44° capítulo.

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Subimos correndo, eu não queria ver meus primos brigando, por mais teimosos que fossem, não havia necessidade de uma briga. Para mim esses dois eram unidos, mais que muitos irmãos por aí, e não brigavam daquele jeito. Por fim chegamos no corredor, ouvi coisas quebrando e, quando empurramos a porta, parou. Nos mantivemos do lado de fora, olhando lá dentro não vi sinal dos meninos e o quarto estava menos bagunçado do que eu esperava (havia, apenas, alguns livros e almofadas jogadas no chão). 
 -Onde eles estão, Briseis? -perguntei, eu estava MUITO assustada (medrosa eu, risos).
 Briseis nada disse, ela me empurrou para dentro, entrou e trancou a porta. Ela colocou a chave em cima do armário, -que era um lugar alto que eu não alcançava.- vi que Pat saiu detrás da porta e Aquiles de dentro do banheiro, mas não parecia que ele acabara de tomar banho. Intrigada, perguntei: 
 -O quê é isso? -não me movi. 
 -Vamos conversar um pouco… -Briseis falou com uma voz misteriosa e eles se aproximaram mais.
 -Tá bom, -não me mostrei acuada.- do que vocês querem falar? -cruzei os braços. 
 -Sente-se ali -Aquiles apontou para uma cadeira.
 Eu não queria obedecer Aquiles mas a curiosidade estava grande, passei de narizinho erguido tentando ignorar a bagunça e me sentei. Eles puxaram mais cadeiras para perto de mim e se sentaram, Aquiles de frente para mim, ele ficou me encarando e eu comecei a encarar ele.
 -Bem, acho que eu tenho que quebrar o silêncio, não é? -Pat começou a falar, voltei minha atenção para ele.- Aquiles decidiu que vocês merecem ouvir explicações e…
 -Ele deve explicações apenas à esposa dele, a mim não -cortei-lhe a fala e Aquiles deu um risinho irônico. 
 Ele se inclinou um pouco para frente e pareceu bastante calmo, como se estivesse com a consciência limpa, como se fosse uma pessoa inocente. 
 -Briseis, -ele olhou bem para ela.- eu tenho um filho, nunca consegui falar isso para você -ele riu e voltou a ficar sério.- Como Safira disse, eu nem sabia do nascimento dele e outra, eu era jovem, eu não havia conhecido o amor -ele segurou as mãos dela.- Mas agora, graças a você, eu sei o que é isso -ele sorriu e beijou as mãos da amada, que também sorriu. 
 -Ah... que lindos -Pat falou ironicamente. 
 -Safira, -ele largou as mãos de Brises e olhou para mim.- eu voltei depois de dez anos longe da minha família, quando cheguei aqui, fiquei sabendo que eu tinha uma prima que veio do futuro, reencontrei meu filho, fiquei pensando durante dias -eles estalou os dedos.- em um jeito de contar isso para Briseis, virei um "Troiano" -ele fez aspas com as mãos.- Como você acha que está minha cabeça? Agora eu não tenho que lidar mais com um adolescente, são DOIS! -rimos.- Então, você me entende, não é? Eu só preciso de um tempo para organizar as coisas.
 -Ok, mas… -tentei falar mas fui cortada.
 -Eu sei que isso não é desculpa para eu ter te machucado, mas é que, durante toda a minha vida, resolvi meus problemas aqui -ele bateu nos próprios musculosos.- no braço, e eu ainda estou tentando aprender a resolver as coisas na conversa… mas é como eu disse -ele voltou a se encostar na cadeira.- eu só preciso de um tempo, tá? 
 Eu entendia o ponto de vista dele e senti verdade em suas palavras, demorei um pouco a responder, queria escolher bem o que eu ia dizer mas, no final, tudo o que eu disse foi: 
 -Tudo bem -e lhe sorri. 
 Parecia que eu havia acabado de voltar de uma guerra, na verdade, eu só queria sair dali. Aquiles respirou fundo e sorriu, em seguida, se levantou, fizemos o mesmo. 
 -Agora vocês vão abrir a porta pra eu sair ou não? -falei cruzando os braços. 
