24° capítulo.

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Após o δείπνο (deípno/ janta), todos nós fomos para a sala de estar, como de costume. Todos estávamos cheios e mal conseguiámos andar (risos), estava pensando em, no dia seguinte, fazer algo do meu tempo para comermos, mas não falei com ninguém sobre isso, como não sei cozinhar, achei melhor não me precipitar. 
 -Gente, eu tô cheio porém, gostaria de fazer algo agora… -Ulisses falou se encostando no sofá e fechando os olhos. 
 -Já sei! -Falei me lembrando de um jogo.- Vamos jogar "stop", acho que vocês vão gostar… -eles ficaram surpresos com o nome do jogo, inglês né.
 Chamei uma das νοικοκυριά (noikokyriá/ empregadas) e lhe pedi que trouxesse vários papéis e carvão, para fazer a base do "stop". Ela veio rapidamente, eu agradeci, nesse momento todos me olharam estranhos, inclusive ela, depois me sorriu e se retirou.
 -Não precisa agradecer toda vez que ela te trouxer alguma coisa -Aquiles falou se endireitando no sofá, comecei a arrumar os papéis em cima da mesinha de centro.
 -Preciso sim, de vez enquanto é bom ouvir elogios e agradecimentos de alguém, não só críticas e ordens -falei ainda sem olhar para ele, que babaca será que é assim que ele trata todo mundo? Aff. 
 Comecei a distribuir os papéis com o carvão, um para cada um, depois expliquei: 
 -Bem, -me levantei e mostrei o meu papel para eles.- vocês vão escrever as seguintes palavras, uma do lado da outra: letra, nome, cor, animal, -pensei em algo do tempo em que estávamos.- armadura e país. Depois vão vir e dividir cada um com um tracinho -mostrei e eles fizeram direitinho. 
 Dei uma rápida explicação de como jogar e, tendo certeza que todos haviam entendido, começamos.
 A primeira letra que saiu foi "O" daí eu marquei: Odete, Ouro, Ornitorrinco, Ombreira e Omã. 
 -Omã? -Lena não havia encontrado nenhum país com "o".
 -Sim, é um país aí… -ri misteriosamente. 
 -Ok então… -ela pareceu desconfiada,, porém, riu também.
 Ao final do jogo eu tinha terminado com uns 320 pontos, acabei ganhando de Ulisses por 20 pontos e eu estava super feliz. 
 Quando acabamos e guardamos tudo Briseis e Lena me "sequestraram" até a biblioteca, temia pelo assunto que elas iam falar.
 -Safira -Briseis começou assim que fechou a porta e me pôs sentada numa cadeira.- faltam três dias para Asti, Páris e Heitor voltarem, o que você vai fazer? -Ela me encarava bem séria.
 -Por quê? Vou fazer a respeito do quê? -Era o assunto que eu queria evitar… Briseis revirou os olhos e bufou.
 -O Asti, ele ainda não sabe que você é prima dos meninos e, quanto mais cedo você contar, melhor -eu sabia que era verdade mas sabia também que, se eu contasse, correria o risco de perdê-lo para sempre.- Ele vai entender mas, se essa notícia for dada por você, ele não ficará tão bravo -assenti para Lena.
 -É, é bem melhor saber por você do que pelos outros -assenti novamente e fiquei olhando para elas, Briseis parecia confusa.- Fala alguma coisa, Safira. 
 -O quê vocês querem que eu fale? -Me levantei.- Eu não posso fazer nada por enquanto, quando eu ver ele eu penso no que irei dizer a ele… -alguém bateu na porta, Briseis foi, a abriu e, para nossa surpresa, era Pat.
 -Sem querer interromper meninas, é que eu queria pegar um livro para ler, vocês me recomendam algum? 
 Ele realmente gosta de ler, eu não quero admitir mas, acho que temos mais coisas em comum do que eu pensava... E esses pensamentos me assustavam.
 -Acho que a Safira pode te ajudar, Pat… -Lena me olhou.- não é Safira? -E me cutucou.
 -Sim, é claro -disfarcei com um sorriso simples.
 -Lena, eu me esqueci! -Briseis começou…- Vamos na cozinha, vem -ela piscou para Lena, como se combinassem algo.
 -Ah sim! Verdade, a cozinha, vamos então -espertinhas.- Com licença.
 Elas saíram do meu lado, passaram por Pat, deram um leve sorrisinho e deixaram a biblioteca. 
 -É, elas são muito discretas… -ele falou rindo.
 -Para você ver -ri também.- Bem, mas de quais livros você gosta? -Comecei a olhar as prateleiras. 
 -Ah, algum que tenha espadas, guerras, mistério… essas coisas -ele, também, começou a olhar as prateleiras. Logo me veio à mente um livro.
 Peguei uma cadeira, posicionei-a na frente da prateleira que estava o livro, subi com cuidado, peguei alguns livros e desci. Coloquei-os sobre a mesa e Pat veio para perto, depois que ajeitei a cadeira nos sentamos. 
 -Esses aqui são ótimos, são sobre príncipes que tem que atravessar metade do reino para encontrar um objeto do qual o reino depende -comecei a folhear um dos livros.- e, é claro que tem muita aventura. São três livros, acho que você vai gostar -dei de ombros.
 Ele pegou os três livros e leu a introdução de cada um, eu esperei pacientemente. 
 -Adorei, -ele voltou o olhar para mim.- obrigada. Você já os leu?
 -Eu? Sim, quem me recomendou eles foi Asti, são os preferidos dele, e meus também -sorri discretamente, ele pareceu se lembrar de algo e sua expressão mudou.
 -Vocês são muito amigos, não é? -Ele continuava me olhando.
 -Sim, quer dizer, sempre fomos muito amigos.
 -Ele já sabe que somos primos? -Então ele desviou o olhar e começou a folhear um dos livros.
 -Não, ainda não. Na verdade, eu nem sei como vou contar isso a ele -esqueci com quem estava falando.
 -É só contar, se ele for seu amigo, vai entender -ele ainda encarava o livro. 
 -Eu só espero... -abaixei o olhar, ele largou o livro em cima da mesa.
 -Safira, você não tem culpa do que aconteceu, assim como ele -o olhei.- O que aconteceu já faz muito tempo e aquela história foi nossa, não de vocês -ele pegou em uma das minhas mãos que estava sobre a mesa, a mão dele era incrivelmente macia, para um soldado.- Acho que você não deve se preocupar não… -ele se recostou na cadeira e, soltando minha mão, cruzou os braços, fiz o mesmo.
 -Eu não estou preocupada e…
 -Ah está sim! -Ele me interrompeu.- Se é verdade aquela história de que somos parecidos, então eu te conheço muito bem e sei que está preocupada.
 -Está bom vai… -acabei cedendo.- Você tem razão, -ele sorriu.- eu realmente estou preocupada mas, como você disse, se ele realmente for meu amigo, vai entender.
 -Obrigada por falar que eu tenho razão… -rimos.- Mas, será que a princesa gostaria de fazer companhia á um pobre camponês? 
 -Claro, mas onde está esse tal pobre camponês? -Ele riu.
 Nessa noite acho que conheci realmente Pat, ele era, de fato, um adolescente comum, tinha interesses iguais aos meus e sonhos a serem realizados. 
 Líamos e fazíamos comentários sobre os capítulos, a maioria engraçados. Ao terminarmos, combinamos o que iríamos fazer no dia seguinte, ele iria me ensinar a tocar Harpa e eu iria ensinar ele a tocar violão. Depois nos despedimos e cada um foi para seu quarto dormir.

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