43° capítulo.

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Depois de subirmos todos os degraus entramos no castelo. Quando passamos pela sala todos estavam lá, todos menos Briseis, um com a feição mais preocupada que o outro, todos estavam tristes. Na hora em que Aquiles me viu se levantou rapidamente e foi até mim: 
 -Safira, o que deu em você de sair correndo desse modo? -ele falou como se nada tivesse acontecido, como se tudo estivesse numa boa.
 Todos observavam o que acontecia, eu não olhei para ele e passei reto, Pat estava ao meu lado. Fui andando até a escada e senti uma mão pegando em meu braço, sorte que não foi no roxo e não foi forte, me virei e era Aquiles, sacudi meu braço com certa violência fazendo com que ele o soltasse. 
 -O quê eu faço não é da sua conta afinal, -me virei mais para ele e cruzei os braços.- eu não sou da SUA família… -dei um risinho irônico, dei de ombros e olhei para o pessoal sentados nos sofás.- Me dêem licença.
 Não vi com que cara Aquiles ficou, só subi direto sem olhar para trás.
 Pat e eu havíamos combinado de ir no quarto de Brises e de Aquiles (aff) para ver se ela estava lá ou se ela havia ido embora. Assim fizemos, Pat foi e bateu na porta, ficamos quietos para ver se alguém respondia mas, nada. Eu, insistente, bati em seguida e ouvimos uma voz chorosa:
 -Quem é? 
 -Sou eu, Safira… -falei com cuidado.
 -Já vai! -ela gritou lá de dentro.
 Pat me olhou e cochichou:
 -Por quê você não falou que eu estou junto com você? 
 -Se ela soubesse, não deixaria a gente entrar -pisquei.
 -Espertinha… -ri e ficamos em silêncio pois a porta estava abrindo. 
 Briseis estava com os olhos inchados e vermelhos, ela soluçava e vi algumas lágrimas correndo em seu rosto. Ela me abraçou com força e as lágrimas caiam cada vez mais molhando o ombro do meu novo vestido mas eu não me importava pois sabia que a dor dela era mais forte que qualquer coisa. 
 -Briseis, você quer conversar? -Pat falou colocando a mão no ombro dela tentando acalmar seus ânimos que, até então, estavam frustrados. 
 -Va...vamos entrar -falou ela se afastando e abrindo mais a porta para que entrássemos.
 Briseis é como se fosse uma irmã mais velha, assim como Lena, desde a minha primeira viagem lembro-me dela brincando comigo e com Asti, lembro-me, também, que ela me contava tudo, como é hoje. Ela é uma moça incrível, às vezes olho pra ela e penso que ela parece ter dezessete anos e não vinte e oito, somos muito parceiras. Aquiles tem muita sorte em ter ela como namorada ou, como ele mesmo diz, esposa. 
 Entramos no quarto, ela se jogou na cama, com a cabeça ao contrário da cabeceira, Pat e eu sentamos no divã e, depois de esperarmos um tempo para ela se recompor, deixamos ela desabafar: 
 -Eu não acredito que ele não me contou -ela apoiava a cabeça nos cotovelos em cima da cama e gesticulava bastante.- Ele é um idiota! Por que ele não me disse, desde o início -ela gritou nessa hora-, que tinha um filho? Eu iria entender, eu gostaria até de conhecê-lo…
 -Ihhh -Pat soltou essa expressão, olhamos para ele.- Neoptólemo é um chato, é um garotão mimado pela avó e acha que sabe alguma coisa de luta -ele revirou os olhos e bufou, deixei escapar um risinho.
 -Vocês o conhecem? -ela perguntou erguendo uma sobrancelha.
 -Sim, -respondi.- falamos com ele agora pouco lá fora -Pat revirou os olhos, eu ri, novamente.- Ah é, Pat e ele discutiram…
 -Por quê? -Briseis estava mesmo curiosa naquele dia (risos).
 -Porque ele se acha -Pat nem deixou eu falar.- e pensa que é melhor que o pai dele, acha que pode ter mais autoridade que Aquiles, -ele olhou para a gente.- Sem noção, não é?
 -Eita… -falei brincando para quebrar o clima.- alguém está com ciúmes -nós rimos e Pat me empurrou de leve, rindo em seguida.
 Briseis olhou para a mancha roxa em meu braço, como se acabasse de reparar ela ali, e se aproximou mais para ver melhor.
 -Ele é um idiota… -ela voltou para a mesma posição em que estava e sua expressão ficou mais triste.
 -O que aconteceu depois que eu saí correndo? -perguntei.
 -Pat xingou ele e saiu correndo atrás de você, eu empurrei ele e subi para cá.
 -Ah tá… -falei pensando que Briseis havia acabado seu relato.
 -Quando eu subi, ouvi Heitor falar assim: "Calma cara, não precisava fazer isso com ela". Daí aquele crápula do seu primo…
 -Não, -interrompi.- Pátroclo é meu primo, ele não -Briseis me olhou com certa estranheza.
 -Tá bom… -ela revirou os olhos.- Daí ele falou: "Não foi escolha minha, estou nervoso, eu não queria" e eu não consegui mais ouvir. 
 -É -falei com cara de brava.- sei que não foi escolha dele -eles me olharam buscando por respostas a minha ironia. Respirei fundo e comecei:- Gente, ele não gosta de mim. Ele é um guerreiro, é valente e bravo, é famoso… enquanto eu -fiz uma pausa, dei de ombros e voltei.- sou só uma garotinha medrosa -abaixei a cabeça. 
