo os últimos retoques e toda a equipe trabalhava rapidamente, principalmente depois que Natasha chegou, mesmo sendo apenas uma assistente, a filha do chefe era levada a sério.
- Cheguei – Uma mulher vestida com calça de couro, blusa de tom roxo, coturnos pretos, jaqueta também de couro e cabelo preso em um coque alto adentrou a sala e todos a cumprimentaram.
- A modelo já está pronta – O maquiador informou.
- Ótimo. Tire seu hobby e vá lá para frente – Pegou a câmera sobre a mesa e as lentes necessárias. Ela olhou para o lado e sorriu vendo a morena – Oi, sou Beverly, e você é a Natasha. – Esticou sua mão para cumprimentar.
- Sim, sou, meu pai é o Taylor Donovan – Apertou sua mão.
- Eu sei, mas não foi por causa dele que reconheci você – Sorriu de canto ajeitando a lente da sua câmera.
- Ah não?
- Não, foi por causa do meu primo. Você é a namorada do John, não é?
- O- oh! Então é prima dele?
- Sim, ele nunca falou sobre mim? Típico dele. Eu vi a foto de vocês dois no site.
- Ah entendi, mas nós não... Somos mais namorados, terminamos tem quase uma semana.
- Sério? – Olhou surpresa para a moça – Merda. Você não poderia ter escolhido pior semana para dar um pé na bunda dele.
- Como assim?
- Daqui a três dias vai completar dois anos de morte do tio Mark. Ano passado John meio que surtou, se isolou do mundo o dia inteiro, tia Mary ficou bastante preocupada, ele parecia uma bomba relógio.
- A-ah eu não sabia – Sentiu um aperto no peito.
- John era demais apegado ao pai e nunca conseguiu superar a morte dele, por isso quando chega essa época ele começa a agir diferente, não quer ver ninguém, some às 24 horas – Olhou para sua câmera pensativa – Olha eu sei que meu primo as vezes se comporta como um idiota, mas ele é um cara muito legal, tem um coração enorme, e acredite estou muito triste por vocês terem terminado. Ele tinha me falado sobre você, disse que era a mulher da vida dele... É uma pena que tudo acabou, eu estava confiante de que tudo ia dar certo, mas pelo visto me enganei – Esboçou um sorrisinho – Bom eu preciso trabalhar, foi bom te conhecer Natasha, estava torcendo para que fizesse parte da família, mas paciência neh! Ate mais.
Natasha ficou olhando Beverly se afastar e o que ela dissera não saía da sua cabeça. Dois anos da morte. John nunca tinha comentado nada, nem ao menos uma vez, mas ela sabia que era muito difícil para ele falar sobre o pai. Então era por isso que seus pesadelos estavam se tornando frequentes, o pior dia da sua vida estava chegando. Ela teve de respirar fundo e lembrar que precisava trabalhar e não cair no choro.
Na hora do almoço Sam chamou John para sair e ir ate a um restaurante, mas ele recusou, como todas as vezes. Estava virando costume encontrar John na revista antes de todos os funcionários chegarem, diziam que ele nem ao menos ir para casa, passava a noite toda ali. Uma parte era verdade, ele voltava para casa e tentava dormir, mas todas as lembranças voltavam em sonhos para atormenta-lo, então de madrugada ia para a revista e ficava lá vendo o sol nascer, conseguia dormir por algumas horas, era o único lugar limpo de qualquer recordação.
John mexeu em todos os seus arquivos e não resistiu à vontade quando viu uma pasta titulada como "Fotos Natasha", se torturou olhando uma por uma, admirando aquele sorriso, caindo de amores por aquele olhar e desabando por aquele abraço. Lembrou que Michelle havia mandado as fotos e resolveu ligar para ela. No quarto toque atendeu:
- Oi John, como está?
- Oi, não muito bem
- Eu imagino. Sei o que aconteceu, e acredite, não vou julga-lo, mas dizer que queria que você apenas tivesse tido mais coragem.
- Eu também – Falou melancólico – E a Natasha? Ela deu alguma notícia? Disse onde está ou quando vai voltar?
- Voltar? Como assim?
- Raphael disse que ela havia viajado sem dizer para onde
- Arg! Esse Raphael eu juro que vou matar ele. John ela não viajou, não foi para lugar algum.
- Mas ele... – Endireitou sua costa.
- Ele mentiu, Natasha aqui, e como prova eu falei com ela tem alguns minutos. Ela estava na agência, mas disse que ia para casa porque não se sentia bem.
- Eu não acredito – Enterrou a mão no cabelo.
- Eu sei por que Raphael fez aquilo, ele estava com raiva de você por fazer a Nat passar por aquilo e provavelmente queria que você sofresse.
- E conseguiu
- John ela está muito mal, não é nem de longe a Natasha que eu conheço, é quase como se não tivesse vida. E eu estou ficando realmente preocupada, ela não come nada, é só do trabalho para a casa, nada mais, Raph é o único que consegue fazer ela comer algo, mesmo que seja pouco.
- Eu não sei o que fazer
- Peça perdão
- Eu já pedi, mas ela não me responde
- Não por mensagem, mas pessoalmente, vocês dois precisam disso. – Ficou um segundo em silêncio – Eu preciso ir, ate mais, e espero que dê tudo certo.
- Obrigado – Desligou soltando o celular na mesa. Mordeu o lábio inferior olhando para a foto em seu computador.
A campainha tocou várias vezes e Ethan foi ate a porta irritado:
- Já vai, bastava tocar uma única vez – Puxou a porta e ficou surpreso quando viu John do outro lado – Não.
- Eu preciso vê-la
- Não, nem pensar, minha irmã não precisa disso agora – Segurou na batente da porta impedindo a passagem.
- Ethan eu preciso vê-la, e passo por cima de você se for preciso, mas eu tenho que ir até ela.
- Natasha está triste a dias, sempre que eu pergunto o que houve ela diz que não é nada, mas eu não preciso ser um gênio para saber que tem algo a ver com você.
- Tem razão, é por minha causa, então, por favor, me deixe vê-la.
- Ela está dormindo
- Eu não vou acorda-la, só quero olhar para ela saber que está bem – Estava quase para empurrar Ethan e subir as escadas correndo.
Ethan ficou observando-o como se quisesse ter certeza das intenções dele, sempre fora um irmão muito protetor, e mais do que nunca estava sendo. Suspirou:
- Eu sei que você é o culpado disso, mas também sei que é o único que pode concertar isso – Se afastou dando passagem – Entra.
John passou pela porta e os dois seguiram para o andar de cima. Andaram em silêncio ate o quarto dela. Ethan abriu a porta e o deixou passar:
- Ela tem se alimentado? – Perguntou se aproximando da cama.
- Com muita insistência da nossa mãe, mas muito pouco.
- Ela parece mais magra – A dor em seu peito voltou.
- E está. Quando volta do trabalho se isola no quarto, toma um remédio para descansar, mas toda noite chora ate pegar no sono.
- Eu não gosto disso – Tirou sua jaqueta deixando-a sobre a cadeira.
- Nem eu – Ethan ficou olhando John se aproximar dela, agachando e com cuidado tirar uma mecha do cabelo e por atrás da orelha da mesma. – Eu vou deixar vocês a sós, mas procure não acorda-la.
Ele apenas concordou com a cabeça. Apesar de estar dormindo, ele sabia que ela não estava tranquila, encolhida como se estivesse com frio e o semblante cansado. Ele levantou indo para o outro lado da cama, subiu com a maior cautela possível e envolveu em seus braços dando um suave beijo em seu ombro. Era como ter um pedaço da paz de volta. Como se soubesse que ele estava ali o corpo dela relaxou.
- John – Sussurrou. Ele não respondeu apenas ficou olhando-a. Ela continuava de olhos fechados, mas virou em busca do calor do seu corpo. Ergueu a cabeça com os olhos semicerrados e sonolentos – Estou sonhando?
- Está... Volte a dormir. – A abraçou.
