45° capítulo.

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Enquanto você se lembrar de mim… Era isso que Leia queria, ser lembrada, não por todo o mundo mas sim por seu amado. 
 Ninguém dormiu durante a noite, todos iam de um lado para o outro, fiquei a todo momento ao lado de meu primo que não esboçava outra reação além de chorar. 
 O sol saiu "triste", parecendo que não queria brilhar. As meninas cuidaram do corpo de Leia, deixaram-na parecendo uma princesa, o que ela realmente era, uma princesa amazona. 
 Exatamente às nove horas da manhã, toda tróia se reuniu no pátio do castelo, a grande pira funerária tomava conta do mesmo, e ela foi acesa por Pat e por Heitor. 
 Depois que a fumaça desapareceu, as cinzas já terem soprado, a madeira ter sido totalmente queimada e não ter mais ninguém no local além de Pat e de mim, ele não aguentou e voltou a chorar olhando para o que antes era o corpo de sua amada.
 -Achei que não havia mais lágrimas em você… -falei baixinho, colocando a mão em seu ombro.
 -Eu só queria ter vivido minha vida ao lado dela, queria ter a feito feliz -ele não me olhava.
 -E você a fez, você deu a chance de ela ser amada, de ela conhecer o amor. Você sabe quantas pessoas tem essa chance? -ele fez que "não" com a cabeça.- Poucos, e você foi um bom "namorado" para ela, acredite. Ela te amou profundamente -ele enxugou as lágrimas e me olhou. 
 -Como você sabe? -ele me puxou para perto dele. 
 -Vocês se beijaram… Quero dizer, no "meu mundo" isso não tem muito haver, mas aqui, o primeiro beijo de uma moça tem que ser com quem ela gosta, e eu fui criada assim -não me chamem de antiquada. 
 -Eu amo ela… -ele voltou a olhar para a pilha de cinzas.
 -Você falou certo, "eu AMO ela" e não "eu AMAVA" -ele sorriu.- Você não era nem para estar falando comigo… -abaixei a cabeça e, de repente, me bateu uma tristeza. 
 -O quê é isso, Safira? -ele virou para mim e pôs as duas mãos em meus ombros, olhei para ele. - Você é minha prima e eu te amo, nada vai mudar isso -ele me sorriu e eu sorri de volta.- Como ela disse, "você vale ouro" e eu vou SEMPRE cuidar de você -nos abraçamos.
 Chegamos no castelo e fomos para a sala de jantar onde o πρωινό (proinó/ café da manhã) estava posto. Não havia risos e nem conversas, ninguém mal tocara na comida, fomos e ocupamos nossos lugares.
 Era difícil olhar para o lado e não ver Leia alí trocando olhares apaixonados com Pat. Mergulhada nesses pensamentos senti alguém cutucando meu ombro, olhei para o lado e era Asti.
 -Você está bem? -ele me perguntou.
 -"Bem" não é a palavra que posso dizer, Asti -olhei para Pat.- Ele está tão triste, nunca o vi assim -Asti também o olhou e depois voltou a atenção para mim.
 -Eu não gosto do seu primo, mas confesso que é muito triste vê-lo assim. Eu não desejaria isso nem para meu pior inimigo…
 -Isso? -me fiz de "João sem braço", tutorial de como desmascarar o crush bininas (risos). 
 -É, de perder a amada, o grande amor da vida de um homem, isso é horrível -ele não estava me olhando nos olhos. O encarei.
 -E você já passou por isso? -jura? Ele disse isso só com um olhar. 
 -Passei por coisa pior e a cada dia a saudade dela aumenta -então não é de mim.- Sabe o que é engraçado? Ela está bem próxima a mim -será que sou eu?
 -É, te entendo -ele me deu um sorriso de lábios fechados. 
 -Vamos comer… -por fim, falou.
 Depois de termos comido, ou tentado comer, cada um foi para seu quarto tentar dormir um pouco. 
 Todos vão morrer um dia, isso é inevitável, mas era difícil aceitar, ainda mais porque eu vi isso de perto. 
