Guerra e batalha… guerra é um "conjunto de batalhas", por assim dizer.
Ninguém estava no castelo quando descemos. Pegamos arcos e flechas, espadas e escudos, montamos nos cavalos e fomos correndo em direção aos portões.
Para variar não vi Lemo, também não vi Asti e nem Andrômaca. Cavalgamos para fora dos portões, para a linha de frente onde os meninos estavam. Os soldados estavam cansados e voltando à formação, vimos os τοξότες (toxótes/ arqueiros) preparados, como se aguardassem uma ordem. Quando, enfim, chegamos a linha de frente, não pude acreditar no que vi: Aquiles, Heitor, Páris e Ulisses estavam conversando com Agamenon enquanto Menelau estava com uma espada na garganta de Pat. Os soldados gregos estavam muito bem apostos, também esperavam a ordem de ataque.
Desci do cavalo com o arco e flecha já armado, as meninas vinheram atrás, também armadas. Passei na frente dos meninos, nem ouvi o que eles estavam conversando:
-Larguem ele! -Ordenei, minha voz era firme, apontei o arco armado para Menelau.
-Olha só, Safira! Como está autoritária, -o encarei mais ainda, ele estava muito calmo.- por que tanto interesse com o garoto? -Ele apontou para Pat e depois voltou a me encarar.
-Não te interessa, esse assunto já era pra ter sido encerrado não acha?
-Não! -Ele ficou bravo.- O que você entende desses assuntos? É só uma garotinha…
-É, uma garotinha que escapou de todo seu exercício -o interrompi, ri com sarcasmo e uma veia pulou em sua testa, vi a raiva em seus olhos.
-Está bem, o que você me propõe? -Ele relaxou e cruzou os braços.
-Você devolve ele e -não acredito que vou dizer isso.- eu vou no lugar dele.
-Não! -Pat tentou falar só que Menelau apertou ainda mais a espada contra sua garganta.
Atrás de mim, ouvi um buchicho dos meninos e ouvi Heitor dizer claramente que não. Agamenon pareceu surpreso e mandou Menelau e Pat se aproximarem.
-Você? -Ele riu.- Não, acho que não menina, tenho interesse em peixes maiores -agora ele está falando em enigmas, ótimo!
-Então me leve! -Aquiles falou atrás de mim, me virei para ele.- Deixe as crianças e me leve.
Agamenon pareceu mais surpreso ainda e riu mais alto ainda.
-É, é como eu disse, parece que esse garoto salvou a guerra para nós… -não deu tempo de ele falar mais nada, uma flecha veio na direção dele e o atingiu no ombro o fazendo cair ferido.
Olhei para trás e me deparei com Briseis, a flecha partira dela. Alguns soldados -incluindo Afarel- puxaram Agamenon para a biga dele. Menelau, ao ver o irmão caído nos olhou furioso, Pat deu uma cotovelada nele que baixou a guarda e correu até nós. Quando estava quase chegando, Menelau se recompôs e, puxando Pat pelo cabelo, tentoi atingi-lo na garganta e, adivinhem, ele conseguiu.
-NÃO! -Gritei e saí correndo na direção deles.
Pat caiu no chão, fui e o segurei, Aquiles surgiu atrás de mim e começou a duelar com Menelau, ele conseguiu o ferir no braço. Menelau, preocupado com sua vida e a do irmão deu ordem para que os soldados recusassem.
-Pat, fala comigo, sou eu, Safira -eu o segurava em meu colo e já estava cheia de seu sangue.- Me desculpa, eu não queria dizer aquilo -ele ainda me olhava, estava consciente.
Lena me puxou pela mão, eu tentei revidar só que Páris também fez o mesmo e eles me puxaram para dentro das muralhas. Antes de eu perder Pat de vista em meio aos soldados, vi Aquiles, Ulisses, Briseis e Heitor carregarem ele na mesma direção em que eu ia, para Tróia.
Ao entrarmos Páris e Lena me colocaram montada em Lipaleza.
-Vai Safira, corre! -Ordenou Páris.
Não fiz diferente, acho que seria melhor obedecer para não complicar mais as coisas.
Ao chegar no estábulo, arrumei Lipaleza e fui para meu quarto, não vou mentir que estava chorando.***
As νοικοκυριά (noikokyriá/ empregadas) levaram o πρωινό (proinó/ café da manhã) no meu quarto mas eu não queria comer, apenas belisquei uma coisinha ou outra.
Tirei aquele vestido de festa que estava cheio de sangue, guardei minhas gladiadoras novas, desamarrei o cabelo, o deixando livre e, por último, entrei na banheira.
A água estava toda vermelha com o sangue de Pat, eu ficava a trocando toda hora até eu conseguir me limpar por completo.
Por fim, coloquei meu pijama, me deitei no divã, peguei meu celular e vi uma mensagem. Que estranho, não era para a internet estar pegando aqui… Olhei melhor e era um SMS da minha operadora falando: "sua recarga está ativa." É, nenhum sinal do "outro mundo". Mais do que nunca, eu desejava voltar, afinal, eu briguei com meu melhor amigo e amor, meu primo poderia morrer porque eu fui impulsiva, eu comprometi Tróia inteira enfrentando Agamenon e Menelau daquele jeito, eu estou fazendo tudo errado.
Quando me dei conta, uma lágrima rolou, eu estava muito preocupada com Pat, mais do que com Asti e decidi que, se o encontrasse, não iria fazer muita questão dele. Tá eu sei, eu o amo, mas o que ele havia feito comigo não tinha volta, ele nem havia me deixado explicar e outra, ele quase me bateu.
-Safira… -alguém me chamou.
Me levantei, calcei meu chinelão, coloquei meu robe e fui abrir a porta.
-Aquiles? -Eu realmente não esperava por ele.- Como está Pat? -Eu estava muito preocupada.
-O ιατρός (iatrós/ médico) acabou de sair, ele nos disse que, por pouco, a história não se repete… -respirei mais aliviada e ele continuou:- Foi uma coisa bem pequena, dolorosa porém não letal.
-Ufaaa… -suspirei levando a mão ao peito.- Me desculpe, eu sei que foi culpa minha, eu não devia ter ido lá tentar "salvar" ele, vocês, provavelmente, já tinham chegado a um acordo -ele prestava atenção em mim enquanto eu falava e cruzou os braços levemente.- É que eu sou muito impulsiva, é um… -ele riu.- o quê?
-É, sem dúvida você é parecida com nós… assim, impulsiva -não aguentei e deixei escapar um riso.- Mas, continuando -ué, ele não tinha terminado?- ele vai ter que ficar de repouso pelo o resto do dia e deverá tomar certos cuidados por, pelo menos, mais três dias -ele se virou para ir embora mas pareceu se lembrar de algo.- Ah é… como foi a conversa com Astíanax?
-Foi bem… -tentei procurar um termo.- conturbada. Ele não gostou de saber da notícia, é claro, eu já esperava -comecei a cutucar o canto da unha.
-Safira, -o olhei.- cada coisa em seu tempo, certo? -Ele piscou para mim, voltou a virar e saiu andando.
Fechei a porta e voltei para meus pensamentos, "cada coisa em seu tempo…"

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𝔼𝕞 𝕞𝕖𝕦 𝕞𝕦𝕟𝕕𝕠...
Ficção HistóricaSafira é uma garota de dezesseis anos e que tem uma rotina bastante normal. Nas suas férias de julho, em uma noite, ela resolve assistir seu filme preferido: Tróia (2004), quando algo diferente acontece e ela entra para dentro do filme. Tudo no fi...