30° capítulo.

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Subi cantarolando a mesma música, cheguei em frente a porta de Pat, apoei a bandeja no joelho com medo de que caísse e abri a porta.
 -Com licença… -falei já lá dentro.
 Me deparei com Pat no divã lendo um livro, o mesmo livro que vi de manhã, empurrei a porta com o pé e coloquei a bandeja na mesa. Ele deixou o livro de lado se sentou na cadeira, pegou a colher e a levou a boca, ele não expressou reação nenhuma.
 -O que achou? -Resolvi perguntar.
 -Maravilhoso! -Ele me sorriu.- Quem fez? 
 -Fui eu, por quê? -Me sentei ao lado.
 -Por nada, está muito bom -ele deu uma pausa para engolir.- e olha que me falaram que você não sabia cozinhar… -ele riu.
 -Mas olha, essas meninas! -Ri também.
 Depois de um tempo mastigando ele pareceu se lembrar de algo:
 -Um adolescente raivoso bateu a porta do quarto ao lado… -ele não me olhou.
 -É, eu o encontrei na cozinha.
 -E aí? -Ele continuou comendo.- O que aconteceu? Ele falou com você? -Eu não podia falar para ele sobre o beijo e sobre os meus verdadeiros, ou antigos, sentimentos por Asti.
 -Não -ocultei a ofensa. 
 -Nossa -ele me olhou.- o que está acontecendo com ele? 
 -Ah, ele só está bravo… -tentei esconder a verdade que meus olhos falavam.
 -Mas que bobagem, -ele largou a colher no prato, agora, vazio.- Só por que você é nossa prima… -não fala nada Safira, não fala...
 -É, ele ainda tem muitas mágoas.
 -É, pelo o visto sim, não é? E eu já tinha até começado a me simpatizar com ele -como?- mas, esquece…
 Como assim, Pat estava querendo interagir com Asti?! Ele nem interagiu comigo antes, quando descobriu que eu era sua prima, ele só interagia comigo para brigar, aff. Quando eu achei que não podia piorar: 
 -Sabe que, -ele apoiou o cotovelo na mesa.- eu achava que vocês se gostavam -arregalei os olhos, a vontade de gritar e sair correndo estava grande. 
 -O quê? -Arrisquei uma risada.- Não, ele era só meu amigo. Por quê você diz isso? -Será que ele viu ou ouviu algo?
 -Por nada, só o jeito que ele olhava para você, quando vocês dançaram na festa… -como Pat reparou isso?
 -Ele me olhava normalmente -dei de ombros. 
 -Ah tá bom… -ele riu e virou para mim.- Olha Safira, eu não tenho muita experiência com isso -com o quê?- mas sei que, quando um homem gosta de um mulher e quer conquistar ela, faz isso com o olhar -eita! Ele sabe mais do que as pessoas que estão por dentro dos acontecimentos.
 -Ah Pat, deixa de bobagem -peguei o prato dele, levantei e fui até a porta.- Vou levar isso…
 -Não acredito que você está brava! -Ele caiu na risada.
 -Eu não estou brava! -Falei que não mas eu realmente estava, depois ri e saí. 
 Deixei as coisas na cozinha e, quando estava passando pela sala, o pessoal retornou. 
 -Oi Safirinhaaaaa -Páris correu até mim e me girou.
 -Oi bobão -falei rindo.
 Notei que Heitor era o único que não ria, estava com um olhar triste, para baixo, ele logo se sentou no sofá, Andrômaca falou algo, que não consegui ouvir e subiu. 
 -Ele está assim por conta de Asti… -Levei um susto quando Lena falou, eu não esperava, foi até engraçado (risos).
 -Mas o que aconteceu? -Me virei para ela, eu tive que falar um pouco baixo.
 -É que hoje… -o pessoal começou a rir de uma palhaçada que Briseis fez.- todos nós fomos checar a guarda e Asti implicou com ele.
 -O que Asti fez? -Me aproximei mais para não precisar aumentar o tom de voz. 
 -Heitor foi declarar o novo guarda chefe e ele disse que não concordava com o moço, que quem deveria ser o guarda chefe era para ser um tal de… -ela fez um esforço para se lembrar.- Lemo, e Heitor falou que não tinha nenhum guarda com esse nome lá, daí Heitor mandou ele vir para cá pois não iria aturar mais as rebeldias dele. 
 -Nossa! -Lena olhou para um lado, depois para o outro e falou:
 -O mais estranho é que seu primo -ela apontou discretamente para Aquiles.- ficou super estranho quando falaram o nome desse tal guarda. 
 -Como estranho? -Então nos sentamos em um sofá mais afastado. 
 -Ele ficou tenso, quis até mudar de assunto e não falou muito depois disso. 
 Será que Lemo é quem eu estou pensando? 
 -Nossa, mas vocês viram esse tal guarda?
 -Então, aí é que está… ninguém o conhece e nem há registros dele.
 -Ué… -falei e olhei para Aquiles, ele realmente estava estranho. 
 De repente, Páris falou que ia tomar banho, puxou Lena pelo braço, brincando com ela e subiu. Ulisses também foi e só ficamos, Heitor, Aquiles, Briseis e eu na sala. 
 Olhei para Heitor, ele estava apoiando a cabeça no braço do sofá com os olhos fechados, Brises e Aquiles se sentaram ao lado. 