 Deitada no meu quarto encarando o teto fiquei pensando o que seria de meu primo agora que a amada dele se foi. Depois de me trocar, colocar meu vestidinho rosa e deixar meus cabelos completamente soltos, o sono bateu mas não consegui dormir foi então que alguém bate a minha porta. Me levantei, descalça mesmo, e fui atender. 
 -Oi, Safira… -me falou ele de cabeça baixa.
 -Oi, Aquiles -falei meio sem sal.
 Era evidente que a tristeza reinava ali, não havia sequer um barulho que quebrasse o som do silêncio, nem mesmo vindo da cidade, parecia que Tróia havia virado uma cidade fantasma. 
 Aquiles estava com os olhos vermelhos, como se houvesse chorado, ele também amou Pentesileia e eu não duvido que ele ainda a amasse, mesmo sendo em segredo.
 -Os mirmidões chegaram e eu gostaria de companhia para ir buscar eles pois, como você viu, a cidade está uma calmaria só… vamos? -ele não sorriu nenhuma vez. 
 -Claro, vamos sim mas, e Pat, ele vai também? -perguntei me escorando na porta. 
 -Não, -ele levou uma das mãos a nuca.- Pat não saiu do quarto, está muito triste, não quero incomodá-lo. 
 -Tudo bem… eu só vou calçar uma sandália e já desço -arrisquei um sorriso. 
 -Então vou te esperar na sala -ele me deu um sorrisinho, triste, mas um sorriso. 
 Eu sabia que Aquiles estava se esforçando para fazer as pazes comigo e eu não iria ser teimosa justo naquele momento. 
 Depois de prender meu cabelo em um rabo de cavalo e calçar minhas sandálias, desci. Aquiles já estava lá me esperando, não havia mais ninguém na sala além de nós e os guardas. 
 Fomos direto para o estábulo, pegamos os cavalos e partimos para os portões de Tróia, aquele foi o caminho mais silencioso que eu já havia feito. Chegando lá não descemos dos cavalos.
 -Abram os portões! -ordenou Aquiles autoritário. 
 Aos portões serem abertos, me deparei com vários soldados vestidos de preto em uma perfeita formação. Um deles, o que estava a frente e quem eu conhecia, se apresentou: 
 -Meu senhor, mirmidões se apresentando -o homem era sério e tinha uma postura incrível. 
 Ele era alto, tinha a barba por fazer, nos cabelos negros se destacavam, apenas, dois ou três fios brancos e os olhos azuis criavam uma ótima harmonia com a cor de sua pele. Aquele era Eudoro, o segundo dos comandantes de Aquiles e filho de Hermes. 
 Quando Aquiles desceu do cavalo, ele desfez a cara de sério, Aquiles foi até ele e com um sorriso no rosto os dois trocaram um abraço, mas foi um "abraço de mano" mesmo (risos)
 Desci do cavalo também e todos ficamos olhando aquela cena, de repente Lemo aparece e se põe de pé ao meu lado. 
 -Filho! -Aquiles o chama.- Esse é meu amigo e meu guerreiro mais fiel, Eudoro -os dois apertaram as mãos fervorosamente. 
 Se tinha algo que eu não gostava era esperar, eu fiquei em pé com a maior cara de tacho, não sabia o que falar então comecei a aninhar a Lipaleza. 
 -Prima! -ouvi alguém gritar e quando olhei, era Aquiles.- Venha até aqui… -ele fez sinal com a mão me encorajando, até que enfim.
 Fui andando com um sorriso simpático, mas não muito exagerado, e parei entre Aquiles e Lemo.
 -Esse é Eudoro, mas imagino que você já o conhece -falou meu primo, em seguida, Eudoro e eu, nos cumprimentamos com um aperto de mão.
 -Perdão, mas como assim "já o conhece"? Eu não me lembro da senhorita… -Eudoro falou intrigado e buscando em sua memória quem eu era. 
 -Mais tarde eu te explico meu amigo, agora vamos todos para o castelo -Aquiles falou em voz alta.- Vou apresentá-los a Heitor e a Páris.

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