51° Capítulo.

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Depois de sete horas de isolamento total com o mundo exterior e de muita fome, alguém começou a destrancar a porta, quando ela se abriu, Pátroclo entrou. Eu estava com tanta raiva que não consegui me conter e parti para cima dele, até parece que eu, com toda a minha "altura", iria conseguir acertar o queixo dele (risos). Ulisses e Asti, que estavam mais perto, correram e me seguraram, Pátroclo recoou um tanto assustado.
 -O que veio fazer aqui? -perguntei debochada.- Veio ver se tudo está correndo como vocês queriam? -os meninos ainda me seguravam. Todos se levantaram, até Briseis.
 -Vocês não entenderiam se eu contasse -ele pareceu aflito.- Eu não tive escolha, infelizmente, tive que concordar com isso e…
 -O quê está acontecendo aqui? -Aquiles chegou, empurrando mais a porta e cortando a fala do primo. 
 Os meninos me soltaram e encararam feio os que, antes, eu considerava como meus primos. 
 -Parabéns -bati palmas.- Vocês conseguiram o que queriam -Pátroclo abaixou a cabeça e Aquiles continuou nos encarando friamente.- Vocês traíram a confiança de quem vocês diziam ser "amigos" e conseguiram ganhar espaço no coração de uma trouxa aqui -apontei para mim. 
 -Ah menina! Pare com esse showzinho, vai… -Aquiles bufou e cruzou os braços, ri ironicamente. 
 -Não precisa andar sempre à sombra dele, faça você mesmo seus passos e escolha qual caminho você irá seguir -falei olhando para Pat, reparando que, qualquer coisa que eu fosse dizer a Aquiles, seria em vão.- Saiam daqui… -virei de costas e, depois de algum tempo, ouvi a porta se fechar. 
 Não resisti e comecei a chorar. Asti veio e me abraçou, eu estava brava com ele mas não resisti ao seu abraço que, por fim, acabou me acalmando.
 -Bem que Leia me avisou, “não confie neles”, como eu fui idiota! -falei escondida em seus braços.
 -Não pense assim, Safira. Pode ser que Agamenon os ameaçou e eles não tiveram escolha. 
 -Não Asti, aposto que sim -o olhei nos olhos.- É só que, velhos hábitos nunca morrem -dei de ombros.- Você tentou me avisar e eu não quis ouvir, me desculpe...
 Asti, apenas balançou a cabeça e negação e, sem ter mais palavras para me consolar, me abraçou mais forte ainda.
 Passando-se alguns minutos, a porta tornou a ser aberta só que, dessa vez, por Lemo. Ele estava com uma cesta cheia de frutas e a colocou no chão. Ninguém queria ir pegar comida e todos estavam morrendo de fome, assim como eu. Resolvi tomar a iniciativa, então fui e peguei uma μήλο (mílo/ maçã). Um por um foram indo e pegando uma fruta, menos Briseis, que permanecia imóvel. 
 -Safira, -Neoptólemo me chamou.- me acompanhe, Agamenon quer te ver, menina. 
 -Como se eu tivesse escolha… -dei de ombros.
 Fui até Neoptólemo, ele amarrou minhas mãos e me conduziu pelo ombro até o barco onde Agamenon estava.
 Chegando lá, vi ele sentado em seu trono e Menelau e meus "primos" do lado dele, Neoptólemo não me desamarrou e logo se juntou ao pai. Agamenon estava muito bem vestido, usava muitas jóias de ouro e das mais diversas pedras. Ele olhou para mim, deu um risinho debochado (o mesmo riso que ele deu para Aquiles no início do filme) e me falou calmamente: 
 -Como você é inocente, pobre criança… Achou mesmo que eles chegaram a gostar de você? -ele riu novamente.- Não, sua tola.
 -Acabou? -o encarei com raiva e ele se levantou. 
 -Você se acha, não é? Afinal, você veio do futuro, é a protegida de Tróia, é prima desses dois grandes soldados…
 -Não -o interrompi.- Se em algum momento eu disse isso, foi por impulso, eu não sou mais prima deles, eu nunca fui -os encarei furiosa e voltei meu olhar para Agamenon que começou a rir.