 -Não fique assim primo, -Briseis tentou animá-lo, ele a olhou.- todos os adolescentes são assim.
 -Jura é… -ele riu tentando se mostrar bem.
 -Sim -ela pareceu se lembrar de algo.- você não lembra de nós, Páris, você e eu? Nós virávamos esse castelo de ponta cabeça, deixávamos a tia Hécuba louca -eles riram.
 -É verdade… -eles deram as mãos.- obrigada prima -ele sorriu e ela retribuiu. 
 De repente vimos Asti descendo, ele fingiu não nos ver, Heitor pôs cara de bravo, ninguém falou mais nada, ele passou por nós e saiu pela porta da frente. Comecei a cutucar o canto da unha, olhei para Briseis e ela pareceu  estar querendo soltar alguma coisa, e soltou: 
 -AH! Não aguento mais -ela levantou, os meninos olharam para ela espantados.- Chega, eu vou é comer, não aguento mais tanto clima tenso e briga! -Quase ri.- Um pedaço de bolo! -Ela gritou.
 -Bolo aqui, gente!- Gritei de modo que alguma οικονόμος (oikonómos/ empregada) ouvisse, não aguentei e ri.
 Aquiles e Heitor começaram a rir muito quando chegaram com um pedaço enorme de bolo.
 -Vai estragar o δείπνο (deípno/ janta) -falou Heitor parando um pouco de rir. 
 -Não estou nem aí… -Briseis já estava com a boca cheia, rimos de novo.
 Após o episódio com o bolo, eles subiram para tomar banho, fiz o mesmo e, em seguida, todos foram para a sala de jantar. 
 No nosso menu tivemos uma espécie de sopa, todos adoramos, estava realmente uma delícia, todos menos Asti que nem sequer apareceu. Uma οικονόμος (oikonómos/ empregada) nos disse que, enquanto estávamos lá em cima, ele retornou, comeu e saiu de novo, ela só não sabia informar para onde ele havia ido, e isso nos preocupava. 
 Quando todos acabamos, Aquiles e Briseis levaram o δείπνο (deípno/ janta) de Pat, eu não fui junto, em vez disso, fiquei conversando com Lena sobre os planos que Briseis tinha, ela me disse que não sabia de nada, mas se, era Briseis quem estava falando, deveria ser um bom plano.  
 Enquanto conversávamos, notei que Heitor, Páris e Ulisses estavam meio que em uma "panelinha" só deles em um canto da sala, estavam até cochichando.
 -Olha lá que fofoca dá cinco voltas mas em cinco minutos chega ao ouvido de quem ela não quer… -brinquei, eles se assustaram.
 -Ah, como ela está engraçadinha hoje -Páris riu olhando para mim.- Muito bem, o que você quer saber? -Ele se recostou no sofá.
 -De nada, se vocês não querem contar, não precisa, não vou obrigá-los -fiz drama. 
 -Nossa! -Ulisses falou rindo.- Tá bom, amanhã teremos uma surpresa -olhei para Lena e ela para mim.
 -Que surpresa? -Perguntamos em coro.
 -Se contarmos deixará de ser surpresa, não é? -Heitor piscou para mim, ri e deixei escapar um bocejo, eu realmente estava exausta.- Ah é, já é hora de uma mocinha estar na cama.
 -Ah não… -bocejei novamente e ele riu. 
 -Vamos lá, eu te levo -Lena já estava de pé.
 -Não precisa, -me levantei e espreguicei.- pode ir descansar, sei que todos estão cansados… -fui andando em direção a escada.- Καληνύχτα (Kalinýchta/ Boa noite).
 -Καληνύχτα (Kalinýchta/ Boa noite) -eles responderam e eu subi para meu quarto.
 Passei pelo quarto de Pat, ouvi risadas e notei que a porta estava entreaberta, bati e a empurrei:
 -Pat, como você está? -Me deparei com Aquiles, Briseis e ele sentados em almofadas no chão.
 -Estou bem, entre… -ele fez sinal me motivando com a cabeça.
 -Não, obrigada, já vou dormir -permaneci no mesmo lugar, bocejei novamente.- Só vim saber se você está bem mesmo, agora que vi que sim, estou mais tranquila -Briseis olhou para Aquiles e praticamente falava com os olhos, não tive escolha…
 -Obrigada por hoje, Aquiles -não sorri.
 -Pelo o quê? -Ele me olhou.- Eu só não quero que as pessoas próximas a mim se machuquem -Briseis bateu com a palma da mão na testa.
 -Nossa, como o orgulho fala alto, né Pat? -Ela olhou para Pat, ironicamente, ele balançou a cabeça em concordância.
 -Ah, tô indo… Tchau -mudei de assunto e saí rapidamente. 
 Não é que eu não queira me passar de "durona" nem nada disso, eu só quero um tempo para pensar. O dia de hoje foi muito conturbado para tentar criar laços com alguém que não tem interesse algum em criar laços comigo. Simples. 
 Fui até a porta do meu quarto e, quando a estava abrindo, Asti passou pelo corredor, foi até o quarto dele, que era de frente para o meu, não me disse nada, destrancou o quarto, entrou e o fechou novamente.
 Não liguei, como Briseis recomendou, entrei, tranquei a porta do meu quarto, coloquei meu pijama, deitei em meio aos meus travesseiros e fui tentar dormir.

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