50° Capítulo.

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Dormi muito bem, comparada às outras noites. Tive vários sonhos com Leia e, em todos eles, me dizia:  Cuidado com eles e, apenas diga a Pat que o amo. Acordei umas dez horas, atordoada com tais pensamentos. 
 Pensei em tudo o que eu estava vivendo e decidi, por fim, que iria contar sobre o casamento de Asti para os pais dele, eu estava pouco me importando se ele iria me odiar por todo o sempre, no fundo, era o que eu queria, manter Asti longe. Ele iria se casar e não era justo deixá-lo preso a mim ou, eu presa a ele. 
 Tomei meu rápido banho lavando meus cabelos, coloquei um vestido azul escuro (de acordo com meu humor) e deixei meus cabelos loiros soltos. Olhei-me no espelho e notei que, além de mais magra, estava um pouco mais alta, não me importei. As manchas no meu braço estavam mais claras, deixei-as à mostra mesmo e desci. 
 Me surpreendi ao ver todos sentados em silêncio na sala. Asti estava sentado entre os pais e nem olhou para mim, apenas ficou com a cabeça baixa. 
 -Por quê o silêncio? -perguntei me fingindo de madura. 
 Asti sabia que a melhor arma contra mim era o silêncio, eu odiava que ficassem sem falar comigo. 
 -Bem, Safira -Bri começou a falar.- Nós todos sonhamos com Leia.
 -Eu também sonhei com ela -respirei profundamente e me sentei no braço do sofá ao lado de Lena.
 -Pois é, -Bri continuou.- Páris teve a idéia de irmos na "Floresta das Nuvens".
 -Como assim? -perguntei, eu realmente nunca havia ouvido falar neste lugar.
 -Quando éramos pequenos, Heitor, Páris e eu íamos sempre nesta floresta. Meus tios contavam a lenda daquela floresta e isso sempre nos encantou. 
 -E, -falei olhando para os três primos.- qual é a lenda? 
 -Bem, -Heitor se preparou para contar.- falam que se você for nessa floresta e ficar nela por alguns minutos em silêncio, conseguirá ouvir a voz dos seus antepassados e, estes, falarão do seu futuro.
 -Entendi, -falei arrumando minha postura.- vocês querem ir para lá para ver o que Leia irá contar, acertei?
 -Sim, -Páris continuou.- vamos agora, só estávamos esperando você acordar, depois iremos tomar o café lá. 
 -Tudo bem -concordei. 
 O clima estava horrível, e não era só o ambiente, o clima em si, parecia que ia cair uma tempestade. Heitor falou que aquele clima era o ideal para irmos a floresta pois ela ficaria isolada e assim seria mais fácil o diálogo.
 Depois de uma longa caminhada escoltada por guardas, entramos na tal floresta. As folhas das árvores caíam de tal modo que parecessem imensas cortinas verdes. O bosque se chamava "Floresta das nuvens" pois, ao amanhecer, um nevoeiro cobria a mesma e, quem passava por ela, tinha a sensação de pisar nas nuvens. 
 -Vamos lá então, né -falei sem o ânimo cotidiano.- É para ficarmos parados?
 -Sim, Safira -Páris falou.- Todos tem que fazer isso. Quem conseguir ouvir Leia, depois nos conte o que ela disse, ok?
 -Sim -todos concordamos em coro. 
 Fechamos os olhos e ficamos parados prestando atenção em cada som, os pássaros, o vento, as abelhas, tudo. Senti as folhas caindo sobre meus ombros que, ao mesmo tempo, se misturava junto com um vento, então o som das coisas simples do campo sumiu dando lugar ao som de risadas, buzinas de carros antigos, músicas, espadas batendo uma nas outras e então, depois de tudo isso, consegui "visualizar" Leia. Ela ria correndo em um campo e parou bem na minha frente. 
 -Safira, -ela falou com um sorriso.- eu fui embora mais cedo do que eu realmente gostaria, eu queria ter ficado e construído minha família ao lado de Pat, mas tudo bem, estou muito feliz onde estou… 
 -Eu sonhei com você, Leia -falei. Por algum motivo, consegui me conectar com ela. 
 -Você já imaginou de onde vem os seus sonhos? Olhe em volta -de repente, o lindo campo deu lugar à Tróia, mas me refiro a antiga Tróia, aquela em que tudo era feliz.- Você sonha com essa cidade desde sua primeira viagem, estou certa? -concordei com a cabeça.- Então, agora você sabe a razão, você é parte disso -ela apontou ao redor, girou e voltou o olhar para mim, só que mais séria.- Por isso, você tem de salvá-lo. 
 -Como? Salvar do quê? -perguntei, ela se aproximou, pôs as mãos em meu rosto, consegui sentir isso, e me deu um sorriso.
