Abrigos Compartilhados.

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— Você deveria ser o Capitão deste ano. — Blásio sussurrou para ele enquanto ambos pegavam suas vassouras para irem dar uma volta em torno do campo de Quadribol. Draco deu de ombros. — É o melhor que já tivemos, e tem um cérebro na cabeça.

— Não tenho tempo para essa trivialidade. — retorquiu fingindo indiferença.

A verdade é que abdicar do time era muito doído para Draco. Ele sonhava desde que era criança a se tornar um jogador profissional de Quadribol, ainda que seu pai tenha deixado explícito que nada menos do que alguma posição privilegiada no Ministério seria aceitável, ele mantinha aquele segredo para si, almejando algum dia se livrar das amarras de Lúcios e ir viver sua vida como sonhara. Mas quando a marca veio naquele verão, e toda a sua responsabilidade e missão, ele viu seus planos irem ao chão como um castelo de cartas, fácil e num sopro. Retornar àquela escola não tinha nada mais que o atraísse. Era tudo negro e só por um maldito propósito. Mas não conseguiu abandonar o esporte pelo qual era tão apaixonado totalmente, e por isso esteve ciente de que sua vaga seria mantida no time original da Sonserina, ao menos algo para lhe deixar levar as coisas um pouquinho mais suportáveis.

— Qual é? — perguntou o Zabini retoricamente puxando-o de seus devaneios — Todos sabem que isso era o que você mais queria. — lembrou-lhe o amigo. — O que mudou?

— Tudo mudou, Blás. — respondeu de forma seca e cortante, seus olhos cinzas encarando o negro de soslaio. — Você sabe perfeitamente o quanto.

Zabini se aproximou mais dele, tanto que seus ombros batiam uns nos outros, seus joelhos também, e então o moreno olhou para os lados certificando-se que ninguém os escutava, e sussurrou:

— Você não pode mesmo me contar do que se trata? — perguntou, apesar do tom de voz quase inaudível, Draco podia sentir a curiosidade e ansiedade dele. — Sou um comensal também. — adicionou como para dar mais motivos ao loiro. Draco bufou.

— Se quiser morrer, posso contar. — debochou e percebeu o moreno tensionar ao seu lado. O loiro riu sem humor. — Esqueça isso, Zabini. Vamos voar, é melhor.

Sem responder, Blásio montou em sua vassoura e ganhou o céu como um raio, em seguida, Malfoy fez o mesmo.

_______

Draco estava voando a pelo menos duas horas seguidas. Dando voltas e voltas pelo campo de Quadribol. Lá em cima, montado em sua vassoura, era o único lugar que ele se sentia livre de verdade, em que o peso da realidade e de sua falta de sorte se dispersava no meio daquela nuvens e a cor do céu que lhe prometiam dias melhores. Que ele deixava de pensar que o tempo estava passando, quase como sua sentença de morte.

— Vou descer! — Gritou Zabini a ele. — Acho que vai chover breve. — observou o negro, analisando uma nuvem negra se formar quase imperceptível há alguns quilômetros dali. — Você vem? — quis saber.

— Vou ficar mais um pouco. — sentenciou o loiro gritando também. Aquela sensação de paz que sentia o inundar merecia ser aproveitada o máximo possível, pois ele não tinha ideia de quando ia voltar a se sentir assim.

— Tudo bem. Nos vemos no jantar. — despediu-se.

Draco acenou com a cabeça de forma afirmativa e Blásio empinou a vassoura para baixo, até alcançar o chão e então sumir da visão de Draco.

O Sonserino deu mais algumas voltas pelo campo quando decidiu se afastar, passando por cima das torres das casas do campo, se dirigindo para perto da Orla da Floresta proibida aproveitando seu momento de tranquilidade.

~*~~*~

O vento forte do começo de outono levava o cabelo de Hermione para todos os lados tornando-a uma bagunça completa, obrigando-a vez ou outra pousar o pequeno caderno de couro negro em suas coxas para tentar controlar o vendaval de cachos castanhos que acabavam em seus olhos. A pequena leoa direcionou suas íris castanhas para o céu que começava a deixar de ter seu tom azul límpido para ser encoberto pelo cobalto cinzento, precedendo a provável chuva que ia cair. Estava no Campo de Quadribol, uma caneta trouxa em mãos, e no colo aquele caderno de couro que havia ganhado no último natal, aberto numa folha em branco. Já tinha escrito bem mais coisas ali do que jamais esperou escrever. Pequenas notas de como havia sido seu dia. Frases que lera em um livro e havia gostado. Pequenas descrições de lembranças, momentos, acontecimentos. Já podia considerá-lo um amigo. Um fiel amigo.

Por uma Noite -Dramione [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora