55° Capítulo.

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Eu estava certa, os dias se passaram bem lentamente. Todos os dias, durante a tarde, Neoptólemo buscava um dos meninos, o levava para Agamenon e, este, voltava todo machucado. Estavam nos torturando e sempre com o mesmo propósito, redenção, a “morte de Safira” e a revelação de onde o está o tesouro de Tróia, eu já estava quase me acostumando. Eu, realmente, não entendia.
  Agamenon estava em um tipo de “rodízio”, quando todos os meninos já haviam sido torturados, ele voltava ao início. 
 Oito dias se passaram, ninguém aguentava mais aquilo, os meu “primos”, interferiram em uma coisa ou outra, mas não podiam fazer muita coisa. Briseis estava menos agressiva com Aquiles que estava indo frequentemente na nossa prisão (sempre para levar comida e algum tipo esquisito de remédio para os meninos) então acho que ela estava se acostumando com a presença dele ali, NOVAMENTE. 
 Os primeiros sinais de vida do filhinho de Briseis e Aquiles já estavam sendo notados, a barriga de Bri já estava começando a aparecer (se bem que parecia mais a minha depois de comer um pão, risos).
 Quando acordei, no oitavo dia, estava decidida a fazer algo caso alguém fosse buscar um dos meninos para mais uma sessão de tortura. Então, quando vi Neoptólemo entrando na cela, o interrompi antes que pudesse dizer algo:
 -Se você acha que vai levar um deles, está enganado -o encarei fazendo cara de brava, ele riu com sarcasmo.
 -Ah é, pirralha? -ele deu um passo à frente.- E o que você vai fazer? 
 -Já que vocês querem tanto me matar, por quê não o fazem logo? -o enfrentei.
  Aquiles e Pátroclo chegaram e entraram ficando atrás de mim, como se dissessem, em silêncio, que estavam do meu lado. 
 -Eu, sinceramente, não sei o que Agamenon quer -ele falou com um olhar sereno.- Por mim, já teria feito isso à muito tempo.
 -Mas você é muito ridículo… -revirei os olhos e bufei.
 O soldado se irritou, vi a fúria em seus olhos, foi aí que, em um movimento rápido, ele segurou meu pescoço e me ergueu do chão. Segurei as mãos dele tentando me soltar mas, não deu em nada. Ouvi, meio de relance, que o pessoal atrás de mim se levantou rapidamente.
 -Eu farei isso com todo o prazer. Primeiro, esse bastardo que essazinha aí espera, não vai nem chegar a nascer, depois vou matar esse idiotas que você chama de família e farei isso com seu amado bem lentamente, ele vai sofrer por ser um metido e por ter te amado -ele me olhou de cima para baixo.- Logo você, que não tem nada de especial… 
 Antes que ele terminasse, juntei todas as forças que eu tinha e dei um murro de mão cheia em Neoptólemo, ele me soltou e cambaleou para trás. Eu caí no chão e tentei recuperar o fôlego, Aquiles e Pátroclo me ajudaram a levantar.
 Neoptólemo foi se levantando devagar, ele pôs a mão no canto da boca e olhou, havia muito sangue, depois de se pôr completamente de pé, ele cuspiu um dente no chão. Fui eu quem fez isso? -me perguntei.
 O soldado me olhou com ódio e falou:
 -Agora você foi longe demais, pirralha.
 Neoptólemo agarrou meu pulso e me puxou para fora, o pessoal nos seguiu e todos os demais que estavam trabalhando na praia, pararam para ver o que estava acontecendo.
Ele me largou em um canto e, depois de dar alguns passos na direção oposta à mim, parou e se virou de frente, como um duelo daqueles filmes de faroeste. 
 O loiro começou a tirar a espada da bainha e a jogou na areia, fez o mesmo com outras três facas que estavam em sua posse. 
 -Eu vou acabar com você com minhas próprias mãos -ele apontou para mim. 
 Eu não queria lutar com Neoptólemo, quer queira quer não, ele era meu primo. Quando o conheci me tornei amiga dele e, agora, estávamos prestes a duelar.
 Ele correu em minha direção de punhos fechados, ele era muito alto, então passei com facilidade por baixo dos braços dele. Ele quase caiu de cara na areia, mas manteve o seu equilíbrio, olhei em volta e todos nos olhavam aflitos, só não sabia para quem estavam torcendo. 
 Novamente ele veio em minha direção, dessa vez, permaneci parada e, quando ele estava perto o suficiente, passei o pé nele, dando a famosa rasteira. Como ele vinha rápido, tropeçou e caiu no chão.
 Como ele caiu perto de onde ele havia largado a espada, não foi difícil retornar a pegá-la. Então me atacou, foi difícil, mas eu desviei. 
 Ele continuou vindo em minha direção e me atacando com a espada, então, em um desses ataques, ele acertou, de raspão, meu braço. Doeu um pouco mas nada que eu não pudesse suportar.
 Na tentativa de me defender, peguei um punhado de areia e joguei nos olhos dele que, na mesma hora, desesperou-se e tentou tirar a areia dos olhos. Tentei pegar a espada de sua mão mas ele recuperou rapidamente a visão e me chutou para longe. Eu caí desprotegida e ele veio andando e parou com a espada em minha garganta. 
 -Agora vou cumprir um dos desejos de Agamenon, destruir a herdeira da Ftia.
 Neoptólemo levantou a espada e se posicionou, pronto para cortar minha garganta. Pensei se aquele seria o final do meu filme. Sabia bem qual seria a música que tocaria ao fundo quando os créditos começassem a subir: "Love of My Life", do Queen.
 A lâmina da espada brilhava ao sol que aquecia aquela terrível batalha, as gaivotas grasnavam acima de nós. Neoptólemo foi descendo a lâmina violentamente pronto para cumprir o que havia dito quando alguém surge entre mim e a espada e segura o punho do soldado com as duas mãos. 
 A luta se virou para os dois, me levantei rapidamente e vi que meu cavalheiro era Astíanax. Ele estava empunhando uma espada e tentava, a todo custo, se defender dos ataques de Neoptólemo. 
 Quando Asti começou a atacar, atingiu "Lemo" (não, Neoptólemo) na perna, mas ele não pareceu sentir dor. 
 Avistei as facas de Neoptólemo próximas a mim, corri e peguei uma, então, numa tentativa de ajudar meu amo… meu amigo, fui até onde a batalha estava ocorrendo. 
 Asti rodopiou e atingiu novamente Neoptólemo, só que dessa vez, no peito (essa ele sentiu). Pensei: "Agora eu entro no "embalo". Mas que burrada! 
 Quando fui para perto de Asti, ele se virou e, com um rápido movimento defensivo, senti minha garganta arder por fora e uma dor se alastrar por todo meu corpo, foi aí que tudo escureceu.

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