9° capítulo.

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-E aí? O que fizeram de bom hoje crianças? -Nos perguntou Heitor depois de todos postos a mesa.
-Lemos -respondi simplista e comecei a comer um pedaço de frango.
-Sério? Qual livro? -Perguntou ele depois de tomar um pouco de água.
-Eu li um sobre o Kraken... -Asti respondeu normalmente, Heitor olhou para mim, me dando a palavra.
-O meu fala sobre uma moça que descobre que é princesa... o nome é Η χαρούμενη αρχή μου... (I charoúmeni archí mou.../Meu feliz começo...) -ao ouvir isso, Heitor largou os talheres e ele olhou para o irmão, depois tossiu de leve.
-Você sabe que livro é esse? -Me prguntou Páris um tanto preocupado, parecia nervoso.
-Cala a boca Páris! -Reclamou Heitor o encarando.
-Não... agora eu quero saber -insisti, eles abaixaram a cabeça.
-Safira, venha comigo, por favor -me chamou Andrômaca, nos levantamos e ela me levou até a biblioteca, Briseis nos acompanhou.
-Helena, suba com Asti -ordenou Páris ao qual ela obedeceu.
Na biblioteca, entramos e Briseis fechou a porta, mas não com chave.
-Safira, onde está esse livro? -Me perguntou Andrômaca muito séria . Fui até onde o deixei anteriormente e o entreguei a ela que o analisou.- Eu acho que você não viu isso mas, vou te mostrar, não acho justo esconder tal segredo...
Andrômaca folheou as páginas e parou em uma na qual eu já havia lido, só que eu não havia visto nada de diferente. Nessa página havia outra colada, Andrômaca a desgrudou com cuidado, tirou um papel de dentro da página e começou a lê-lo:
-"Ô tão doce menina, pobre Safira, aquela que guarda, dentro de si, os sonhos mais verdadeiros, a pureza e a ingenuidade, porém, tem a força de um leão. Esse leão a quem me refiro é o guerreiro mais forte da Grécia, tal qual enfrentou e superou nosso querido e justo príncipe Heitor. Doce Safira... nem imagina que seu destino está junto á esse guerreiro, que ele é seu primo. Que eles são." -Na hora eu não havia entendido e até me afastei um pouco das meninas.
-Desculpe não ter te contado antes Safira mas é que...
-Não, -cortei a fala de Briseis já tendo consciência do que estava acontecendo, me sentei em uma cadeira e, a essa altura, meus olhos já estavam cheios d'água.- isso é uma brincadeira não é... -as enxuguei e tentei dar um risinho, eu realmente tinha esperanças de ser tudo uma pegadinha.- quer dizer, não posso ser prima deles, não é possível -sacodi a cabeça negativamente.
-É Safira, é verdade -Andrômaca confirmou meu sofrimento e senti várias lágrimas caindo, naquele momento eu não podia mais impedí-las de rolar.
-Por que não me contaram? -Encarei Briseis nos olhos.- Eu tenho o direito de saber! -Virei para a janela, eu estava tão furiosa, depois tornei a olhá-las.- A quanto tempo sabem disso?
-Logo antes de você chegar -me respondeu Briseis com a cabeça baixa.- A gente viu isso no livro e depois falamos com o oráculo que confirmou e...
-Eu não acredito nisso -interrompi novamente incrédula.
-Não é preciso acreditar Safira, -o quê?! Andrômaca se abaixou ao meu lado e continuou:- você tem até alguns traços deles e...
-Não! -Interrompi outra vez e me levantei furiosa.- Não queira me comparar a esses monstros! -Eu abri a porta e saí correndo o mais rápido que pude.
Passei pelo salão, pela recepção e corri descendo a escadaria do castelo sem olhar para trás. Corri tanto, mais do quê quando fugi do exército grego, só parei ao chegar nos portões de Tróia, que se encontravam fechados por conta da presença do exército grego nas praias. Me sentei escorada nele e comecei a pensar: como eu posso ser prima deles? Afinal, eu sou muito amiga de Heitor, e eles não chegam nem perto disso. Por que ninguém me contou? O que eles queriam esconder? Para quê isso? Então o motivo disso tudo, da minha volta, era só pra eu descobrir que eu era prima deles? Não... não pode ser isso.
Estava tão afundada nos meus pensamentos e em minhas lágrimas que nem vi que várias pessoas gritavam meu nome procurando por mim. Ouvi o trotar de um cavalo, era Páris. Eu me levantei, enxugando as lágrimas, e ele desceu do cavalo:
-Safira! Te achei! Não corre! -Ele fez uma pausa, parecia cansado.- Nós estávamos preocupados com você.
-E... eu precisava ficar sozinha -tentei ser fria, afinal, eu ainda estava muito brava.
-Eu entendo, mas, vamos voltar para o castelo, por favor... -ele estendeu a mão para mim e deu um passo a frente.
Assenti com a cabeça, andei até ele que me ajudou a subir no cavalo, ele fez o mesmo. Quando chegamos na escadaria do castelo, eu desci.
-Safira, eu vou deixar o cavalo no estábulo, vá direto pra dentro em! -Me advertiu Páris de olhos arregalados.
Me virei e subi, cheguei na recepção e, quando eu estava passando pelo salão, lá estava Briseis, Aquiles e Pátroclo, parei na frente dela olhei ela nos olhos e lhe falei:
-Por isso que você queria que eu me aproximasse deles não é? -Ela abaixou a cabeça.- Como pôde? Eu confiava em você... -as lágrimas surgiram novamente.
-Não seja tão dura com ela Safira, nem nós sabíamos disso -Aquiles falou calmo, sereno, como nunca achei que seria capaz e me olhou.
Revirei os olhos e subi direto, corri pelo corredor até meu quarto e tranquei a porta. Eu, praticamente, me joguei na cama e desabei no chorar até que caí no sono.

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