10° capítulo.

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Acordei com pequenas batidas de pedrinhas em minha janela, levantei meio zonza do sono, olhei pela janela e já estava escuro. Peguei meu óculos, fui até ela, descalça mesmo, a abri e, para minha surpresa, Asti era quem estava jogando as pedrinhas.
 -Safira, o que aconteceu? Por quê você sumiu? -Como minha janela era um pouco alta, me inclinei mais para ouvi-lo melhor.
 -Ah Asti… -não tive coragem de falar a verdade ou encará-lo nos olhos.- está tudo bem -arrisquei um sorriso.- Eu só fiquei cansada -foi só o que eu disse. Queria contar tudo a ele mas não tive coragem.
 -Ah tá então -ele não engoliu...- Você vai ao δείπνο (deípno/ jantar)? -Ou será que sim?
 -Não, eu estou sem fome, mas brigada… -lhe sorri, ele me olhou com certa estranheza.
 -Ok, então. Em todo caso, καλή νύχτα (kalí nýchta/ boa noite) -ele foi mais perto da janela, se esticou um pouco, pegou a minha mão e, nas pontas dos pés, as beijou. Senti meu rosto corar e tudo o que fiz foi balançar a cabeça negativamente e entrar, fechando a janela em seguida. 
 Meu coração batia forte, então me perguntei: o que está acontecendo? Parece até que alguém vai me responder né (risos). Tentei pensar em outra coisa só que, a única coisa que me vinha à mente, era aquele livro. 

                               ***

 Não desci para o δείπνο (deípno/ jantar). Após meu banho, vesti meu pijama, me deitei no divã e fiquei a procura de algum sinal de vida que meu celular mostrasse. Eu o mantinha desligado e, estava decidida que, a partir daquele dia, passaria a olhá-lo em busca de alguma mensagem (embora eu sabia que era inútil). Nada, nenhum sinal. O desliguei de novo, o coloquei em cima da mesa e, quando estava me preparando para dormir…
 -Safira -alguém me chamou na porta.- Sou eu, Astíanax. 
 Pensei em fingir que estava dormindo e não abrir a porta mas eu não podia me esconder dele todos os dias da minha vida, então o respondi: 
 -Já estou indo… -falei vestindo meu robe e amarrando meu cabelo.
 Abri a porta e tive uma surpresa ao vê-lo com várias flores nas mãos -hoje ele está mais bonito do que ontem... para Safira! Deixa disso, sossega, ele é apenas seu amigo.
 -O que é isso? -Sorri
 -São para você… -ele retribuiu o sorriso e me entrou as flores, peguei e as cheirei.- Não sei o que aconteceu e, se você não quiser me contar, não precisa, mas -mais um sorriso daqueles pelo qual eu me derretia.-  espero que dê tudo certo.
 -Obrigada -escorei na porta e esperei que ele dissesse algo.
 -Eu te acordei? -Balancei a cabeça num gesto de "não".- Que bom… eu sei que já tinha te dado "boa noite" mas, como meu quarto -ele apontou para a porta atrás dele.- é em frente ao seu, achei que seria bom ver se você está bem. 
 -Eu estou sim, obrigada pela preocupação -o olhei bem no fundo dos olhos e lhe sorri.- Você é um bom amigo, Asti… -ele riu, abaixou a cabeça e depois voltou a me olhar.
 -Amigo... Como eu queria ser mais do que isso mas… -ele se aproximou e me beijou a testa, eu paralisei- καλή νύχτα (kalí nýchta/ boa noite).
 Ele dá uns três passos para trás e, depois de virar de costas para mim, entrou em seu quarto, ele sorriu para mim antes de fechar a porta, eu sorri de volta e fechamos a porta juntos. 
 Me deitei na cama junto com as flores e senti o doce aroma, então Asti me passou pela cabeça: eu o amo! Mas a gente não pode ficar juntos, somos de famílias rivais, não quero que isso acabe igual a Romeu e Julieta. Vou me distanciar dele… vai ser melhor para os dois, nenhum de nós vai sofrer. 
 Perdida nesses meus pensamentos adormeci e sonhei com meus pais, minha vida de antes, meu mundo de antes, com a antiga Safira, acredito que, naquela noite, eu mais fiquei acordada do que dormi.

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