- Se estou sonhando, não quero mais acordar – Fechou outra vez os olhos recostando seu rosto no peito dele. John respirou fundo e quando percebeu que ela não se mexeu mais, havia voltado a dormir.
- Basta me ligar quando acordar – Sussurrou apoiando seu queixo sobre a cabeça dela – Eu venho correndo.
Natasha abriu os olhos e sua mente levou um tempo para processar tudo, mas lembrou de que havia sonhado com John. Apoiou as mãos na cama levantando para olhar em volta do seu quarto:
- Foi só um sonho mesmo? – Ainda podia sentir o calor do corpo dele. Foi real demais. Estava com tanta saudade dele que ate sonhos lhe pregavam uma peça.
Levantou da cama tomando uma lufada de ar e saiu do quarto descendo para a cozinha.
Ethan e Leila estavam rindo quando Natasha entrou. Eles pararam para olhar para ela, como se precisassem se certificar de que estava bem:
- Finalmente acordou irmãzinha, estava há horas dormindo, quase pensei em jogar um balde de água fria em você para ver se ainda estava viva – Sorriu mordendo a maça em sua mão.
- Para seu azar ainda estou viva – Resmungou puxando a cadeira ao seu lado.
- Pensei que se sentiria melhor depois da visita do John
Natasha arregalou os olhos deixando as costas retas:
- John esteve aqui?
- Sim, foi embora tem uns vinte minutos. Ele veio aqui atrás de você e deixei que fosse ate o seu quarto.
- Minha nossa – Puxou o ar.
- Ele disse que precisava te ver, parecia desesperado. Eu sei que você está assim por causa dele, então achei uma boa ideia deixar ele ficar com você.
- Eu pensei que estivesse sonhando
- Posso confirmar que não foi. Depois de uma hora que ele havia chegado eu fui ate o seu quarto e vi os dois dormindo abraçados, pensei que tivessem se acertado. Só que ele saiu daqui tão triste quando chegou. Serio que não o notou do seu lado?
Ela fez que não com a cabeça, jurava que havia sido um sonho, mas não, ele esteve realmente ali, deitou em sua cama, a abraçou e dormiu junto dela e a ajudou em seu sono, pois acordou melhor que das outras vezes em que acordava esgotada.
- Natasha eu sou seu irmão e preciso dizer isso – Esticou sua mão tocando a dela – O cara ta sofrendo o diabo, os dois estão, eu não sei o que o John fez e você não me conta, mas seja lá o que for ele está pagando e bem caro.
- Ethan é complicado explicar o que aconteceu, e não me sinto a vontade para contar a você, porque talvez não entenda.
- Eu sei, eu respeito isso, mas a pergunta certa a se fazer é, isso vale todo esse sofrimento? Não podiam superar isso juntos?
- Ethan... – Um nó em sua garganta se formou.
- Eu realmente espero que valha, porque daqui a alguns dias completam dois anos da morte do tio Mark, é considerado um dia negro para o John. Ele perdeu você e logo lembrará que também perdeu o pai, vai ser um dia bem pesado para ele aguentar, o pior dia da vida dele – Levantou da cadeira e jogou o resto da maça no lixo – Mas vocês sabem o que fazem. Só apenas se pergunte se vale tudo isso – Deu de ombros saindo da cozinha.
Natasha ficou olhando para a porta por onde o irmão saiu, não sabia o que responder nem o que pensar, não tinha se dado conta do que John passaria. Sentiu os olhos arderem e uma nova onda de choro se formar:
- Ele tem razão – Leila falou olhando a panela no fogão sem parar de mexer o conteúdo dentro – E você sabe disso. Você o ama.
- Mas ele não me ama – Retrucou.
- É claro que ama
- Não
- Ele disse o contrário? – Ergueu uma sobrancelha olhando- a.
- Não... Mas ele não consegue dizer.
- E já perguntou a ele o motivo? Quando temos a incapacidade de fazer algo e porque há uma razão para isso, nada é por acaso.
