Eu estava em uma linda praia, era a praia de Tróia, só que sem aqueles esqueletos de barcos e sem os soldados armados, recordava-me a Tróia de dez anos atrás onde tudo era paz. Estavam todos lá se divertindo, todos JUNTOS, sem nenhuma briga, isso que me espantou. Então eu entrava na água e quando abria os olhos, Asti tinha acabado de mergulhar e, se aproximando, me deu um beijo. Quando voltei a superfície, voltei com um longo vestido creme cheio de pérolas e pedras preciosas, na cabeça a "minha coroa" e eu também usava um colar de conchas (muito parecido com o dos meninos).
E… e eu acordei com as gotas gelada de água nas pontas dos meus dedos dos pés (risos). Eu permaneci deitada, olhei para cima e identifiquei o interior de uma cabana. Onde eu estou? Cadê o pessoal?
Eu tentei falar mas não consegui emitir nenhum som, foi aí que o desespero bateu, eu me sentei depressa e a minha cabeça começou a girar. Levei as mãos a ela mas, aparentemente, não havia nenhum machucado. Olhei para o meu pé e me deparei com Pátroclo me olhando, confesso que levei um susto.
-Você está bem? -ele me perguntou, levantou colocando uma jarra ao lado e voltou-se para mim.
Minha garganta doía muito, engoli a saliva e, tal ato, me pareceu que eu estava engolindo brasa.
-Dói muito, não é? -ele já estava me irritando com tantas perguntas (risos).
Balancei a cabeça em concordância, olhei ao redor e me vi sentada em um amontoado de peles e lençóis. A dor da garganta diminuiu muito rápido, pareceu nunca haver existido.
-Onde eu estou? -perguntei a ele.
-Está na cabana de Aquiles -ele respondeu simplista.- Fique a vontade, alí tem frutas e pão, -ele apontou para um canto.- aqui tem água e -este abriu os braços e os fechou como se tivessem pesos em suas mãos, as batendo contra o corpo.- tem eu, que estou aqui para te ajudar.
-Não preciso de sua ajuda -me levantei.- Onde está o pessoal?
-Estão na "prisão" -ele fez aspas com as mãos.- Aquiles trouxe Briseis para cá, ela acordou e partiu para cima dele -tentei imaginar a cena.- Ele segurou ela e a beijou, ela saiu correndo e ele foi atrás, isso tudo a uns vinte minutos atrás. Não sei onde eles estão agora… -Pátroclo se sentou na cama que estava ao lado.
-Então, já que todos estão lá, na prisão -fui andando até a porta.- Eu vou para lá, ah é… você tem que ir abrir a porta, senão eu não consigo entrar -escorei na porta.
Ele começou a rir, se levantou, andou até mim e pôs a mão no meu ombro. Antes que pudesse me dizer algo, uma barulheira surgiu do lado de fora, tentamos olhar mas Briseis passou furiosa para dentro da cabana nos afastando da porta. Aquiles, é claro, veio andando atrás dela.
Ele tentava abraçar e falar com ela só que ela o empurrava e não dava ouvidos a ele.
-Briseis! -corri e a abracei, ela me abraçou de volta.
-Você está bem, Safira? -a morena me perguntou, ainda estávamos abraçadas.
-Estou sim, mas e você? -a olhei.
-Sim, eu estou… -as lágrimas começaram a escorrer dos olhos dela e ela desabou.
-O quê foi, Bri? -a perguntei tendo a certeza de que ela não iria responder no estado em que estava.- Eles fizeram algo com você, emmm? -Aquiles surgiu atrás dela e balançou a cabeça negativamente.
-Na...não -ela continuava a chorar.
Notei que ela estava pálida, seus lábios muito brancos e, após essa minha análise, ela desmaiou. Aquiles a segurou com cuidado a impedindo de cair no chão e a colocou na cama, em seguida se sentou ao lado dela.
-O quê ela tem? -perguntei preocupada, nem notei quando Pátroclo me puxou para perto dele.
-Acho que ela está fraca. Eu já chamei o ιατρός (iatrós/ médico) só que ele ainda não chegou.
Me afastei um pouco de Pátroclo afinal, nós não éramos mais nada, bem… da minha parte, não.
-O seu "reizinho" sabe que nós estamos aqui, fora da cela? -perguntei cruzando os braços.
-É claro que sim, não que eu precise da permissão dele para isso -ele piscou e eu deixei escapar um risinho.
Eu andei até a cama onde Bri se encontrava, me sentei ao seu lado e peguei sua mão.
-Ela vomitou hoje, na hora que a trouxemos para cá -Pátroclo deixou escapar.
Que estranho, ela não havia comido nada faziam horas, acho que era por isso os desmaios mas, e os vômitos? -pensei.
Bri foi se mexendo, levou uma das mãos a cabeça e abriu os olhos lentamente.
Ouvi alguém chegando na porta, me virei para ver quem era, vi Neoptólemo meio de relance e me virei, novamente, para Bri.
-O quê você tem? -lhe perguntei.
As lágrimas voltaram a surgir nos olhos dela que, depois de olhar para Aquiles, revirou os olhos e respirou fundo, parecendo que ia desabafar algo.
