14° capítulo.

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Quando acabamos, as meninas foram para a biblioteca e Asti e eu seguimos com os rapazes para o pátio. Lá, tudo já estava pronto, haviam várias espadas e escudos de madeira em um canto no chão, Asti e eu nos sentamos ao lado. 
 Cada um dos rapazes pegaram uma espada e um escudo e formaram duplas: Heitor com Páris e Aquiles com Pátroclo.
 -Ei Asti! -Ulisses o chamou, ele se levantou e foi até ele.- Vamos formar uma dupla, nós dois? 
 -Vamos sim… -Asti pegou uma espada e um escudo também, depois trocou um "toca aí" com Ulisses.
 Eu apenas observava, quando a "luta" começou, uns renderam e outros caíram, mas todos se divertiram. Depois de umas cinco horas de treino, todos já estavam cansados e, a partir disso, Ulisses rendeu Asti arremessando a espada dele para longe, que caiu ao meu lado, a peguei e me levantei para entregar a ele. Todos pararam a luta e prestaram atenção em mim.
 -Vamos Safira, tem coragem de enfrentar a fera aqui? -Brincou Páris ficando em posição de luta.
 -Claro… -dei de ombros, ninguém pareceu acreditar. 
 -Ok princesa, só cuidado -ele piscou para mim, ri e fiz o mesmo.
 Páris foi em minha direção e tentou me atingir, eu desviei e consegui derrubar o escudo dele. Quando me dei conta, estávamos num jogo de ataque e defesa, que mais me parecia uma dança, dei uma pirueta, o atingi e todos bateram palmas. Fiz uma breve reverência, brincando.
 -Nossa, eu não sabia que você era tão boa assim -falou Aquiles se aproximando de mim.
 -É, ela é muito boa, -Heitor começou a me elogiar, e sorriu para mim.- desde pequena, aliás… -ele ergueu o inducador.- ela e Asti. Os dois são ótimos -e puxou Asti para perto dele bagunçando o cabelo do filho, que riu.
 -Obrigada treinador -respondi simplista, Aquiles, Pátroclo e Ulisses  pareceram surpresos e se entreolharam.
 -Treinador? -Me questionou Pátroclo. 
 Heitor foi em minha direção, me abraçou, a qual eu retribuí, e respondeu a pergunta dele:
 -Sim, eu treinei Safira e Asti antes da guerra. Na verdade, eles que me pediram, -comecei a lembrar.- eu não queria ensinar eles tão cedo assim, queria que eles aproveitassem bem a infância né, mas… -ele levantou os braços como se falasse: fazer o quê, né?
 -E a gente aproveitou pai, -Asti falou mas, em seguida, pareceu triste, aquele lindo sorriso havia desaparecido.- só queria ter aproveitado um pouco mais com você… -ele começou a ficar vermelho e saiu, andando rápido.
 -Asti… -tentei o chamar e o segui.
 Asti começou a correr e só parou quando chegou na biblioteca, eu o segui até lá e, quando entrei, ele estava bravo e querendo chorar -percebi isso pela agonia dele, ele andava de um lado para o outro, respirava rápido e, assim como eu, começou a coçar a ponta do nariz.- Eu escorei a porta, fui até ele e o abracei, fazendo parar de andar.
 -Calma Asti… -ele era bem mais alto que eu que, praticamente, sumia em seus braços.- Eu sei o que você está sentindo, eu entendo, também sinto isso e, comigo é até pior. 
 -Por quê pior? -Ele abaixou a cabeça e olhou para mim.
 Nossos olhos se encontraram, mais uma vez, os dele estavam brilhando, ameaçando chorar, os meus também, nós estávamos perto, perto demais, foi aí que o, que eu queria evitar, aconteceu. Ele fechou os olhos e encostou seus lábios nos meus, me peguei também de olhos fechados e não fiz nada. Senti sua respiração cada vez mais calma, me deixei levar nas batidas de seu coração e apenas deixei o momento fluir, confiei em minhas expectativas e não poderia, jamais negar, que era algo que eu desejava, mesmo que fosse uma emoção que ficasse por tempo escondida, ainda assim ela existia e estava ali, apenas esperando para me mostrar que, aquilo, talvez era mesmo o que deveria acontecer. Foi uma sensação mágica, senti borboletas no meu estômago, eu nunca havia beijado antes. 
 Quando nos afastamos, não consegui olhá-lo nos olhos, me soltei dos braços dele com delicadeza e corri para fora da biblioteca, passei pelo salão, Heitor e Aquiles vinham entrado, ignorei-os e subi para o meu quarto rapidamente. 
 Cheguei, tranquei a porta, fechei a cortina e me deitei na cama pensativa. O que foi isso? Que besteira eu fiz? Isso não é justo com ele, eu nem consegui contar a verdade. Agora vai ser mais difícil ainda. 
 -Safira?! -Heitor me chamou batendo na porta.- Você está bem? 
 -Estou sim Heitor… -respondi sem abrir a porta e tentando disfarçar a voz de choro, provavelmente ele viu eu correndo. 
 -O que aconteceu entre você e Asti? -ele falou mais alto e, não vi outra escolha, se não abrir a porta.
 -Quer entrar treinador? -O convidei depois de abrir a porta com um arriscado sorriso.
 -Não querida, estou bem aqui… obrigada -ele me sorriu, era tudo o que eu precisava naquele momento, um sorriso.- Asti saiu da biblioteca confuso, pegou um cavalo e saiu por aí.
 -Ele foi além dos portões? -Me assustei e Heitor reparou.
 -Não, calma. Mandei um guarda o seguir -respirei mais aliviada.- Safira, amanhã Asti, Páris e eu vamos ter que fazer uma curta viagem, de mais ou menos uma semana. Você vai ficar bem? -Me surpreendi pela viagem.
 -Sim, eu vou mas, quem vai tomar conta da gente? -Perguntei torcendo para que ele não falasse quem eu estava pensando…
 -Aquiles, Pátroclo -é, era quem eu estava pensando- e Ulisses. As meninas não vão, então vocês devem ficar juntas -ele advertiu.
 -Tudo bem… mas, tomem cuidado, viu! -Falei e ele riu.
 -Eu sei capitã -ele fez uma continência, da qual eu ri.
 -Daqui a pouco iremos servir o δείπνο (deípno/ jantar), pois vamos dormir cedo para acordar cedo, nós encontre lá -ele se virou pronto para descer.
 -Heitor, -o chamei.- se você não se incomoda, eu não estou com fome. Acho que vou ficar no meu quarto mesmo, obrigada.
 -Tudo bem, mas vai amanhã se despedir da gente, certo? -Ele pareceu conformado.
 -Está bem… Καληνύχτα (Kalinýchta/ Boa noite) -disse com um sorriso. 
 -Καληνύχτα (Kalinýchta/ Boa noite) -ele piscou para mim. O observei sumir no corredor e voltei para meu quarto.
 Naquela noite, só pensei no beijo… esqueci tudo, todos os problemas, todas as dúvidas, só pensei naquele momento. Quase sem querer, adormeci.

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