- Eu... – Natasha ficou muda. Nunca havia perguntado a ele o porquê de nunca conseguir dizer eu te amo.
Hoje Mark completa dois anos de falecido, e John havia sumido, como Beverly disse, e só sabia disso porque ligou para a revista e sua secretária informou que não apareceu nem deu notícias. Ela estava ficando apreensiva, sabia que ele estava precisando da sua ajuda, que algo estava errado, seu coração dizia isso. Andar pelo seu quarto não adiantou de nada, e se rendeu, pegou seu celular e ligou para ele. Chamou ate o último toque e caiu na caixa postal, o que só fez o sangue de Natasha gelar. Sim, algo estava muito errado. Ele passou a semana toda ligando e mandando mensagens, ela não respondeu nenhuma, e agora que resolver ligar ele não atendeu. Discou o número de Mary o que para sua sorte atendeu:
- Senhora Harris, sou eu Natasha
- Oh! Nat que bom que ligou.
- É eu sei... Talvez a senhora esteja com muita raiva de mim, mas...
- Não vou mentir que fiquei sim quando meu filho me contou aos prantos o que houve, ele se culpa por isso... Mas eu entendo, talvez se estivesse em seu lugar faria a mesma coisa.
- Pois é – Tocou sua testa – Eu estou sabendo que dia é hoje, e... Eu queria saber como John está, liguei para ele, mas não me atendeu.
- Oh Deus! Ele não atendeu você, então é pior do que imaginei.
Natasha parou de respirar e congelou no lugar cogitando tudo de ruim que poderia estar acontecendo com ele:
- O que houve?
- Ele deve estar isolado em casa
- Está no apartamento então?
- Sim, eu... Eu tive que viajar por causa de uma droga de conferência, e não pude ficar com meu filho, ele precisa de mim agora, e eu o deixei. Oh Meu Deus!
- Não... Senhora Harris me diga o que fazer. Estou angustiada, me sentindo impotente.
- Você o largou Natasha, e hoje o pai dele completa dois anos de morte, meu filho deve está destruído.
- Eu sei, eu sei... – Pressionou os lábios sentindo as lágrimas caírem – Eu o deixei, mas não suporto mais isso, eu fico pensando pelo o que ele passou essa semana, e principalmente na dor que está sentindo hoje, e eu me sinto culpada por não estar ao lado dele. Mas eu não aguento, eu mal sinto meu coração bater sem ele por perto, eu preciso... – Soluçou.
- Eu só precisava ouvir isso querida. Vá atrás dele, John precisa de você.
- Sim, eu vou para o apartamento. – Afirmou.
- Mas escute, você vai encontra-lo em uma sala anexa ao escritório, precisa entrar para poder ver a porta, não sei se ele comentou sobre essa sala.
- Não, eu entrei no escritório dele poucas vezes e nunca vi porta alguma.
- É bem camuflada, justamente para ninguém entrar lá. Mas o que quero dizer é que John nunca conseguiu superar a morte do pai, ele ficou transtornado, violento, ninguém conseguia chegar perto dele, só o Sam e com muito esforço. Mark morreu em um acidente de carro, e todo ano nesse mesmo dia John participa de uma corrida de carros, é como se quisesse desafiar a morte que levou seu pai, e eu temo que se isso continuar todos os anos algo de grave possa acontecer, e eu já perdi meu marido, não quero perder meu filho.
- Não vai, eu prometo, porque eu também não posso perde-lo. Eu vou fazer John voltar a razão, vou ficar ao seu lado.
- Eu sei que é a única que pode fazer isso. Ajude-o.
- Não se preocupe. Eu amo seu filho.
- Eu sei. Qualquer coisa me ligue.
- Certo e obrigada – Desligou pegando sua bolsa e a chave do carro decidida a ir ate o apartamento e concertar tudo isso.
Natasha violou praticamente todas as leis de transito correndo feito louca com o carro ate o apartamento de John. O pobre do manobrista quase tropeçou para pegar a chave que ela jogou para ele quando pulou do carro e entrou as pressas. O elevador levou uma eternidade para chegar à cobertura, dando duas paradas no caminho, mas quando chegou adentrou o hall indo direto para o escritório.
