Acordei no divã, estava com dor na coluna e com o braço dormente, me levantei, espreguicei e fui olhar pela janela. Ao olhar, vi que os portões estavam abertos, com certeza não havia tido uma invasão, caso contrário, não estaria aquela calmaria.
Tomei um banho, lavei o cabelo, tentei secar o mais rápido possível, coloquei um vestidinho rosa longo com mangas, para esconder o roxo do meu braço, coloquei minha gladiadora nova e amarrei meu cabelo na parte de cima. Quando terminei de me arrumar, abri a porta do quarto e dei de cara com Asti, fazendo o mesmo, fechamos a porta na mesma hora e demos um passo à frente:
-Καλημέρα (Kaliméra/ Bom dia)! -ele me disse com um belo sorriso.
-Καλημέρα (Kaliméra/ Bom dia)... Você viu se os meninos chegaram? -também tentei sorrir.
-Não, -ele mudou a feição, ficou triste.- estou preocupado com meu pai… -ele suspirou e olhou para baixo.- não quero perdê-lo novamente.
-Calma, Asti -me aproximei dele, coloquei a mão em seu ombro e ele olhou nos meus olhos.- Vai dar tudo certo, você vai ver… acredite.
Ele me olhava, eu olhava para ele, a luz refletia em seus cabelos loiros, ele se aproximou mais de mim, não me movi, eu senti sua respiração e, por um momento, me lembrei da biblioteca e do beijo, de tudo que, um dia, nos fez sorrir. Então, aqueles momentos felizes sumiram de minha mente, me lembrei de tudo de ruim que ele me disse e quase consegui sentir a força com que ele apertou meu braço novamente.
-Obrigada… -ele se aproximou mais ainda, quase podia sentir seus lábios juntos aos meus. Me distanciei um pouco.
-Vamos descer… -ele deu um leve sorriso ao ouvir isso e nós fomos andando pelo longo corredor.
Era bom ter meu AMIGO Asti de volta, porém eu estava apaixonada por ele, queria que ele não fosse só o meu amigo… Mas, naquele momento, eu tinha outras coisas com o que me preocupar.
Descemos as escadas e demos de cara com as meninas e Pat na sala de estar. Meu primo estava abraçado com Briseis que chorava, Lena, Andrômaca e Leia estavam uma do lado da outra em outro sofá. Olhei para Asti, ele franziu a testa e olhou para mim, estava tão confuso quanto eu.
-O que aconteceu? -Perguntei me aproximando de Briseis e coloquei a mão em seu ombro.
Ela nada disse, continuou a chorar. Olhei para as meninas, Lena batia o pé no chão, estava preocupada.
-É o seu primo, Safira -Andrômaca me falou, ela também estava com o olhar preocupado.
-O que aconteceu? -a apreensão tomou conta de mim.
-É que… é que ele foi levado por, por Agamenon -Andrômaca pareceu soltar uma coisa muito pesada.
-O quê? Como? Para quê? -o que será que Agamenon quer com ele?
-É… -Leia pareceu saber de tudo.- Páris veio aqui e nos comunicou o ocorrido, nesse momento Heitor, Ulisses e ele estão no acampamento tentando falar -ela revirou os olhos, todos sabiam que era difícil ter uma conversa amigável com…- com Agamenon.
-Eu vou lá… -fui em direção á porta. Rapidamente, Pat se levantou e me impediu, parando na minha frente.- Deixa eu passar Pat… -falei franzindo a testa.
-Não Safira, você não pode ir até lá -cruzei os braços para ouvi-lo.- Nós não sabemos o que está acontecendo lá, pode ser que eles estejam brigando agora ou que eles até estejam fazendo as pazes -ele pareceu se lembrar de quem estávamos falando.- não, pera… acho que isso não -ri ironicamente.
-Mas e se eles estiverem fazendo algo com Aquiles e com os meninos? -descruzei os braços e ele relaxou.
-Isso é sério? -ele riu.- Você acha mesmo que nosso primo vai deixar alguém encostar nele?
-Não -ri mas, de fato, era verdade, Aquiles não ia deixar ninguém encostar um dedo nele.
-Então, para de se preocupar -ele olhou para Briseis, que chorava, se aproximou de mim e cochichou:- Agora nós temos que convencer Briseis disso -ele piscou.
Sorri em resposta e fomos até Briseis, ele se sentou do lado direito dela e eu do lado esquerdo, ambos a abraçamos e ela se tranquilizou mais.
Depois de alguns minutos, Briseis parou de chorar, mas agora, a preocupação havia aumentado. Não era para eles estarem demorando tanto… -pensei. Após me perguntar isso, alguém fala:
-Demoramos? -olhamos para a porta e vimos os meninos entrando.
Briseis correu e abraçou Aquiles, Lena foi e deu um pulo parando nos braços de Páris, Andrômaca manteve a classe, foi andando e deu um abraço bem apertado em Heitor, já Asti, correu e entrou no meio dos dois, Ulisses, muito cansado, passou direto e se sentou -jogou- em um sofá, Pat também se levantou e foi abraçar o primo.
Eu me mantive no lugar, por mais que eu quisesse ir e dar um abraço em cada um, o orgulho não deixava, eu não queria demonstrar que estava preocupada com Aquiles. Se algo desse tipo acontecesse comigo, ele não se importaria -pensei.
-Os senhores estão bem? -Leia perguntou se levantando e apertando a mão de cada um, ela não olhava Aquiles nos olhos, nunca, jamais.
-Estamos sim, Leia, obrigada -Páris respondeu simplista.
Os meninos se sentaram, eu me levantei e fiquei atrás do sofá onde Heitor e Andrômaca estavam. Asti fez o mesmo, ficou ao meu lado em pé, estava com um grande sorriso. Páris olhou para trás e nos viu:
-Mas o que é isso? -ele fez cara de espanto.- Vocês um do lado do outro, tanto tempo assim, sem brigaram? -nós rimos, olhei e vi que Heitor, Ulisses, Aquiles e Pat também estavam doidos para ouvir uma explicação.
-Nós fizemos as pazes, meu tio -Asti respondeu ainda com um sorriso no rosto, ele olhou para mim e eu também sorri.
-Mas que notícia boa! -Ulisses falou animado.
-Mas gente, eu estou com um "pouquinho" fome… -falei e cutuquei Asti.
-Eu também… -ele falou e piscou, todos riram.
-Vamos comer então, eu também estou com muita fome -Páris falou.
-Mas você não vai se banhar, meu amor? -Lena perguntou inocentemente, Asti e eu seguramos a risada.
-É Páris… -falei passando na frente dele.- estou sentindo o cheiro daqui -todos riram, corri e ele correu atrás de mim, conseguiu me alcançar e começou a me abraçar.- Me solta seu fedido! -comecei a rir.
-Ah, é assim? -Asti riu e correu até nós, Páris também o agarrou.
Haviam SIM momentos felizes em Tróia, isso não quer dizer que os momentos tristes acabaram, mas, por um momento, nós nos permitimos esquecer deles, todos riram e brincaram. Vi também que meus primos se divertiam, acho que eles esqueceram quem eles eram e com quem, principalmente, eles estavam, isso me deixava feliz… naquele momento, eu podia ver que qualquer tipo de mágoa ou richa que os dividia havia sumido.

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𝔼𝕞 𝕞𝕖𝕦 𝕞𝕦𝕟𝕕𝕠...
Historical FictionSafira é uma garota de dezesseis anos e que tem uma rotina bastante normal. Nas suas férias de julho, em uma noite, ela resolve assistir seu filme preferido: Tróia (2004), quando algo diferente acontece e ela entra para dentro do filme. Tudo no fi...