 -Não fala assim, prima -Pat me abraçou.- Você é valente, é talentosa, incrível e, olha só, veio do futuro -nós rimos.
 -O quê eu quero dizer -toquei a ponta do nariz dele.- é que ele não tem motivos para gostar de mim, eu nunca nem demonstrei que gostava dele… -dei de ombros.- Mas você, Briseis, ele te ama, e todos sabem disso.
 -Mas quem ama não tem segredos, não tem medo de contar suas aflições, alegrias e tristezas -as lágrimas haviam parado de cair mas o vermelho ainda permanecia ali. 
 -Nem ele sabia -me lembrei de tudo o que aprendi em um trabalho na escola sobre Aquiles e, de fato, ele não sabia do nascimento do filho.- Quando ele foi para a guerra, deixou a princesa Deidamia esperando um filho dele, mas ele nem sabia disso, só ficou sabendo beeeeem -prolonguei essa palavra.- depois -expliquei. 
 Nós estávamos tão concentrados na conversa que nem notamos quando Aqueles (socorro) entrou no quarto e ficou parado na porta. Sim, ele ouviu toda a conversa a partir da parte em que Briseis contava o que aconteceu depois que eu saí correndo e, o mais incrível, ninguém notou ele ali, ele era MUITO discreto. 
 Quem o viu primeiro foi Pat que logo botou uma cara grande e, depois de separar nosso abraço, se levantou e foi olhar para o lado de fora através da janela. Briseis e eu apenas viramos de costas.
 -Eu te agradeço, prima, por ter contado a verdade para Briseis e…
 -Eu não sou a sua prima -virei de braços cruzados, o encarei e virei novamente de costas. Ele respirou fundo.
 -E acho que devo explicações -ele parou e cruzou os braços. 
 -É, deve mesmo -Pat virou para ele.- Pela primeira vez, reconheça que você está errado, que você foi covarde! -Pat gritou nessa última palavra. 
 Aquiles não esboçou reação, Briseis se levantou, escorou a porta e sentou-se ao meu lado no divã, Pat parou ao meu lado e do de Briseis, me arrumei para ouvir a desculpa de Aquiles. 
 -A primeira coisa, baixe o tom Pátroclo, você não fica bem gritando -ironia…
 -E vai dizer que você não foi covarde depois que VOCÊ machucou sua própria prima?! 
 -Eu estava nervoso e a única coisa que eu menos precisava naquela hora era de uma criança vir e tentar me corrigir e, ainda por cima, gritar comigo -ele se mantinha calmo.
 Embora Aquiles e Brad Pitt fossem, praticamente, a mesma pessoa, eram completamente diferentes. Brad Pitt, o maior ator de todos os tempos, é mundialmente conhecido, é amado por milhares de fãs, tem várias admiradoras, é gentil e simpático… resumindo, incrível! Aquiles, foi um grego, matou muitas pessoas, era arrogante… querem que eu termine? Pois é, aí vocês vêem a diferença. 
 -Realmente eu perdi a cabeça e eu te devo desculpas, Safira -ele olhou no fundo dos meus olhos, dessa vez não vi raiva e nem qualquer outro sentimento, ele estava neutro.- Eu só não entendi o porquê de você ter me defendido.
 -Eu não te defendi, apenas falei a verdade -me levantei, parei na frente dele e cruzei os braços, fiquei na mesma pose que ele.- Eu gosto das coisas muito bem esclarecidas e não gosto de que comentam injustiça, até com você -ele descruzou os braços, acho que não compreendeu o que eu quis dizer. 
 Eu estava brava, com dor e não queria mais ficar ali com aquele clima tenso, parei de encara-lo e saí de lá. Desci as escadas correndo e esbarrei com Asti, quase caímos, sorte que ele me segurou.
 -O que foi, Safira? -ele me perguntou preocupado.
 Deitei a cabeça no ombro dele e chorei, ele me abraçou forte e começou a acariciar meus cabelos.
 -Eu vi o que aconteceu -fiquei a ouvi-lo.- Eu só não fui atrás de você porque seu primo já havia ido -continuei sem olhar para ele.
 Notei que Asti parou de falar, limpei as lágrimas e o olhei, achei estranho, ele estava vermelho, como se estivesse segurando a risada, intrigada, perguntei:
 -O que foi? -em seguida, me afastei, cruzei os braços e o encarei séria. Ele soltou uma risada exagerada, aquela que ele prendia.
 -Você é doida! -ele continuava a rir. 
 -Não entendi… -franzi a testa, ele riu mais ainda.
 -Você NUNCA na sua vida conseguiu segurar um segredo de Briseis e veja só… -ele se recompôs.- conseguiu esconder de que o namorado dela tinha um filho -ele piscou.- Espertinha… 
 Nessa, nem notamos o quão perto estávamos e, pela primeira vez, nem me importei, não estava com cabeça para romance.
 De repente, ouvimos uma barulheira vinda da parte de cima do castelo e Briseis surgiu correndo descendo a escada. Ela parou perto de nós, tomou fôlego e falou agoniada: 
 -Chame seu pai, Asti. Pat deu um murro em Aquiles e eles estão brigando -Asti e eu arregalamos os olhos.
 -O quê? -perguntei.
 -Vamos Asti! -Briseis bateu palmas apressando o garoto. Ela se virou para mim e pegou em minha mão.- Vamos Safira, me ajuda!

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