-Eu também te amo, mas eu realmente tenho que te contar o que está acontecendo, isso é muito sério… -ouvimos um bochicho vindo da sala e, de repente, Pat abre a porta com violência, ele parecia muito aflito.
-Prima, está havendo uma invasão dos gregos e… -Pat parou ao reparar a cara de espanto de Asti.
Estava feito, no mesmo instante em que Pat falou prima, Asti mudou sua expressão de preocupação para raiva, ódio, dúvida. Uma fúria que eu jamais podia desconfiar que existia nele.
-Como assim "prima"? -Ele se levantou, fiz o mesmo e Pat escorou a porta.
-Deixa eu explicar Asti… -meu nariz começou a coçar e a vontade de chorar estava grande.
-Eu só vou te fazer três perguntas -ele me interrompeu e olhou bem fundo nos meus olhos.- A primeira, você é prima do -ele falou com nojo.- Pátroclo e do Aquiles? -Assenti com a cabeça, ele respirou fundo.- A segunda, você -ele praticamente berrou.- me contou sobre isso? -Fiz que não com a cabeça, meus olhos encheram d'água.- e a última, você acha mesmo que eu quero ser seu amigo? -Não aguentei e desabei no choro.
-Espera Asti! Deixa eu te explicar… -segurei ele pela mão, ele se soltou violentamente e saiu pela porta esbarrando em Pat.
Naquele momento não pensei em mais nada, a não ser em como eu poderia fazer as pazes com Asti. Passei pela porta e, antes que eu pudesse segui-lo, Pat me segurou pelo braço delicadamente e olhou nos meus olhos:
-Calma Safira, deixe ele um pouco sozinho, precisa colocar as idéias no lugar -me soltei brava dos braços de Pat.
-Me deixa em paz! -Falei em um tom alto.- Você não acha que já causou muitos estragos em minha vida? -Ele me olhou com tristeza, eu sabia que o que ele dizia era verdade mas, naquele momento, só pensava em Asti.
Saí correndo dali, todos ainda estavam na sala e um soldado estava lá conversando com Heitor, acho que por conta da invasão. Com certeza eles ouviram toda a briga, nem liguei, saí correndo em direção onde Asti passou.
Depois de muito correr, o alcancei no estábulo, segurei em suas mãos o parando:
-Asti, deixa eu explicar o que aconteceu -ele não se mexeu e nem me olhou.- eu não sabia que eles eram meus primos, você sabe que eu te contaria se soubesse…
-A questão, Safira, -ele me interrompeu.- é que você já sabia, desde sei lá quantos dias, eu tenho CERTEZA -ele continuou sem olhar pra mim e deu um sorrisinho.- Sabe o que é pior? Você é igual a eles -aquilo me atingiu como facas ultrapassando meu peito.
-Não fale isso, você não sabe o que eu passei -larguei a mão dele e ele se virou, dessa vez, olhando para mim.
-É, você é sim. Me fez até me apaixonar por você, com eu fui IDIOTA! -Ele alterou o tom de voz.
-Ma...mas eu realmente te amo Asti, você sabe...
-Mas eu não -ele cortou minha fala, por um momento, achei que ele estava brincando.
-Mas você disse que me amava agora a pouco e, na biblioteca, você me beijou -o olhei bem fundo nos olhos procurando aquele velho Asti, mas só vi ódio, raiva e uma sombra negra que cobria os seus olhos azuis.
-Aquele beijo foi o pior da minha vida, foi horrível -levei as mãos a boca e me afastei.- Você realmente acha que eu gosto de você? Se toca garota! Você é a prima do cara que matou meu pai! Acha que eu realmente teria algo com você? NUNCA, só quis dar uns beijos mesmo… -eu não acredito que ele disse isso. A raiva subiu a minha cabeça, como assim só para dar uns beijinhos? Ele sabia que eu não sou dessas.
Não pensei duas vezes, levantei a mão e dei um tapa nele que, provavelmente, doeu mais nele que em mim. Com o impacto, ele virou a cabeça para o lado, quando virou de novo para mim, ele estava furioso então, ele segurou-me pelos ombros e me deu um chacoalhão enquanto dizia:
-Nunca mais fale comigo, ENTENDEU?! -Ele alterou a voz.
