Eu estava com muita fome, comi de tudo um pouco, frutas, torrada, pão… TUDO.
O pessoal estava falante, como sempre, riam e faziam piadas, eu tentava participar, Asti, ao contrário, ficava na dele -como eu disse.
-Bem… -Páris se levantou depois que todos acabaram de comer.- agora vamos até a sala de música -ouve um risinho por parte dos meninos.
Levantamos, os meninos foram na frente, as garotas e eu no meio e Asti -isolaaado.- no final.
-Deve ser a surpresa… -Lena comentou com Andrômaca que assentiu, acho que ela já sabe.
-O que será que é? -Briseis ficou na ponta do pé para ver por cima dos meninos, demos risada e continuamos andando.
Quando paramos em frente a enorme porta de madeira os rapazes se viraram para nós, Heitor colocou a mão nas maçanetas, deu um sorriso e abriu a porta. Eles entraram primeiro e nós depois.
Através das grandes janelas, entrava um vento fresco, por conta da chuva que, já havia diminuído. Haviam algumas tochas acesas, os mesmo instrumentos estavam lá só que, no centro de uma das paredes, em frente a uma grande janela, havia uma espécie de palco com várias cadeiras na frente.
-Tcharam! -Ulisses subiu em cima do palco.- O que vocês acharam? É um… um… -ele olhou para Heitor que também subiu no palco junto com meus primos e Páris. Atrás de nós, a porta se fechou.
-Karaokê -Heitor respondeu.
-Como assim? -Eu e as meninas nos sentamos nas cadeiras, Asti ficou parado na porta. Eles sabiam o que era karaokê?- Vocês sabem o que é karaokê?
-Sim, -eles riram e Páris concluiu:- você nos falou sobre isso na primeira vez que você veio para cá -ele pareceu lembrar de algo.- Só não falou para Aquiles, Pat e Ulisses...
-Daí vocês contaram, né? -Brinquei piscando.
-Tá mas… -Heitor deu um passo à frente.- vocês não vem experimentar?
Olhei para as meninas, Lena me olhou, levantou e baixou as sobrancelhas, eu ri, ela me puxou e Briseis e Andrômaca foram atrás. Os meninos desceram do palco e nós nos organizamos: Andrômaca ficava á frente, do lado esquerdo, Lena ao lado esquerdo, um pouco atrás, Briseis do lado direito na frente e eu, ao lado direito de Briseis, um pouco atrás. Eu não fazia a mínima idéia do que iríamos cantar, eu não lembrava quais música eu havia mostrado para elas na primeira vez em que fui para lá então, me deixei levar pelo momento.
Andrômaca começou a introdução da música "Vem meu Amor" -é uma de minhas preferidas.- em seguida Lena, Briseis e eu acompanhamos, era quase como um acapella. Estava maravilhoso, a voz de Andrômaca era a mais forte, a de Lena e a minha eram as mais finas e Briseis variava um pouco.
Ao final, todos (Ps.: Menos Asti) aplaudiram, Heitor levantou e assobiou, Páris, muito exagerado, subiu em cima do palco e agarrou Lena, os dois quase caíram, todos rimos.
Começamos a descer e levei um susto quando Andrômaca me puxou de volta:
-Espere aí mocinha… -ela olhou séria para Asti.- Filho, -ela falou em um tom mais alto, Andrômaca nunca perdia a classe.- venha aqui.
Asti olhou com cara feia, até revirou os olhos, foi andando meio largadão e subiu no palco. Todos pararam de rir e conversar e começaram a observar a cena.
-Fale minha mãe -ele cruzou os braços na minha frente, não o olhei.
-Será que você e Safira não poderiam cantar uma música? -Eu a olhei espantada, o que você está querendo?
-Para quê, minha mãe? -O garoto perguntou sério.
-Por quê, a partir de hoje, -a voz dela ecoou pela sala.- vocês terão aula de canto e irão aprender a tocar os mais diversos instrumentos.
Que demais! Eu sempre quis aprender a cantar e, além de saber violão, queria aprender algum instrumento novo. Eu estava explodindo de felicidade só que, porém, entretanto, eu não queria ter que aprender junto com Asti, era verdade que eu ainda tinha fortes sentimentos por ele mas, eu preciso seguir o plano e ignorá-lo.
-Tudo bem, se é isso o que você quer, minha mãe… -ele bufou, Andrômaca deu um sorriso.
Em seguida, assim que Andrômaca desceu do palco, todos se sentaram, ele veio andando em minha direção e me olhou, pela primeira vez, nos olhos -ah, e que olhos os dele…- estremeci. Ele não esboçava expressão nenhuma e parou na minha frente, eu meio que fiquei escondida atrás dele. Então ele cochichou para mim, virando um pouco a cabeça:
-"Bela Ciao" -entendi naquele momento qual era a música.
Ele se virou para frente e começou a cantar, e que voz! Ele deu um espaço, eu apareci e comecei onde era minha deixa. Todos observavam sem esboçar expressão e notei que Aquiles estava só de corpo presente mas a cabeça estava em outro lugar -igual os alunos na última aula de uma sexta-feira.
No final da música, todos se levantaram e aplaudiram, Asti desceu com a cara amarrada eu, por outro lado, desci exibindo um largo sorriso.
-Linda! -Gritou Briseis e veio me abraçar, eu retribui.
Briseis me deu um abraço bem apertado, meu braço doeu muito, onde estava roxo, eu queria gritar só que não deixei transparecer essa vontade, aaaaaah. Como se não bastasse, Heitor veio e deu um tapinha daí não aguentei, deixei escapar uma careta e um ai.
-O que foi, Safira? -Heitor se afastou rapidamente preocupado, Andrômaca também se aproximou.
-Iiiih… -Briseis cochichou para mim e saiu para perto dos meus primos, de Ulisses e do casal.
-O que aconteceu? -Andrômaca me olhou, também preocupada.
-Ah não é nada… -coloquei a mão no braço.
-Não Safira, é alguma coisa sim -Andrômaca continuou e tirou minha mão de cima do meu ombro.- deixa eu ver -ela levantou a manga e viu a mancha roxa, ele ficou confusa e Heitor também.
-Safira, o que é isso? -Andrômaca começou a me examinar e olhou o outro braço.- Aqui tem mais, olha amor -ela chamou Heitor, ele olhou e tirou suas próprias conclusões.
-É só… eu… bem, eu bati -fica calma Safira, respira fundo.- eu acho que foi em alguma porta, sei lá -disfarcei o melhor que pude.
-Não Safira, -Andrômaca voltou a me examinar e depois olhou para mim.- é como se alguém tivesse apertado.
-Ah, deve ser o negócio do livro…
-Não, -ela me interrompeu.- não é Safira. Não tem nada haver.
-Quem fez isso? -Heitor me perguntou, ele pareceu preocupado e ao mesmo tempo bravo, não o respondi.- Quem fez isso? -Ele tornou a perguntar e eu não tive escolha...
-Foi… -Asti não estava mais na sala, que estranho.- foi Asti.

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𝔼𝕞 𝕞𝕖𝕦 𝕞𝕦𝕟𝕕𝕠...
Historical FictionSafira é uma garota de dezesseis anos e que tem uma rotina bastante normal. Nas suas férias de julho, em uma noite, ela resolve assistir seu filme preferido: Tróia (2004), quando algo diferente acontece e ela entra para dentro do filme. Tudo no fi...