 -Ih, verdade! -Briseis se lembrou que havia me deixado trancada. Eu ri. 
 Depois de Briseis abrir a porta, saímos todos para fora. No final do corredor, próxima a porta do meu quarto avistamos Leia caída meio escorada na parede. 
 Pat, assim que a viu, correu na direção dela, fizemos o mesmo. Ela estava sangrando, pelo o quê eu vi, tinha uma espécie de flecha pequena em sua cintura. 
 -Meu amor… -Pat abaixou perto dela, segurou sua cabeça delicadamente e ela abriu os olhos.- Você está bem, querida? Consegue me ouvir?
 Também me abaixei perto dela e segurei sua mão. Embora eu não a conhecesse muito bem, sabia que Leia era uma boa pessoa -fiz esse julgamento só pelas coisas que li em livros de história.- ela era muito corajosa, principalmente por ser uma Amazona, e me tratou muito bem, além de gostar de meu primo
-Vou chamar Heitor… -Briseis saiu correndo para o andar de baixo. 
 -E… eu -ela tentou falar.- eu tentei… só quis proteger você… -ela levou a mão ao meu rosto. Ela estava pálida e vi uma lágrima caindo de seus olhos azuis.
 -O quê? -perguntei segurando a outra mão dela. 
 -Agamenon, e… ele mandou um dos guardas ao seu quarto e eu, aiii! -ela estava com muita dor e perdendo muito sangue.- Eu tive que protegê-la -ela me sorriu. 
 -Não Leia, como assim? -também senti uma lágrima escapando.
 Olhei para Pat e ele também estava a chorar, estava com o olhar tão triste, mas não é para menos, não é? Vendo seu primeiro amor morrer em seus braços… Leia olhou para ele e transferiu a mão dela de meu rosto para o dele.
 -Eu te amo e sempre vou te amar, mesmo sabendo que o nosso romance durou apenas horas, eu te amo muito. Cuide muito bem de Safira, ela vale ouro…
 -Não faça isso -ele deu um beijo nela.- Não se despeça assim de mim, sei que você vai se curar e logo vai estar sorrindo para mim novamente... -ela tampou a boca dele com o dedo indicador. 
 -Só não esqueça disso, meu amor: O amor é a força que comanda a própria vida. Enquanto você se lembrar de mim, vai lembrar de como nosso amor foi bonito e isso te dará a forças para seguir sua vida, AIIII! -ela gritou novamente e fechou os olhos. 
 -Amor… amor, eiiii! 
 Pat tentou chamá-la. Aquiles, quem eu já havia me esquecido de que estava presente, segurou em seus ombros. 
 -Leia… -também tentei anima-la e verifiquei seu pulso, o qual eu não senti, minhas lágrimas caíram em maior número.
 Aquiles abraçou Pat, afastando ele de sua amada. Eles se levantaram e Pat desabou nos braços do primo, parecia uma criança. Me levantei ainda meio perplexa, nunca havia visto alguém sem vida, fui e também abracei Pat. As nossas lágrimas se misturaram, assim como os soluços do choro, Aquiles acariciava nossa cabeça e eu não me importei. Eu acabara de ver a vida se esvaindo, deixando um corpo e isso não era fácil, alguns podem até falar que é bobagem, mas para mim não. 
 Heitor e Ulisses chegaram correndo juntamente com Briseis, que se juntou ao nosso abraço e também começou a chorar ao ver Leia no chão sem vida.
Heitor abaixou-se perto da moça e verificou o pulso da mesma, seus olhos se fecharam propagando a certeza de uma triste notícia, quando tornou a abri-los, olhou para Ulisses e balançou a cabeça como se negasse algo. 
 Pat desfez o nosso abraço e foi até a amada, ele abaixou perto dela, beijou sua testa e fechou os olhos segurando suas mãos sem vida. 
 -Você pode cuidar do funeral dela meu amigo? -Heitor pediu a Ulisses. 
 -Claro, se me dêem licença… -Ulisses saiu e sumiu no longo corredor.
 Me escondi nos braços de Heitor, eu ainda chorava, Briseis abraçou Aquiles e nós ficamos a observar a triste cena de um jovem casal separados por uma triste infelicidade.

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