 -Você saberá no momento certo -ela piscou e saiu correndo na paisagem que acabara de voltar a ser o lindo campo. 
 Abri os olhos por instinto e olhei ao redor, Pat sorria assim como Heitor. Me sentei sobre a grama, fiquei a observá-los e deixei que eles curtissem as memórias deles, assim como eu curti as minhas.
 Eles abriram os olhos todos no mesmo momento e se entreolharam, depois me notaram sentada na grama.
 -Você falou com ela, prima? -Pat se aproximou e sentou-se do meu lado.
 -Falei sim -respondi mais aliviada. 
 -O quê ela disse? -Lena se sentou do lado contrário ao de Pat (mas, ainda do meu lado).
 -Que gostaria de ter ficado mais por aqui, de ter construído uma família com Pat, mas estava feliz onde ela estava -todos prestavam atenção em mim.- Falou também que, os sonhos que eu tinha com Tróia lá no meu mundo, eram porque eu faço parte disso e disse que eu deveria salvá-lo.
 -Mas salvá-lo do quê, ela te disse? -Ulisses estava realmente curioso, assim como todos ali.
 -Não, mas disse que eu saberia no momento certo -notei que meus primos trocaram outro olhar.
  Aquiles estendeu a mão para Pat, como se o convidasse para levantar. O garoto levantou e parou de pé ao lado do primo. Eles foram até onde tínhamos deixado as bolsas e pegaram suas espadas, nós levantamos rapidamente.
 -O que é isso, amor? -Briseis perguntou sem entender nada, assim como nós.
 Aquiles respirou fundo, deixou o seu posto deu alguns passos para trás e gritou: 
 -Podem vir! -depois retornou ao seu posto, ao lado de Pat. 
 Ao término de sua fala, vários soldados gregos surgiram de todos os lugares, Agamenon e Menelau apareceram dando altas gargalhadas. Eu não acredito que eles fizeram isso.
 -Olha só para vocês... -Agamenon ainda ria. 
 -Elas estão tremendo igual porcos antes do abate -Menelau continuou a fala do irmão. 
 Olhei para Bri e Lena e, de fato, elas tremiam. Briseis estava em choque, acho que estava querendo sair correndo e gritando dali. 
 -É, eu te ofereci uma oportunidade, Ulisses, mas você não quis nem saber -Agamenon começou, Ulisses o encarou com a raiva evidente em seus olhos.- Eu te dei uma chance, Heitor, mas você a desperdiçou. 
 Pátroclo ficou todo o tempo com a cabeça baixa ao contrário de Aquiles que nos olhava nos olhos. Agamenon estava muito feliz igual ao irmão, Menelau, que não parava de encarar Lena. Reparando isso, Páris a puxou para perto dele, Menelau riu para os dois, debochando deles. 
 -Eu não compreendo… -Briseis falou com os olhos brilhando, querendo chorar. 
 -É simples, minha cara -Agamenon falou cruzando os braços e encarando Briseis por baixo.- Agora vocês são minhas servas e os meninos irão ser parte do meu exército, caso contrário, vão morrer. 
 Heitor, que estava abraçado com Andrômaca e com Asti, me puxou para perto dele, como se me falasse: “Fique calma, estou aqui e nada de ruim irá acontecer com você.” Briseis saiu de perto de nós e andou até Aquiles parando bem na frente dele.
 -Como você pôde? -ele a encarou.
 -Eu escolhi meu lado, Briseis -ela não gostava que ele a chamasse pelo nome.- Agora, você escolha o seu. 
 Não sei o que Briseis pensou, ela levantou a mão para Aquiles e, antes que ela desse um tapa nele, o mesmo segurou seu braço e gritou:
 -Guardas! -ele a empurrou e ela caiu, Ulisses correu para ajudá-la.- Levem eles para o acampamento, agora! 
 Os guardas não contestaram tal ordem e, depois de amarrar nossas mão e pés, nos colocaram nas bigas. Indo para o acampamento de Agamenon, vimos os guardas que nos escoltaram caídos no chão, aparentemente mortos. Era uma cena terrível.
 Chegando lá, os guardas nos colocaram em um barco que era uma espécie de prisão, o mesmo barco que eu vi antes. Por dentro, era todo sujo, havia um pote com água e um buraco pequeno que servia como janela, além da “porta” que eles haviam aprimorado.
 Nós nos sentamos no chão, que não passava de uma areia quentinha e macia, cada um mais perplexo que o outro. Lena estava apoiada no ombro de Páris chorando muito, Heitor tentava acalmar Andrômaca, Asti e Ulisses estudavam um jeito de fugir e eu estava sentada escorada numa das paredes do navio com Briseis deitada ao lado muda, ela não falava nada, nem ao menos soluçava para indicar que estava chorando.

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