Quando entrou a primeira coisa que viu foi Sam deitado de frente para a parede:
- Onde ele está Sam? – O cachorrinho ergueu a cabeça olhando para trás e balançou o rabinho quando a viu. Natasha procurou algo que parecesse uma porta, mas não tinha nem forma, exceto pela maçaneta que brilhou quando se aproximou. Soltou um suspiro aliviado. Segurou a maçaneta gelada e a girou empurrando sem dificuldade a "porta" e a primeira coisa que ouviu foi uma música tocada pelo piano. Empurrou mais e constatou que quem tocava era John. A sala era grande, e exceto pelo piano era vazia. Duas paredes eram feitas de vidro com vista para Nova York, e as outras duas eram repletas de porta retratos pendurados, a maioria de John e o pai. Natasha engoliu em seco e Sam passou correndo por ela indo ate os pés de John, que ao sentir o focinho do filhote parou de tocar olhando para baixo:
- Como entrou?
- John? – Chamou.
Ele olhou diretamente para o chão e pareceu hesitar antes de olhar para trás, mas depois de uma eternidade acabou virando-se:
- Natasha? O que faz aqui?
- Eu vim te ver – Deu um passo, mas parou sem conseguir soltar a maçaneta.
- Veio me ver – Respondeu soltando um sorriso sarcástico. – Eu tentei ver você a semana inteira e só me ignorou. Eu liguei, mandei milhares de mensagens e você não respondeu nenhuma, me deixou completamente no escuro, e agora aparece do nada só por causa da data de hoje porque está com pena de mim. Não, muito obrigado, eu dispenso sua compaixão – Virou novamente para o piano.
- Não... – Respondeu ofendida, mas respirou fundo antes de falar qualquer coisa. Tinha de relevar tudo o que ele dizia, estava magoado, com raiva e sofrendo, era justificável seu comportamento rude. Não importava mais se ela estava chateada ou não, tudo o que queria era abraçar John e dizer que nunca mais sairia do seu lado. – Eu não vim aqui só por isso, e não pense que é pena ou compaixão.
- Então o que é? – Virou bruscamente olhando- a torto.
- Saudade – Respondeu sentindo o lábio tremer. Viu quando a expressão carrancuda dele desapareceu e enrijeceu as sobrancelhas. Ela deu mais um passo a frente e continuou – Eu vim aqui por que... Honestamente... Eu não suporto mais ficar longe de você – As lágrimas salpicaram de seus olhos.
John ficou calado apenas encarando- a quase sem acreditar no que escutara. Natasha tomou coragem e fechou a curta distancia entre eles, ficando de joelhos na frente dele:
- É demais para mim John, cada dia é uma maldita tortura sem te ver, eu tô quase enlouquecendo.
- Mas foi você que me abandonou
- Eu sei, e foi o maior erro que cometi na minha vida, não tem ideia do quanto me arrependo, do quanto me odeio por ter feito aquilo. Só que eu não aguento mais isso, eu não quero mais ficar longe de você, não quero mais.
- E quanto a suas dúvidas? Sua razão por ter me deixado?
- Eu não me importo mais com elas. Não valem tudo isso. Depois dessa semana de inferno que passei vi o quanto meus motivos foram egoístas. Eu sinto muito John – Chorava cada vez mais – Me perdoa. Eu fui imatura e totalmente egoísta.
- Não, não, Nat – Curvou-se segurando o rosto dela.
- Sim, eu pensei só em mim, e pressionei você. Eu não devia ter feito isso – Tocou as mãos dele em seu rosto – Você me alertou varias vezes que não conseguia dizer e mesmo assim eu pressionei você, eu insisti, queria tanto escutar que não me importei com seus sentimentos, não procurei saber a causa disso, eu... Me perdoa John.
- Você não precisa me pedir perdão – A segurou pelos cotovelos erguendo-a do chão para sentar em seu colo – Não peça desculpas, você queria escutar, tinha o direito de escutar, mas eu fui covarde e não disse.
