18° capítulo.

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Era estranho fazer as refeições sem Asti, Heitor e Páris, não ríamos muito e nem conversávamos. Os meninos eram muito quietos, de vez enquanto, Aquiles falava algo com Briseis e Ulisses falava algo com Pat, mas eu sempre ficava em silêncio. 
 Após o μεσημεριανό (mesimerianó/ almoço), Andrômaca e eu voltamos para a biblioteca, para continuamos nossas pesquisas.
 -Ah é… e sobre a bateria do meu celular? -Perguntei me sentando ao seu lado em uma cadeira.
 -Aí eu já não sei -ela folheou o livro.- e aqui também não há nada… Deve ser porquê essa tecnologia é muito avançada -e deu de ombros.
 -Gente! -Lena entrou nervosa e muito agitada, levantamos rapidamente.
 -O que foi? -Andrômaca a segurou pelos ombros.
 -Invasão dos gregos… os meninos foram para os portões junto com o exército.
 Eu tinha que agir, não podia ficar ali parada, então saí correndo, passei pela sala, pela recepção, fui para o estábulo, montei na Lipaleza e corri para os portões.
 Quando cheguei lá, todos estavam agitados e corriam de um lado para o outro, soldados iam e vinham e, uma coisa me chamou a atenção, o soldado amigo de Asti (acredito que meu também) não estava lá, mas isso não era prioridade naquele momento. Os portões estavam abertos, saí para fora e me deparei com os soldados troianos todos organizados e, á frente deles, os meninos. Do lado contrário, os soldados gregos e, á frente deles, Agamenon e o irmão, Menelau. Fui cavalgando com Lipaleza pelo meio dos soldados, que iam indo abrindo espaço, e consegui chegar aos meninos.
 -O que você está fazendo aqui? -Aquiles notou minha presença e ordenou:- Volte já para dentro! 
 -O que está acontecendo? -Perguntei a Ulisses, ignorando a ordem Aquiles.
 -Mais guerra, para variar -ele torceu o canto da boca.- Mas volte para dentro Safira -ele me pediu.
 -Por que? -Fiz voz de birra (risos).
 -Porque é perigoso, não quero ver você metida nisso -Aquiles retornou a falar comigo, me virei e olhei para ele. 
 -Venha Safira, vamos… -Briseis surgiu de trás dos soldados e, aparentemente, Aquiles havia ficado furioso.
 -O que você, está fazendo aqui? Pode ir para dentro, também! 
 -Agora você me dá ordens? -Briseis cruzou os braços e o encarou.- Agora, nós vamos ficar, Safira -ela me deu um sorriso.
 -Ué, mas eu vou ou eu fico? -Já estava ficando confusa. Na hora, eu quis rir, mas me contive.
 -Vai Safira, entre agora e leve Briseis com você… -Ulisses cochichou para mim.- não quero que aconteça uma briga de casal justo agora -olhamos para os dois que se encaravam furiosamente.
 -Tá bom, tá bom… -bufei e chamei Briseis, só que ela em ignorou e ficou encarando Aquiles.
 De repente notei que Agamenon cavalgava em nossa direção, ele vinha com calma e com um sorrisinho no rosto. Até que enfim, chegou e parou em nossa frente. 
 -Olha só… -ele desceu do cavalo, permanecemos nos nossos.- os traidores todos reunidos e, olhem -ele apontou para mim.- agora vocês aceitam crianças? Há pouco tempo atrás, eu me lembro de um jovem que quis entrar e não pôde… -ele encarou Pat que fez o mesmo.
 -Pare com isso Agamenon -Ulisses cortou a fala dele.- não tente colocar uns contra os outros, pois isso não vai dar certo.
 -Será? -Ele riu e continuou.- Essa menininha é inteligente… ela conseguiu fugir dos meus guardas, com essa carinha, não parece uma ameaça -ele deu um risinho debochado para mim o qual, devolvi.
 -E é aí que você se engana… -falei ficando séria.- o que você quer aqui?
 -Eu vim para terminar o que eu comecei, ou vocês acham que eu iria ficar vendo Tróia se reerguer? -Ele pareceu bravo.
 -Ela não vai se reerguer, ela já está de pé -Briseis falou o confrontando.
 -Então ela vai cair outra vez! -Ele montou em seu cavalo furioso e foi em direção aos seus soldados. 
 Aquilo, de certo modo, me apavorou pois eu sabia que ali, era o início de uma batalha. Minhas mãos começaram a tremer, eu não queria participar de uma batalha, nunca quis. Estava tão nervosa e, sem me dar conta, apertei com força as rédias de Lipaleza.
