28° capítulo.

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Eu não iria descer para o μεσημεριανό (mesimerianó/ almoço) mas resolvi fazer diferente, resolvi ir, afinal, eu não iria mostrar que fiquei triste com o que aconteceu com Asti, como ele próprio disse: só queria dar uns beijinhos, como eu não signifiquei nada para ele e ele já havia me esquecido, decidi que iria mostrar que também podia esquecê-lo.
Coloquei meu bom e velho vestidinho azul, fiz um coque bagunçado, coloquei a gladiadora que ganhei de Briseis e, fazendo um enorme esforço, desci com um sorriso no rosto.
Passei pela sala vazia, fui até a sala de jantar e Asti já estava lá. Era evidente que eu não iria mais sentar ao seu lado na mesa então, ocupei o lugar de Pat ao lado de Aquiles.
Entrei de cabeça erguida e sorri para os demais que estavam no ambiente. O clima estava horrível, tenso, ninguém sabia o que dizer, observei que Asti me encarava, fiz o mesmo e me sentei.
-Gente, -Páris quebrou o silêncio.- não vamos ficar assim né... -Asti e eu continuamos nos encarando, vi labaredas nos olhos dele.- eu sei que o que aconteceu hoje foi terrível mas...
-Terrível? -Asti interrompeu ainda olhando pra mim.- Eu achava terrível quando eu errava a flecha no alvo, achava terrível quando tirava uma nota baixa, quando eu esquecia de algo ou batia o dedo no canto do sofá, mas isso é diferente -ele riu ironicamente.- Isso não tem nem nome -ele falou com deboche.
-Filho, isso não tem nada de terrível, -Heitor tentou apaziguar a situação.- isso é a coisa mais natural do mundo.
-Natural, pai? -Ele desviou o olhar de mim e o transfiriu para Heitor.- Ele te matou, você nem era para aceitar eles aqui mas, quer saber? -Ele se levantou e continuou encarando Heitor.- Você é fraco! -Todos na mesa arregalaram os olhos.
-Astíanax, sente-se! -Andrômaca se levantou.
-Não mãe, não vou me calar mais, você -ele apontou para Heitor.- não é e nunca poderia ter se tornado rei.
-Saia daqui agora! -Heitor se levantou furioso.
-É, eu vou, afinal, as pessoas que falam a verdade aqui são todas erradas, -ele voltou a olhar para mim.- não é? -Ele bateu os braços furiosamente no lado do corpo.
Ele estava agindo como uma criança, ele ainda arrumou um jeito de me ofender, realmente... aquele não era o Astíanax que eu conhecia. Aquela briga era nossa e ele estava descontando em cima dos outros, de quem nós amávamos.
-Não, -me levantei brava.- o único errado aqui é você -apontei para ele e bati a mão na mesa.- Você acha que sabe o que está falando, mas você não sabe, não sabe nem o que aconteceu enquanto estava fora, -ele parou e cruzou os braços.- você nem se interessou em saber. Só chegou, pegou a história pela metade, tirou suas próprias conclusões e brigou com todos! Essa conversa é só entre nós, não envolva os outros em seus assuntos.
-Ótimo, -ele bateu palmas.- que lindo, agora sim vocês são um família feliz, eu nunca fiz parte dela mesmo... com licença -ele deu de ombros, se virou e saiu, nem olhou para trás.
Heitor se sentou, apoiou os cotovelos na mesa e escondeu o rosto nas mãos, Andrômaca o abraçou.
-Eu perdi o apetite, -falei.- acho que não fui a única, não é? -Briseis fez que "sim" com a cabeça e se levantou.
-Quer ir ver o Pátroclo, Safira? Eu acho que ele já acordou -ela também estava como eu, sem saber o que fazer.
-Sim, vamos -concordei, pedimos licença e saímos.
Quando passamos pela sala, a porta da biblioteca estava fechada, acho que Asti estava lá, não liguei, subimos até o quarto de Pat e batemos na porta.
-Quem é? -Ele questiona lá de dentro.
-Sou eu Briseis e, -ela pisca para mim.- eu trouxe uma visita.
Ouvimos de lá de dentro ele se levantando e destrancando a porta, abrimos um sorriso, quando ele me viu, não conteve a cara de espanto:
-Safira! O que faz aqui? -Ele estava com um curativo feito de pano no local do corte e estava com uma carinha de sono.