- Não, não, não diga isso, eu sei o quanto fui irritante com esse assunto, mas prometo nunca mais tocar nisso – Soluçou.
- O que? Mas você ainda quer que eu diga
- Não, não quero mais, isso já não me importa, eu não ligo. Eu só quero você de volta – Acariciou seu rosto.
- Mas Nat...
- Eu não preciso de nada disso, eu quero só você, de qualquer forma e maneira. É tudo o que importa para mim.
- Não, isso não seria justo com você – As lágrimas escorreram de seus olhos sentindo o peito apertado por vê-la abandonando algo importante para ficar com ele.
- Não seria justo conosco se ficássemos separados por algo irrelevante
- Não é irrelevante
- É sim... John eu não ligo mais... Por favor, me perdoa... Volta para mim – Pousou uma mão em seu ombro, outra em sua nuca – Eu só não posso te perder de novo.
- Minha linda você nunca me perdeu - Seu queixo tremeu e a vontade de abraça-la forte foi grande – Eu não tenho que perdoar nada, você foi embora por motivos certos e eu só percebi o que estava perdendo quando a perdi. Acho que quem deve desculpas sou eu. Eu fui covarde e medroso, você merecia que eu dissesse, merecia mais que tudo.
- Shhh! Agora acabou John, já passou, eu me comportei como uma tola, deixando minhas dúvidas ficarem na frente dos meus sentimentos, acabei caindo na armadilha da Lucy, eu me senti péssima e não pensei com clareza – Olhou fundo em seus olhos – O que eu quero agora é retomar minha vida com você.
- Você precisa saber... Eu tenho que contar algo.
- Não John, eu não quero saber.
- Mas eu preciso contar
- Hunf! Tudo bem – Respirou fundo.
- Há um motivo por trás dessa minha incapacidade. Não pense que não falei porque não a amo, está enganada. – Observou as expressões atravessarem o rosto dela tentando entende-lo – Faz muito tempo que eu não digo isso para ninguém... A última pessoa para quem eu disse foi ao meu pai, segundos antes de morrer... E foi como se essas palavras tivessem morrido junto. Elas sumiram... Até o dia em que você chegou. – A apertou em seus braços.
- Eu não sabia – Recostou sua testa na dele – Eu sinto muito. Isso só faz eu me sentir ainda pior.
- Natasha – Segurou o rosto dela com uma mão virando seu olhar para o dele – Me escuta bem, quando você me deixou foi como se meu mundo tivesse perdido a luz e se dissolvido na minha frente. Eu fiquei perdido e entrei em pânico temendo nunca mais ter você outra vez, e isso me fez enxergar com clareza. Quero que saiba de uma coisa, eu te amo.
Natasha engoliu em seco:
- Não John...
- Sim. Eu te amo. Amo tanto que meu peito mal aguenta todo esse amor. Eu não estou falando isso da boca pra fora, mas sim de coração. Você é a mulher da minha vida e eu amo você.
- John – Pressionou os lábios em uma linha fina sentindo toda a onda de choro voltar com mais intensidade – Eu também te amo, muito, muito. – O beijou. Quando seus lábios se tocaram ela gemeu sentindo todo o peso da saudade, tocou seu rosto tentando lembrar cada traço e contorno, sentir o coração dele bater acelerado junto do seu foi a melhor sensação do mundo, era mágico. John estava pronto para se ajoelhar diante dela e pedir perdão, mas foi ela que começou a pedir perdão e toda sua razão se foi, só queria Natasha e nada mais, a queria de qualquer jeito, e vê-la ali parada diante dele foi como se um anjo tivesse lhe dado uma segunda chance e trazido sua vida de volta.Continua...
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Simply, I love you
RomanceO que acontece em Paris deve ser levado para a vida toda. O que você faria se, literalmente, esbarrasse no amor da sua vida na cidade mais romântica do mundo? Natasha Donovan tinha acabado de se formar em Publicidade, e ganhou de seus pais como pres...