-Eu acho que eu estou έγκυος (énkyos/grávida)... -na hora, meus olhos se arregalaram, não mais que os de Aquiles.
-Co...como -acho que ele estava quase querendo gritar (risos).
-Eu ACHO -ela enfatizou essa palavra.- Não tenho certeza de nada -ela o encarou brava.
-Eu não duvido -falei.- Pelos sintomas, só pode ser isso ou pode ser fome, o que eu duvido...
-Pois que a deixem sem comer -Neoptólemo me interrompeu, ele parecia muito atordoado.
Aquiles levantou com a feição enfurecida, notei que Pátroclo pôs a mão no cabo da espada, eitaaaa…
-Como você pode dizer isso? -Aquiles se aproximou bem do filho que o encarou.
-Você vai permitir um bastardo? -ele bateu palmas ironicamente.- Muito bom príncipe Aquiles…
-Saia daqui -ele apontou para a porta.- Vamos, antes que eu perca a paciência com você. Saia! -ele ordenou.
Neoptólemo, mais uma vez, o encarou com ódio nos olhos deu um risinho de canto de boca e, antes de sair, ainda disse:
-Pense direito antes de fazer as coisas, não seja tão estúpido…
Ele sumiu depois de dizer isso. Aquiles bufou e voltou para seu lugar ao lado de Briseis.
Eu me levantei e fiquei ao lado de Pátroclo, não queria atrapalhar o momento do casal.
-Meu amor, eu não sei o que…
-Seu amor? -Bri o interrompeu.- Você não é o meu amor, depois de tudo que fez se acha no direito de dizer isso? -ela foi se levantando.- Você tinha amigos, e os traiu, você tinha uma prima, e a desprezou, você tinha um "amor", e agora a perdeu -ela pegou em minha mão e me trouxe para perto dela.- Você tinha o que alguns homens não tem e, agora, você perdeu todo isso. Sabe quantos homens dariam tudo para estar em seu lugar? -Bri esperou para que ele dissesse algo mas o loiro, apenas, abaixou a cabeça.
Eu não aguentei e comecei a chorar, um choro que saiu silencioso mas dolorido.
-Foi o que eu esperava -ela disse, por fim.- Vamos voltar para nossa cela, Safira.
Ela se virou e foi andando até a porta, fui saindo puxada por ela e antes que saíssemos, Aquiles disse:
-Ele nos ameaçou -ele levantou rápido e reparei que Pátroclo abaixou a cabeça.
-Ah é? E ameaçou como? -Briseis o enfrentou.
-Ele falou que ia matar você, a Safira, invadir Tróia… -ele bateu os braços na lateral do corpo.- Até o meu próprio filho me ameaçou.
-Sério?! -fiquei surpresa por isso, afinal, Neoptólemo era um "amigo" meu e de Asti.
Pensando bem, comecei a reparar os meninos estranho desde antes de Aquiles encontrar Neoptólemo, mas depois parece que piorou essa estranheza, e Pátroclo não se dava muito bem com ele…
Pelo o quê eu estudei a respeito de Neoptólemo, ele era um carrasco, era pior que o pai, muito pior. Na história, a piedade que Aquiles teve com Príamo, o pai de Heitor, foi superada pela crueldade que Neoptólemo teve com ele. Entre outros pontinhos e reticências, Neoptólemo sequestrou Andrômaca e matou Astíanax (Ps.: Isso na história real).
-Sim, -Pat (opa), Pátroclo respirou profundamente bem irritado.- e eu nunca gostei dele.
-Mas você já o conhecia? -perguntei curiosa.
-Não, conheci ele pouco depois de Aquiles e nunca fui com a cara dele. Para ser sincero, eu só dava risinhos -Pátroclo fez careta.- porque ele era filho de meu primo.
-Que ótimo… -Bri falou.- Como se você se importasse com o que a gente pensa.
Aquiles riu e andou até Bri, colocou as mãos nos ombros dela, que se soltou furiosamente.
-Não toque em mim! -ela falou em tom mais alterado.- Você já me fez muito mau e…
-Isso é o mau que eu te fiz? -ele tocou na barriga dela, que ainda não aparecia.- Em Briseis, me responda? -ele a olhou bem no fundo dos olhos.
Olhei pra ela e as lágrimas tornaram a aparecer. Ela desviou o olhar e ordenou:
-Vamos, Safira…
Ela me arrastou pelo braço e saímos da cabana. Fomos andando no sol quente até chegar ao nosso barco, os guardas logo perceberam e abriram a porta, nos fazendo entrar.
Mal entramos e todos já vinheram nos abraçando e perguntando o que aconteceu. Bri revelou sobre sua gravidez e, pelo seu relatório dito a Andrômaca, a mesma confirmou. Apesar da angústia e do desespero de estarmos presos, todos ficaram muito felizes por ela.

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𝔼𝕞 𝕞𝕖𝕦 𝕞𝕦𝕟𝕕𝕠...
Historical FictionSafira é uma garota de dezesseis anos e que tem uma rotina bastante normal. Nas suas férias de julho, em uma noite, ela resolve assistir seu filme preferido: Tróia (2004), quando algo diferente acontece e ela entra para dentro do filme. Tudo no fi...