Chegando no pátio, as armas de madeira ainda estavam lá, no mesmo lugar. Briseis entregou uma espada a mim e pegou outra para ela, olhei com certa estranheza.
-Para quê é isso? -Perguntei a ela que deu um risinho de canto de boca.
-Vamos treinar -ela piscou e me arrastou para o meio do pátio se posicionando na minha frente.
-Mas treinar para o quê? -Eu não estava em bosição de luta, ela revirou os olhos rindo.
-É só autodefesa mesmo… -Aquiles e Pat ficaram encostados num pilar nos olhando.
-A gente não ia vir ver eles -apontei para os meninos.- treinarem?
-Pare de perguntas… -ela nem me respondeu e já se pôs em posição de luta.
Briseis foi com a espada em minha direção, me desviei, ela sabe lutar. Isso se estendeu por mais 40 segundos, até eu pegar a espada dela e a render. Ouvi uma salva de palmas que, além de vir dos meninos, vinha de alguém mais… de Ulisses.
-Muito bem, Safira! -ele me deu um sorriso gentil.- Você é muito boa. Já pode até entrar para a equipe -ele disse piscando pra mim, eu ri.
-Ih, vai começar de novo? -Primeira "piada" que Aquiles fez e se virou pra mim.- Vamos ver se você é mesmo boa… -ele pegou uma espada do chão e entregou a Pat que pareceu não entender.- Comecem…
Pátroclo trocou de lugar com Briseis e correu para minha frente. Não posso mentir, ele era muito bom, mas lhe faltava defesa. Ele queria ser como o primo, ele o imitava. Não deixei ele se estender muito pois, quando ele chegou bem perto, abaixei, desviando-me e passei uma rasteira nele que caiu de costas. Acho que ele não havia se machucado, mas me olhava com espanto, pareceu estar com medo. Quando se levantou, aquela expressão de espanto, se transformou em raiva, reparei que ele cerrou os punhos.
-Iiih… -Ulisses cochichou para Aquiles e Briseis, chegando perto deles.
Pátroclo chegou bem perto de mim, ele era BEMnmais alto que eu, isso era evidente. O loiro me encarou com raiva, o encarei também. Aquiles reparou o clima tenso, -ainda bem, porque eu estava quase desistindo daquilo tudo.- e tocou Pat no braço, só que ele não parou de me encarar.
-Por quê termos que tentar ser gentis com ela? -Ele não parava de me encarar.- Logo se vê que ela não está nem um pouco se esforçando para tentar ser legal com a gente… -ele desviou o olhar de mim, se virou de costas e cruzou os braços.
-Não estou me esforçando? EU DISSE A VERDADE DESDE O INÍCIO! -Me alterei e o virei para mim.
-A verdade… -ele continuou na mesma posição em que parei.- é, é essa a verdade. E é verdade também que você é nossa prima e isso eu não posso mudar, que pena né… -ele debochou, senti meu sangue subir.
-Escuta aqui babacão! Você acha que eu tenho culpa disso? NÃO! E, se me dêem licença, -larguei a espada de madeira no chão, e acreditem, fez muito barulho.- eu não vou ficar aqui escutando baboseiras de um garotão mimado e egoísta que quer ser melhor que todo mundo! -Encarei ele, me virei e saí andando.***
Nem pensei duas vezes, fui ao estábulo furiosa, peguei a Lipaleza e saí cavalgando, isso era a única coisa que podia me acalmar naquele momento.
Por fim, cheguei aos portões de Tróia, ah como eu queria passar dali… queria ir além, ir para a praia, sentir meus cabelos voarem com a brisa e nadar um pouco naquelas águas cristalinas mas, não podia.
Sentei escorada nos portões e amarrei Lipaleza ao lado. O guarda, amigo de Asti, me viu, parou o que estava fazendo e se sentou do meu lado.
-O que aflige a bela dama? -Ele me olhou.
-É complicado, -de de ombros.- coisas de família -abaixei a cabeça e dei um leve e triste suspiro.
-Eu não sei o que aconteceu, mas se me permite dizer, família é assim: complicada, com defeitos, gente brigona… mas você não sabe o que se passa na família da casa ao lado.
-A minha é -respirei fundo e balancei a cabeça.- diferente…
-Que bom! -Ele respondeu com um sorriso.- É sempre bom ter um desafio pela frente, uma aventura -e olhou para o céu, acho que tentando adivinhar o que se passava.- Acho que você deveria dar uma chance para eles… dar uma nova olhada no conteúdo, vê-los com outros olhos, quem sabe eles também vejam você assim… -ele se levantou, eu fiz o mesmo.
-Parece que você sabe exatamente o que está acontecendo -lhe sorri.
-Isso foi só uma sugestão, é escolha sua seguí-la ou não -ele fez uma breve reverência e se retirou.
De certo modo, isso me fez pensar, eu tenho que tentar ser legal com eles, afinal, Aquiles não é tão ruim assim quanto eu pensava, só Pat que será mais complicado, ele não gosta de mim de jeito nenhum e duvido que, depois de hoje, ele vai me ver com bons olhos.

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𝔼𝕞 𝕞𝕖𝕦 𝕞𝕦𝕟𝕕𝕠...
Historical FictionSafira é uma garota de dezesseis anos e que tem uma rotina bastante normal. Nas suas férias de julho, em uma noite, ela resolve assistir seu filme preferido: Tróia (2004), quando algo diferente acontece e ela entra para dentro do filme. Tudo no fi...