11° capítulo.

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Acordei cedo, umas seis e vinte, geralmente eu acordava tarde mas, como eu disse, nem dormi. Estava muito calor então, tomei meu banho e voltei a vestir meu pijama, estava decidida a não sair do quarto, não queria encontrar Asti, não queria encontrar Aquiles, não queria encontrar ninguém. Queria ficar sozinha com meus pensamentos, com a minha dor afinal, como eu ia olhar para Heitor, meu tio de consideração, lembrando que meu primo causou dor a ele? Não tinha como. 
 Eu estava deitada, já fazia uma hora, olhando para o nada quando: 
 -Safira, abre aqui… -Helena apareceu na porta. Coloquei o robe, fui abrir, Helena entrou e se sentou em uma poltrona.- O que aconteceu com você? Você nem foi ao δείπνο (deípno/ jantar) ontem a noite.
 -E o que aconteceu com você? Acordou cedo… -falei rindo e me sentei em uma poltrona ao lado dela que riu e me mostrou a língua.
 -Engraçadinha, -e fez careta.- mas sério… isso tudo é por que você é prima do Aquiles e do Pátroclo? -O meu sorriso desapareceu- É, é isso, eu sabia -ela levantou os braços e os bateu no braço do sofá.- Mas Safira, você não pode julgá-los, você mal os conhece.
 -Os conheço o suficiente -respondi fria e fechei a cara.
 -É, pelo jeito, ninguém muda sua opinião -ela revirou os olhos e bufou.- Mas por que você não está saindo do quarto?
 -Eu não quero encontrar eles, -desabafei- eu não quero encontrar Heitor, Páris ou Asti… com que cara vou olhar para eles? -Oi lágrimas...- Eu sou prima do cara que destruiu Tróia, você sabe como isso é ruim? -Me debrucei sobre os meus joelhos e as lágrimas começaram a rolar. 
 -O Safira… -Helena se ajoelhou ao meu lado.- fica calma, eu sei que isso é péssimo mas, -ela tocou em meu ombro.- você sabe como estamos preocupados com você? -Me levantei, a olhei e enxuguei as lágrimas.- É, estão todos preocupados pois você não come a umas seis horas e não sai desse quarto, desse jeito vai acabar doente.
 -Ma...mas… -tentei falar e ela me cortou.
 -Não, -ela balançou a cabeça negativamente.- faz o seguinte: se troca e desce para o πρωινό (proinó/ café da manhã), não precisa falar com ninguém, apenas aparece e mostra para todos que você está bem.
 -Não sei não… -arrumei o óculos.
 -Depois pode ficar o dia todo aqui, trancada no quarto, apenas faça isso, e não é por mim, é pelo Heitor, Briseis e até por Asti -agora você tocou no calcanhar de Aquiles, Lena... balancei a cabeça num gesto de sim.- Ótimo! -ela gritou.- então me encontre no meu quarto, tenho uma surpresa… -ela levantou animada e saiu saltitante. 
 Peguei um vestidinho rosa, comprido mesmo, ele tinha as mangas caidinhas e um cinto de couro, calcei minhas gladiadoras, fiz uma trança em meu cabelo, limpei os óculos e, como Lena disse, fui até o quarto dela. Bati na porta e dei uma arrumadinha no vestido, então a porta foi se abrindo:
 -Que bom que você está aqui…-ela me puxou para dentro, fechou a porta e, tirando uma caixa de dentro do guarda-roupas, me entregou.- Abre e vê se serve -ela parecia animada. 
 Sentei em uma cadeira próxima a nós e abri a caixa, nela havia um par de gladiadoras preta curta, me apaixonei, era simplesmente linda.
 -Obrigada Lena! -Levantei e lhe abracei- Eu amei! Não precisava, sério… -a olhei.
 -Precisava sim, você só tinha aquela que a Briseis te deu e o chinelão -ela riu.- Precisava de um toque a mais.
 -Obrigada Lena, vou deixar no meu quarto e já desço… -saí correndo e fui para meu quarto. 
 Arrumei as duas gladiadoras lado a lado, embaixo da mesinha de ferro no banheiro e saí para o πρωινό (proinó/ café da manhã). 
 Não andei com pressa, fui devagar pelo longo corredor, quase deslizando, desci as escadas com cuidado, passei pelo salão e, até que enfim cheguei na sala de jantar. TODOS estavam lá.
 -Καλημέρα! (Kaliméra!/ Bom dia!) -eu falei animada ao me sentar no meu lugar, todos respondem educadamente.
 -Nossa, o que aconteceu? Você está bem? -Questiona-me Páris.
 -Estou, ótima! Nunca estive melhor, mas por quê a pergunta? -Dei um sorriso e comecei a comer uma uva, notei que todos se entreolham. 
 -Safira… você sabe que vamos ter que falar sobre aquilo que ocorreu ontem, não é? -Briseis foi a única que falou algo e todos prestavam atenção.
 -O que aconteceu ontem, Briseis? -Eu perguntei distraída.
 -Ah entendi… -Páris pareceu sacar meu plano e deu um risinho de canto de boca.- é por que ela não quer falar do que aconteceu, não é? -Ele me deu um sorrisinho de "peguei no pulo" a o qual retribui.
 -Heitor… me desculpe -cochichei para ele com um sorriso amigável e Páris ouviu.
 -Ah… então ela sabe o quê aconteceu ontem! -Voltei a encarar Páris, ele mais parecia um irmão do que um tio (risos). A mesa toda ficou em silêncio até Heitor quebrá-lo.
 -Não foi culpa sua Safira, na verdade não foi culpa de ninguém -ele olhou ao redor.- e outra, o passado ficou para trás -depois sorriu para mim, um sorriso que me acalmou e eu voltei a comer. 
 Asti estava agarrado com uma perna de galinha quando, de repente, fez uma pausa e me cutucou:
 -O que está acontecendo? -Então notei a presença dele na mesa, eita...
 -Nada de mais… -que idiota! Era pra eu ter mudado de assunto.- é que eu fiquei triste por causa de ter ido embora há… há muito tempo atrás -eu gaguejei e ele me olhou com dúvida.- é… era pra não terem deixado eu ir… é… ir embora, sabe? -Acho que minha desculpa colou.
 -Não entendi nada mas, já que você está falando… ok né -colou? Foi a pior desculpa do mundo e colou? Quase cuspi o leite para fora quando ele retornou a virar para mim e falar:- Safira, você topa cavalgar hoje, antes do μεσημεριανό (mesimerianó/ almoço)? -Respirei aliviada ao saber que era isso.
 -Eu não sei… -fiz uma careta mas, pensei melhor e achei bom me distrair:- Vou, vou sim! Obrigada -lhe sorri e ele me sorriu de volta.

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