40° capítulo.

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Fomos então tomar o πρωινό (proinó/ café da manhã), no caminho até a sala de jantar fomos por "casais": Páris e Lena na frente, Heitor e Andrômaca em seguida, Aquiles e Briseis depois, Pat e Leia decidiram ir juntos e, cá entre nós, reparei um clima entre eles: ao andarem, as mãos deles estavam muito perto umas das outras, Pat olhava diretamente nos olhos dela, ela ria para ele e notei que, por duas vezes, Pat a conduziu pela cintura. Porém, fui a única que notei isso, todos os outros estavam na frente distraídos com seus pares, embora Ulisses e Asti estivessem comigo, eles conversavam sobre a batalha e não viram o ocorrido. 
 Nos sentamos nos nossos lugares, Leia se sentou ao meu lado, percebi que, em rápidos e breves olhares, ela não tirava sua atenção de Pat e ele também a olhava de vez enquanto. Comecei a interagir com os demais para não ficar de "vela":
 -E como foi a batalha? -perguntei e, em seguida, levei um pedaço do pão a boca. 
 -Foi… -Páris balançou a cabeça para os lados.- complicada. Há mais guerreiros na frota grega, -ele pegou uma bolacha, mordeu um pedaço, mastigou e concluiu:- eles estão muito bem treinados.
 -É, -Aquiles ainda estava mastigando quando começou a falar, engoliu rapidamente e prosseguiu:- mas acho que os troianos são mais organizados. 
 Era estranho ouvir Aquiles falar daquele jeito, elogiar alguém, acho que ele estava muito tranquilo naquele dia. 
 Quando acabamos de comer, todos foram para a sala de música, todos menos Pat, Leia e eu, nós ficamos para ajudar as νοικοκυριά (noikokyriá/ empregadas) com os pratos. Nossa função era levar os pratos, copos e panelas para a cozinha e deixá-los em cima da mesa, Pat sempre ia ao lado de Leia e eu ficava mais para trás. Numa dessas idas para deixar alguns pratos na cozinha, peguei uma maçã para comer de sobremesa, fui sozinha e notei que Pat e Leia demoraram na sala de jantar, fui devagarinho e espiei atrás da porta.
 Eles estavam escorados na mesa conversando bem perto um do outro:
 -Você é muito bonita -Pat falava a ela.
 -Obrigada, -ela corou.- você também…
 Pat se aproximou mais dela e ela dele, Leia pegou em sua mão e ele levou, de leve, a outra mão ao pescoço dela. Eles começaram a se aproximar, fecharam os olhos, ela primeiro e Pat depois, e os lábios deles se encontraram. Foi um beijinho sem língua, um beijo inocente, era tão fofo de ver... daí não aguentei e saí de trás da porta: 
 -Ah que iti malia… -falei dando pequenos pulinhos.
 Eles se soltaram rapidamente, Leia se virou de costas para mim, Pat arregalou os olhos e ficou pálido. Vamos nos divertir um pouco… saí correndo o mais rápido que pude.
 -Safira! Vem cá! -ouvi Pat gritando mas continuei correndo e segurando a risada.
 Senti alguém me segurando de leve pelo braço e me parando, estávamos na escadaria do castelo, me virei para a tal pessoa e era Pat, ele estava com uma feição muito engraçada, não sabia se estava bravo, preocupado, com vergonha ou feliz.
 -Safira, e… eu nem sei o que… -ele me soltou, eu cruzei os braços e ele levou uma das mãos à nuca. 
 -Calma, Pat -falei rindo.- Calma, eu não vou contar para ninguém -continuei rindo, ele relaxou e riu também. 
 -Ah… -ele se sentou em um degrau.- Eu me apaixonei do mesmo jeito em que alguém cai no sono -ele riu novamente e colocou a cabeça entre os joelhos.
 -Eu entendo -me sentei ao lado dele e coloquei a mão em seu ombro.
 -Entende? -ele me olhou intrigado. 