-Eu vim te ver, primo -quase que essa última palavra não saia (risos).
-Vamos entrar, por favor -ele abriu um pouco mais a porta.
Briseis e eu entramos, o quarto dele era do tamanho do meu e era muito parecido só que havia uma estante de livros ao lado da cama, as cortinas eram mais escuras e havia um manequim com uma armadura ao lado do guarda-roupas. Ele fez sinal para nós nos sentarmos em duas poltronas e ele se sentou em uma de frente com a gente.
-Você está bem? -Perguntei.- Aquiles me falou que você vai ter que passar o dia aqui descansando -notei que, em cima do divã, havia um livro.
-Eu estou bem melhor, obrigada -respondeu ele a minha primeira pergunta.- É, pelo jeito eu vou ter muito tempo para pensar nos meus atos... -ele riu, fizemos o mesmo.
-Pat, por que você foi para a guerra? Você não podia ter ido para lá -falei, ele se arrumou na cadeira, pareceu desconfortável com a pergunta.
-Eu não queria atrapalhar mais a vida de ninguém... -ele respondeu olhando para baixo, estava tão triste.- Eu não acho justo estragar a vida dos outros por causa de minhas burradas.
-Você não faz burrada, Pat -Briseis tentou acalmá-lo.
-Claro que faço, -ele a olhou.- sou muito impulsivo, -Briseis me olhou e voltou a atenção para ele.- não penso antes de agir...
-É, igual a mim -susurrei, ele me notou na conversa e riu.
-Me desculpe Safira, eu não tive a intenção de me intrometer na sua conversa com Astíanax é que, na hora da invasão, não pensei em outra coisa... -ele fez uma pausa, acho que por causa da dor.- tinha que avisar a vocês.
-Não tem problema, eu que peço desculpas por ter falado daquele jeito com você, na verdade, eu não queria ter dito nada daquilo, foi só a "raiva" -fiz sinal de aspas com as mãos.- que tomou conta de mim. Ah! Ele é tão... -bati a mão na testa e eles riram.
-Mas vamos falar de algo bom, está bem? -Briseis mudou de assunto.- Eu achei tão fofo quando o meu, -ela estava com uma carinha de boba, parecia que estava em outro mundo, depois notou nossa presença.- o Aquiles -corrigiu ela.- falou que queria se entregaria no lugar de vocês, ahhh... -ela suspirou apaixonadamente.
É verdade! Na correria, eu não tinha me atentado para isso, foi ele que se ofereceu para ficar no nosso lugar, no de Pat e no meu, será que ele estava realmente falando a verdade? Ele iria mesmo se "sacrificar" por nós? Ele iria se sacrificar por mim? É porque, por Pat ele, com certeza, faria isso mas, e por mim? Será?
Boiei um pouco nesses pensamentos mas despertei rapidamente:
-Acho que ele só fez isso por que tinha um plano -conclui.- Ele, com certeza, tinha um plano -olhei pela janela.
-Não, ele realmente estava disposto a fazer isso por nós, Safira -Pat falou calmamente.
Vi o pátio, lá estavam Aquiles, Heitor e Andrômaca conversando, Heitor me parecia triste, com certeza foi pelo o quê Asti disse.
-Ele não era assim... -levo um susto com Briseis observando a janela atrás de mim.
-Quem, Asti? -Volto a olhar para fora.
-Sim, ele era um garoto tão calmo -ela levantou e começou a andar de um lado para outro.- Realmente, depois que ele cresceu, ele mudou muito. Eu não achava isso até Páris e Ulisses me contarem o que aconteceu -me surpreendi, eu não sabia que eles haviam contado a Briseis.
-O que aconteceu? -Pat perguntou se sentando mais na ponta da poltrona. Fiz sinal que "não" com a cabeça para que ela não contasse a ele.
-Nada de mais Pat, só uma briga mesmo -ela parou de olhar para mim.- Não sabia que Asti era tão explosivo assim... -notamos que Pat bocejou.- Você precisa descansar agora moço, vamos Safira -me levantei.
-Olha, eu adoraria que vocês ficassem mais, só que realmente estou com sono -rimos e ele nos acompanhou até a porta.
-Bom descanso... -falou Briseis e fez um "toca aí" com ele.
-Bom descanso, primo -sorri e ele me sorriu de volta.

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