 -O quê? Você está tristinha? -ele quis pôr a mão na minha cabeça para fazer uma espécie de "carinho", só que não, mas eu não deixei.- Que boba... Mas não te chamei aqui para ouvir você desabafar.
 -E foi para quê? -eu mantinha a cabeça erguida e a voz firme embora, por dentro, eu estivesse gritando.
 -Para te propor um acordo -ele cruzou os braços e começou a me rodear.- Você se curva a mim entregando, assim, o reino de Tróia e aqueles babacas que estão presos, e ninguém sairá ferido. 
 -Ah… -ri debochada.- Acha mesmo que vai me convencer? Acho que o babaca aqui é você -dei de ombros.
 Agamenon, é claro, se ofendeu e logo sacou a espada furioso, Menelau e Neoptólemo fizeram o mesmo.
 -Se curve, antes que eu perca a paciência! Agora! -ele levantou a espada em minha direção, pronto para atacar. 
 -Eu já disse e, não importa quantas vezes você perguntar, minha resposta sempre será não.
 Agamenon começou a ficar vermelho, uma veia em sua testa começou a pular e eu podia ver claramente que ele queria me matar com as próprias mãos e, fazer isso, não custaria nada a ele.
 -Então se curvará em pedaços! 
 Ele levantou a espada e, naquele momento, percebi que nunca mais estaria ali novamente, ou em algum outro lugar. 
 Fechei os olhos e lembrei de minha casa, de minha mãe, de meu pai, minhas amigas, de uma época onde tudo era tranquilo, mas eu achava que era muito corrido. Tropecei caindo de joelhos e já tinha dado tudo por perdido quando:
 -Não! -alguém gritou e ouvi duas lâminas se enfrentando.
 Olhei para ver quem era o meu "salvador" e, imaginem só, era Aquiles. Ele havia desarmado Agamenon que o olhava confuso. Pátroclo correu e me levantou, me afastei bruscamente dele. 
 -O quê é isso, Aquiles? -Agamenon se recompôs e limpou o sangue que estava no canto de sua boca (com certeza a ponta da espada tinha batido ali.
 -Vamos, pelo o menos, seguir o seu plano -o "rei" pareceu se convencer.
 -Levem-na daqui -ele deu de costas e foi até seu trono.- Mas -ele advertiu e se virou novamente.- de amanhã isso não passa.
 Pátroclo pegou em meu braço de leve e me conduziu para fora, Aquiles veio logo atrás. Durante o percurso de volta para a prisão, os meninos começaram a falar entre eles: 
 -Temos que ter cuidado, essa foi por muito pouco, -Pátroclo pareceu preocupado.- ela é nossa prima!
 -Eu sei, por isso intervi antes que ele fizesse aquilo -Aquiles revirou os olhos. 
 O loiro parou de andar e, automaticamente, paramos também. Ele andou até mim e ajoelhou bem na minha frente, possivelmente tentando ficar do meu tamanho (aff, risos). 
 -Você está bem? -ele olhou em meus olhos, desviei os meus dos dele.
 -Como se você se importasse… -dei de ombros. 
 Aquiles virou meu rosto, fazendo-me olhar para ele, desfez o laço que amarrava minhas mãos e falou-me: 
 -Vá, corra o mais rápido que puder -ele permanecia tranquilo.- Só pare quando estiver em tróia, assim que você entrar lá, procure os mirmidões, fale para eles se prepararem para a luta e arrume um jeito de voltar para seu mundo…
 -O quê? -o interrompi.- Não vou deixar minha família aqui à mercê de vocês. 
 Eles se entreolharam e deram risada, na hora, senti raiva por rirem de algo tão sério, cruzei os braços e revirei os olhos.
 -Me desculpe, -Pátroclo recompôs o fôlego.- mas é muito bom falar com você… -então eles me abraçaram, um abraço qual eu não retribuí. 
 Fiquei imóvel, eles repararam minha frieza e se afastaram. 
 -Ô menina teimosa em… -Aquiles tentou bagunçar meu cabelo mas segurei sua mão. 
 -Não toque em mim -o encarei no fundo dos olhos.- Você perdeu esse direito a muito tempo e, se me dêem licença, vou voltar para minha cela… -eu, simplesmente, me virei e fui andando até a “prisão” escura e suja, mas onde haviam pessoas que realmente me amavam e quem eu podia confiar.

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