 -É… -que boca grande em Safira!- Eu já tive muitos amigos e amigas que se apaixonaram, -disfarcei.- então eles sempre vinham desabafar comigo e, pode-se dizer que, eu virei uma especialista nesses assuntos -brinquei, ele riu. 
 -Ah então tá, -ele olhou para a cidade lá embaixo.- já achei que você estava apaixonada por alguém.
 Por um momento pensei que Pat havia visto ou ouvido alguma coisa, não era a primeira vez que ele falava algo desse gênero, comecei a me preocupar. No fundo eu queria contar a ele o que aconteceu, sobre o beijo afinal, todos, menos ele e Aquiles,  já sabiam. 
 -E o que você vai fazer? -perguntei tentando desfocar o assunto de mim.
 -Não sei direito… -ele me olhou.- Heitor falou que foi meu primo quem matou Leia, é verdade? 
 -Bem… -respirei fundo.- é sim. Você não se lembra porque, nesse filme, essa cena não foi -fiz sinal de aspas com as mãos.- gravada, por assim dizer.
 -Ah é, -ele cruzou os braços e esticou as pernas.- quase esqueci de que isso é um filme. 
 -Eu também achava isso -olhei para baixo, pensei no que ia dizer e olhei para ele.- mas é a vida de vocês, é o mundo de vocês...
 -Agora, -ele começou a falar.- é o seu mundo também -e me sorriu.
 -Obrigada… -meu rosto corou e ele riu.
 -Mas não conte a ninguém sobre o beijo, viu moça! -ele me advertiu.
 -Tudo bem -pisquei e falei:- Don Juan -rimos. 
 Depois nos levantamos e fomos para a sala de música. Leia já estava lá e, quando me viu, ficou super sem graça, eu ri para ela e fui ocupar meu lugar ao lado de Asti na frente
Na aula de música, cuja a professora era Andrômaca, aprendemos a tocar harpa, como eu já tinha uma boa noção, pelo o que Pat me ensinou, eu já sabia mais ou menos, assim pude aperfeiçoar. Andrômaca nos liberou mais cedo para irmos tomar banho antes de comer, fiquei de olho para ver onde Leia ia, ela ficou lá por baixo, lá tinha um quarto de hóspedes -havia me esquecido.- e ela devia estar lá.  
 Subimos todos ao mesmo tempo e notei que, mais uma vez, Aquiles estava estranho, ele abraçava e acariciava Briseis, falava com o pessoal, menos comigo, zuava Pat, mas sua cabeça estava em outro lugar. Fui para meu quarto e, enquanto escolhia uma roupa, fiquei pensando se o motivo para ele estar daquele jeito seria por conta do filho, devia ser… Será que ele já contou a Briseis? Não, caso contrário, Briseis já teria comentado algo. 
 Depois de tirar todo o guarda-roupas para fora, vi um vestido que eu não conhecia, era novo -quem será que colocou ele aqui?- e era muito lindo. Resolvi usá-lo e depois eu iria perguntar quem me deu. Fui tomar meu banho e o vesti. A cor era marrom bombom com detalhes cor de rosa, tinha a saia plissada, na parte do busto, era bem discreto e as mangas eram estilo “ciganinha”, o que era estranho para aquela época. 
 Olhei ao redor e notei que em cima da minha mesa, do lado do meu celular, havia um caixinha de jóias. Fui até lá e a abri, dentro havia várias jóias de pérolas e de conchas banhadas á ouro. Em baixo da caixinha de jóias vi uma επιστολή (epistolí̱/ carta), a retirei com cuidado, me sentei na cadeira e a abri, ela era escrito em minha língua, no português:
 “Espero que goste, Safira, achei o vestido a sua cara e as jóias sei que você vai gostar.
 Ah é! Leia mais o livro e não tenha medo de saber quem você é, fale com o pessoal e evite não falar com eles pois, um dia, você vai sentir a falta.
 Ass.: Alguém que te trouxe para cá.

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