 -Safira… -Briseis me chamou.- vamos voltar para dentro. Isso não é ambiente para nós.
 Não tive mais o que dizer, o jogo era sério, dei meia volta com a Lipaleza, Briseis fez o mesmo e, antes que eu começasse a cavalgar de volta para Tróia, virei para os meninos:
 -Cuidado, vocês três… -eles me olharam e, Briseis e eu, voltamos para Tróia.
 Os portões se fecharam, voltamos para o castelo e eu me fechei em meu quarto. Acho que todas nós fizemos isso. Do castelo era possível ouvir o barulho do impacto de espadas e escudos. Eu vesti meu pijama e fiquei a tarde toda no quarto, eu liguei meu celular, que ainda estava no 90%, joguei alguns jogos, editei algumas fotos mas, na verdade, eu estava preocupada com os meninos, isso era difícil de admitir.
Depois de revisar mais de um milhão de vezes as fotos, desci para a biblioteca, escorei a porta, sentei-me no sofá e fui ler um livro, mas era impossível, eu não conseguia parar de pensar nos meninos. De repente, Briseis empurrou a porta, ela estava chorando e quando me viu, se assustou e começou a enxugar as lágrimas, tentando disfarçar: 
 -Oi Safira… o que está fazendo aqui? Você não estava no… no seu quarto? -Ela escorou, novamente, a porta e se sentou ao meu lado no sofá.
 -O que foi? -Coloquei a mão em seu ombro.- Você também está preocupada não é? -Ela não conteve as lágrimas e começou a chorar mais ainda.
 -Si… sim -ela desabou no choro, dei espaço e ela se encolheu em meu colo, parecia até uma criança.
 -Calma Briseis, eu também estou. Mas eles estão bem, parece até que você não os conhece…
 -Mas você não gosta deles, por quê estaria preocupada? -Fiquei meio constrangida com a pergunta e evitei a olhar nos olhos.
 -É complicado… quer dizer, eu não gosto, amo, eles mas também não desgosto. 
 -Ah… -o único som que ela emitiu.
 Ficamos em silêncio por um tempo  que mais pareceu uma eternidade.
 -E Asti? -Ela o quebrou, enfim.
 -O que tem ele? -Não entendi o porquê da pergunta.
 -Você gosta dele? -Ela se endireitou no sofá, enxugando as lágrimas.- Ou melhor, o ama?
 -Si...sim, sim! Sim! -Respondi com certo entusiasmo, agora eu podia me abrir para alguém.- O problema é que  não sei se ele gosta mesmo de mim -e a tristeza voltou a tomar conta de mim.
 -Por quê você diz isso? Ele te beijou! E ele sempre falou que só iria beijar uma garota quando a amasse de verdade e... -ela falou com voz profética.
 -E eu sou prima dos caras que mataram o pai dele! -Deixei escapar o que eu pensava e Briseis arregalou os olhos.
 -E quando você vai contar isso a ele?
 Foi aí que Briseis tocou em um assunto muito delicado, eu não havia pensado nisso nenhuma vez. Eu não queria contar a Asti a verdade, mas eu também sabia que ele iria ficar sabendo, como Andrômaca falou, eu iria mudar e, isso, seria evidente.
 -Talvez, assim que ele chegar da viagem -falei rápido e sem pensar muito.
 -Sério? -Ela se surpreendeu por minha certeza.
 -Sim -só que não.
 -Bem, você é quem sabe… -a morena deu de ombros e começou a mexer em um cacho do seu cabelo.
 Nos assustamos quando a porta da biblioteca foi empurrada violentamente e Lena entrou de surpresa.
 -Vocês se beijaram? -Ela foi até mim, provavelmente, ouviu a minha conversa com Briseis.
 -Sim -respondi meio envergonhada.
 -Não acredito! -Ela começou a pular bastante empolgada.
 -Mas não vai contar pra ninguém, por favor… não quero que Heitor e Andrômaca, principalmente, saibam do ocorrido -me levantei a segurando para ela parar de pular.
 -Mas por quê? -E me olhou decepcionada.- Eles terão que saber, mais cedo ou mais tarde.
 -É eu sei, mas por enquanto deixem isso como está, por favor meninas.
Elas me olharam com um olhar doce, me abraçaram e começaram a me fazer cócegas.
 -Ah é, -Lena se lembrou do que foi fazer lá.- a batalha acabou e sua "sogrinha" -brincou ela.- pediu para nós estarmos lá na escadaria para receber os meninos -me sinti mais aliviada com a notícia.
 -Tá bom, só vou me trocar, rapidinho… -saí correndo e subi as escadas depressa, mal podia esperar para ver todos seguros e bem.

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