Fiquei assustada com ele, eu nunca havia o visto daquele jeito. Ele só me soltou porque, quando terminou de falar, Páris e Ulisses chegaram. Praticamente, ele me jogou para o chão, mantive o equilíbrio e, com muita raiva, ele montou no Trovão e saiu.
Páris correu e me virou para ele, eu chorei mais ainda e ele me abraçou.
-O que foi Safira? -Ulisses perguntou quando se aproximou e começou a acariciar meu cabelo.
-Eu contei á ele -respondi em meio a soluços, ainda estava abraçada com Páris.
-Eu não esperava essa reação dele, realmente eu não sei o que aconteceu… -e um estrondo se ouviu do outro lado da muralha, eles olham nessa direção atentos.- Vamos entrar Safira, é mais seguro, -o olhei e não precisei dizer nada, ele apenas respondeu:- Vou mandar um guarda atrás dele, fique tranquila -e me sorriu.
Em seguida entramos, nem liguei para quem estava na sala -todos estavam lá- apenas subi para meu quarto. Lena e Briseis correram em minha direção tentando me acompanhar até o quarto.
Abri a porta de meu quarto com tudo, nem liguei para fechar, debrucei-me na cama, as meninas entraram e se sentaram ao meu lado.
-É, pelo jeito a conversa não foi tão boa assim né? -Lena acariciava meu cabelo.
-Foi horrível! -Decidi que tinha que desabafar, então endireitei-me.- Eu dei um tapa nele, -elas fizeram expressão de surpresa.- porque ele falou que só queria "dar uns beijinhos" e pronto, não queria nada sério -enxuguei as lágrimas com as costas das mãos.- Ele apertou meu braço e me chacoalhou, não sei como não caí… -debrucei-me novamente.
-Nossa… realmente foi horrível, Safira. Eu nunca vi Asti assim, -Briseis parecia sincera.- nem sabia desse temperamento dele, que horror.
-Mas fica calma Safira, acho que ele só está de cabeça quente, não que isso seja desculpa. Quer que a gente fale com Andrômaca ou Heitor? -Me levantei rapidamente ao ouvir Lena falar isso.
-Nem pensar! Afinal, o que eles vão fazer? Não quero que ninguém goste de mim por obrigação -me sentei novamente e agarrei um travesseiro.
Outra vez ouvimos um estrondo vindo do outro lado da muralha só que, dessa vez, foi mais alto. Briseis levantou e foi espiar a janela, ela não fez uma cara boa, depois voltou e se sentou novamente ao meu lado. Notei que ela e Lena trocaram um olhar diferente, pareciam me esconder algo, então perguntei:
-O que foi que aconteceu? -Elas não conseguem esconder nada de mim por muito tempo mesmo…
-É Pat, ele ficou muito bravo com o que aconteceu… -Briseis começou mas passou a palavra a Lena, isso não é bom.
-Ele falou que você tinha razão, que ele só atrapalhava os outros, que ele não devia ter voltado e que queria dar um jeito nisso -me atentei ao que elas falavam.
-Sim, daí ele pegou e saiu correndo para os portões, Aquiles e Heitor estão se preparando para ir para lá, se já não foram -não acredito, ele vai fazer bobagem.
As meninas pensaram o mesmo, revirei os olhos sem acreditar no que havia acontecido e levantei-me, elas fizeram o mesmo.
-O que você vai fazer Safira? -Briseis parecia preocupada.
-Eu vou dar um jeito nisso, eu só falei aquelas coisas em um momento de raiva, foi sem…
-Sem pensar -Briseis completou e ela me olhou mais preocupada.- Safira, o Pat faz isso, assim como você, ele é muito impulsivo.
Ah, isso é sério? Será que eu não sei que esse garoto é impulsivo?! É claro que eu sei e, pela primeira vez vou admitir que sim, sim, naquele dia eu estava agindo como ele.
-Está bem, não vamos discutir isso agora -fui em direção a porta.- Vocês me ajudam?
-Claro! -Responderam elas em coro.

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𝔼𝕞 𝕞𝕖𝕦 𝕞𝕦𝕟𝕕𝕠...
Fiction HistoriqueSafira é uma garota de dezesseis anos e que tem uma rotina bastante normal. Nas suas férias de julho, em uma noite, ela resolve assistir seu filme preferido: Tróia (2004), quando algo diferente acontece e ela entra para dentro do filme. Tudo no fi...