36° capítulo.

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O δείπνο (deípno/ janta) seguiu normalmente, agora todos estavam mais falantes, Pat brincava com todos, sua garganta já estava bem melhor e Aquiles já não estava mais tão quieto, ele conversava mais com Heitor. Asti brincava com Pat, Ulisses, Lena e Páris,de vez em quando, mas não dirigia a palavra a mim. 
 Por fim, quando todos já estavam de "bucho cheio", Andrômaca levantou:
 -Pessoal, vamos fazer uma fogueira lá fora um pouco?
 -Vamos! -Pat respondeu animado, depois se deu conta que todos estavam olhando pra ele e corrigiu.- Se todos concordarem, é claro -nós rimos e todos responderam com energia um sim.
 Fomos para o pátio, dessa vez Heitor e Ulisses levaram dois violões. Nós nos sentamos em algumas almofadas, Aquiles e Briseis ficaram agarradinhos assim como Páris e Lena e Heitor e Andrômaca. Asti, Pat e Ulisses se sentaram um do lado do outro e eu, como fui a última a chegar, fiquei sem almofada. Eu já ia me sentando no chão quando:
 -Prima! -Pat me chamou, fiz uma de desentendida e apontei para mim:
 -Eu? -ele e Ulisses riram.
 -Claro né, ou eu tenho mais uma prima por aqui que eu não saiba? -Eu ri.- Sente aqui com a gente -ele e Ulisses se afastaram um pouco de Asti, deixando um espaço entre eles. Fui e me sentei.
 Eu não acredito que fiz isso. Eu me sentei ao lado de Asti, senti o calor de seu corpo, seu braço estava encostado no meu, senti seu cheiro doce, conseguia vê-lo sem precisar virar a cabeça, só pela visão periférica. Tentei não ficar muito grudada com ele, fui um pouco mais para o lado de Pat, acho que ele percebeu porque ele olhou para Ulisses e os dois riram. 
 -Safira! -Heitor me chamou, despertando-me daqueles pensamentos.- Qual música? 
 -Toca um modão aí -respondi rindo, Heitor piscou e começou a cantar a música "Índia". 
 Me surpreendi pois quase todo mundo sabia cantar, pelo o que eu entendi, foi a primeira música que eu ensinei da primeira vez em que fui para lá. 
 Asti também cantava e, em um momento da música, quando falava "Sua boca pequena, eu quero beijar ", ele olhou para mim. É lógico que eu disfarcei e cantei mais alto ainda.
 Quase no final da música um guarda chegou, nos fazendo parar de cantar: 
 -Com licença, -ele se aproximou de Páris.- meu rei, tem uma moça caída na frente dos portões. O que devemos fazer? 
 -Uma moça? -Páris se levantou assustado. 
 -Sim senhor, uma moça muito jovem.
 -Espere um pouco, -ele olhou para o irmão.- já estou indo lá… não abra os portões por nada! Entendeu? -Ele soava autoritário.
 -Sim senhor, com licença -o guarda se retirou. 
 Todos se mantiveram em silêncio, na verdade, eu estava ansiosa para ver quem era a moça. Pelo o quê eu saiba, todos os αγρότες (agrótes/ fazendeiros) da região, estavam em Tróia, por conta da invasão, então não havia sentido ter algum cidadão do lado de fora. Eu estava mesmo muito curiosa e, como ninguém não falava nada, resolvi me manifestar: 
 -É aí? Ninguém vai lá ver? -Páris pareceu despertar, me levantei.
 -Sim, vamos então… -todos começaram a se levantar- quero dizer, todos os HOMENS. 
 -Nossa, -continuei de pé e cruzei os braços.- por que só os homens? -Eles foram andando até Páris.
 -Porque sim, Safira. Ora! E se isso for algum truque? Não vou deixar que vocês se arrisquem assim e…
 -E nós queremos ir, -olhei para as meninas, torcendo para que elas concordassem comigo- não é meninas? -Elas concordaram com a cabeça, ainda bem. Páris revirou os olhos.
 -Tá bom, mas -ele soou autoritário, novamente.- quero vocês nas muralhas! Vão observar o movimento de cima e você também, meu sobrinho -ele apontou para Asti.
 -Mas, tio… -ele tentou se opor.
 -Asti, obedeça seu tio! -Heitor tomou a frente do garoto.- É melhor assim.
 Asti bufou e revirou os olhos mas, por fim, concordou.
Seguimos, a cavalo, para as muralhas, já deviam ser umas dez e meia da noite. Chegando lá, descemos dos cavalos e subimos, todos, para o alto da muralha. Lá de cima, conseguimos ver tudo, inclusive o acampamento grego à beira mar.
 Quando olhamos para baixo avistamos uma moça envolta em panos, ela estava caída. Olhando ao redor, não havia nenhum sinal de nenhum soldado grego, mas a questão era: o que aquela moça fazia ali?
 Páris rapidamente pediu para alguns guardas se prepararem para abrir os portões, mandou também os arqueiros mirarem para ela, caso fosse uma armadilha. 
 Em seguida, os meninos estavam se preparando para descer, quando:
 -Pátroclo! -O chamou Aquiles, ele andou até o primo e parou na frente dele.- Fique aqui com as garotas e com Asti. 
 -Mas, por quê? -O garoto falou inconformado e começando a fazer birra.
 -Porque, caso isso for uma armadilha, você tem que pegar as garotas e Asti e correrem daqui, tem que ir se proteger...
 -Mas -ele interviu.- e o que você me ensinou? Aquilo de ser bravo, valente, não ter medo…
 -Esqueça! -Aquiles falou em tom mais alto.- A prioridade, agora, é sua vida. Apenas faça o que eu mandei -ele o encarou bravo e o garoto retribuiu esse olhar. 
 Eu sabia que aquilo não era uma armadilha, ou tinha quase certeza, meu sexto sentido nunca me enganou. Eu sabia, também, que Pat era bom com a espada, embora não seja igual o primo, também era muito bom. Só porque ele fracassou uma vez, não quer dizer que ele irá fracassar de novo, acho que todos merecem uma chance e estavam privando Pat dessa tal chance. Não era justo com ele então, me opus:
 -Com licença -falei chegando perto de onde os dois estavam.- Acho que Pat deveria ir -falei olhando para Aquiles, ele estava muito confuso. 
 -Como assim, menina? -Ele me perguntou.
 -Bem, -Pat cruzou os braços e prestou atenção na minha explicação.- ele é bom em manusear uma espada, você sabe -Aquiles balançou a cabeça em concordância.- E, aparentemente, não há nenhuma situação de risco, é só um resgate -dei de ombros.- Então não custa nada ele ajudar… -acho que ele caiu.- Agora, se você discordar de algo que eu disse, não precisa deixar ele ir, é escolha sua -ele não tem escapatória. 
 Aquiles me encarou, acho que enquanto pensava, por fim, me deu um leve sorrisinho e falou: 
 -Espertinha… Tudo bem, -e voltou a falar com Pat.- pode vir, depois te passo as instruções, vamos -ele foi andando na frente, Pat o seguiu e, antes que sumisse de minha vista, ele se virou, deu um sorriso e sussurrou um obrigada, lhe sorri em resposta.

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